segunda-feira, 29 de abril de 2013

Arremesso de objetos.

87. As manifestações espontâneas nem sempre se limitam a ruídos e pancadas. Degeneram, por vezes, em verdadeiro estardalhaço e em perturbações. Móveis e objetos diversos são derribados, projetis de toda sorte são atirados de fora para dentro, portas e janelas são abertas e fechadas por mãos invisíveis, ladrilhos são quebrados, o que não se pode levar à conta da ilusão.
Muitas vezes o derribamento se dá, de fato; doutras, porém, só se dá na aparência. Ouvem-se vozerios em aposentos contíguos, barulho de louça que cai e se quebra com estrondo, cepos que rolam pelo assoalho. Acorrem as pessoas da casa e encontram tudo calmo e em ordem. Mal saem, recomeça o tumulto.
88. As manifestações desta espécie não são raras, nem novas. Poucas serão as crônicas locais que não encerrem alguma história desta natureza. E fora de dúvida que o medo tem exagerado muitos fatos que, passando de boca em boca, assumiram proporções gigantescamente ridículas. Com o auxílio da superstição, as casas onde eles ocorrem foram tidas como assombradas pelo diabo e daí todos os maravilhosos ou terríveis contos de fantasmas. Por outro lado, a velhacaria não consentiu em perder tão bela ocasião de explorar a credulidade e quase sempre para satisfação de interesses pessoais. Aliás, facilmente se concebe que impressão podem fatos desta ordem produzir, mesmo dentro dos limites da realidade, em pessoas de caracteres fracos e predispostas, pela educação, a alimentar idéias supersticiosas. O meio mais seguro de obviar aos inconvenientes que possam trazer, visto não ser possível impedir-se que se dêem, consiste em tornar conhecida a verdade. Em coisas terríficas se convertem as mais simples, quando se lhes desconhecem as causas. Ninguém mais terá medo dos Espíritos, quando todos estiverem familiarizados com eles e quando os a quem eles se manifestam já não acreditem que estão às voltas com uma legião de demônios.
Na Revue Spirite se encontram narrados muitos fatos autênticos deste gênero, entre outros a história do Espírito batedor de Bergzabern, cuja ação durou oito anos (números de maio, junho e julho de 1858); a de Dibbelsdorff (agosto de 1858); a do padeiro das Grandes-Vendas, perto de Dièppe (março de 1860); a da rua des Noyers, em Paris (agosto de 1860); a do Espírito de Castelnaudary, sob o título de História de um danado (fevereiro de 1860); a do fabricante de São Petersburgo (abril de 1860) e muitas outras.
89. Tais fatos assumem, não raro, o caráter de verdadeiras perseguições. Conhecemos seis irmãs que moravam juntas e que, durante muitos anos, todas as manhãs encontravam suas roupas espalhadas, rasgadas e cortadas em pedaços, por mais que tomassem a precaução de guardá-las à chave. A muitas pessoas tem acontecido que, estando deitadas, mas completamente acordadas, lhes sacudam os cortinados da cama, tirem com violência as cobertas, levantem os travesseiros e mesmo as joguem fora do leito. Fatos destes são muito mais freqüentes do que se pensa; porém, as mais das vezes, os que deles são vítimas nada ousam dizer, de medo do ridículo. Somos sabedores de que, por causa desses fatos, se tem pretendido curar, como atacados de alucinações, alguns indivíduos, submetendo-as ao tratamento a que se sujeitam os alienados, o que os torna realmente loucos. A Medicina não pode compreender estas coisas, por não admitir, entre as causas que as determinam, senão o elemento material; donde, erros freqüentemente funestos. A história descreverá um dia certos tratamentos em uso no século dezenove, como se narram hoje certos processos de cura da Idade Média.
Admitimos perfeitamente que alguns casos são obra da malícia ou da malvadez. Porém, se tudo bem averiguado, provado ficar que não resultam da ação do homem, dever-se-á convir em que são obra, ou do diabo, como dirão uns, ou dos Espíritos, como dizemos nós. Mas de que Espíritos?
90. Os Espíritos superiores, do mesmo modo que, entre nós, os homens retos e sérios, não se divertem a fazer charivaris. Temos por diversas vezes chamado aqueles Espíritos, para lhes perguntar por que motivo perturbam assim a tranqüilidade dos outros. Na sua maioria, fazem-no apenas para se divertirem. São mais levianos do que maus, que se riem dos terrores que causam e das pesquisas inúteis que se empreendem para a descoberta da causa do tumulto. Agarram-se com freqüência a um indivíduo, comprazendo-se em o atormentarem e perseguirem de casa em casa. Doutras vezes, apegam-se a um lugar, por mero capricho. Também, não raro, exercem por essa forma uma vingança, como teremos ocasião de ver.
Em alguns casos, mais louvável é a intenção a que cedem. procuram chamar a atenção e pôr-se em comunicação com certas pessoas, quer para lhes darem um aviso proveitoso, quer com o fim de lhes pedirem qualquer coisa para si mesmos. Muitos temos visto que pedem preces; outros que solicitam o cumprimento, em nome deles, de votos que não puderam cumprir; outros, ainda, que desejam, no interesse do próprio repouso, reparar uma ação má que praticaram quando vivos.
Em geral, é um erro ter-se medo. A presença desses Espíritos pode ser importuna, porém, não perigosa. Concebe-se, aliás, que toda gente deseja ver-se livre deles; mas, geralmente, as que isso desejam fazem o contrário do que deveriam fazer para consegui-lo. Se se trata de Espíritos que se divertem, quanto mais ao sério se tomarem as coisas, tanto mais eles persistirão, como crianças travessas, que tanto mais molestam as pessoas, quanto mais estas se impacientam, e que metem medo aos poltrões. Se todos tomassem o alvitre sensato de rir das suas partidas, eles acabariam por se cansar e ficar quietos. Conhecemos alguém que, longe de se irritar, os excitava, desafiando-os a fazerem tal ou tal coisa, de modo que, ao cabo de poucos dias, não mais voltaram.
Porém, como dissemos acima, alguns há que assim procedem por motivo menos frívolo. Daí vem que é sempre bom saber-se o que querem. Se pedem qualquer coisa, pode-se estar certo de que, satisfeitos os seus desejos, não renovarão as visitas. O melhor meio de nos informarmos a tal respeito consiste em evocarmos o Espírito, por um bom médium escrevente. Pelas suas respostas, veremos imediatamente com quem estamos às voltas e obraremos de conformidade com o esclarecimento colhido. Se se trata de um Espírito infeliz, manda a caridade que lhe dispensemos as atenções que mereça. Se é um engraçado de mau gosto, podemos proceder desembaraçadamente com ele. Se um malvado, devemos rogar a Deus que o torne melhor. Qualquer que seja o caso, a prece nunca deixa de dar bom resultado. As fórmulas graves de exorcismo, essas os fazem rir; nenhuma importância lhes ligam. Sendo possível entrar em comunicação com eles, deve-se sempre desconfiar dos qualificativos burlescos, ou apavorantes, que dão a si mesmos, para se divertirem com a credulidade dos que acolhem como verdadeiros tais qualificativos.
Nos capítulos referentes aos lugares assombrados e às obsessões, consideraremos com mais pormenores este assunto e as causas da ineficácia das preces em muitos casos.
91. Estes fenômenos, conquanto operados por Espíritos inferiores, são com freqüência provocados por Espíritos de ordem mais elevada, com o fim de demonstrarem a existência de seres incorpóreos e de uma potência superior ao homem. A repercussão que eles têm, o próprio temor que causam, chamam a atenção e acabarão por fazer que se rendam os mais incrédulos. Acham estes mais simples lançar os fenômenos a que nos referimos à conta da imaginação, explicação muito cômoda e que dispensa outras. Todavia, quando objetos vários são sacudidos ou atirados à cabeça de uma pessoa, bem complacente imaginação precisaria ela ter, para fantasiar que tais coisas sejam reais, quando não o são.
Desde que se nota um efeito qualquer, ele tem necessariamente uma causa. Se uma observação fria e calma nos demonstra que esse efeito independe de toda vontade humana e de toda causa material; se, demais nos dá evidentes sinais de inteligência e de vontade livre, o que constitui o traço mais característico, forçoso será atribuí-lo a uma, inteligência oculta. Que seres misteriosos, são esses? E o que os estudos espíritas nos ensinam do modo menos contestável, pelos meios que nos facultam de nos comunicarmos com eles.
Esses estudos, além disso, nos ensinam a distinguir o que é real do que é falso, ou exagerado, nos fenômenos de que não fomos testemunha. Se um efeito insólito se produz: ruído, movimento, mesmo aparição, a primeira idéia que se deve ter é a de que provém de uma causa inteiramente natural, por ser a mais provável. Tem-se então que buscar essa causa com o maior cuidado e não admitir a intervenção dos Espíritos, senão muito cientemente. Esse o meio de se evitar toda ilusão. Um, por exemplo, que, sem se haver aproximado de quem quer que fosse, recebesse uma bofetada, ou bengalada nas costas, como tem acontecido, não poderia duvidar da presença de um invisível.
Cada um deve estar em guarda, não somente contra narrativas que possam ser, quando menos, acoimadas de exagero, mas também contra as próprias impressões, cumprindo não atribuir origem oculta a tudo o que não compreenda. Uma infinidade de causas muito simples e muito naturais pode produzir efeitos à primeira vista estranhos e seria verdadeira superstição ver por toda parte Espíritos ocupados em derribar móveis, quebrar louças, provocar, enfim, as mil e uma perturbações que ocorrem nos lares, quando mais racional é atribuí-las ao desazo.
92. A explicação dada do movimento dos corpos inertes se aplica naturalmente a todos os efeitos espontâneos a que acabamos de passar revista. Os ruídos, embora mais fortes do que as pancadas na mesa, procedem da mesma causa. Os objetos derribados, ou deslocados, o são pela mesma força que levanta qualquer objeto. Há mesmo aqui uma circunstância que apóia esta teoria. Poder-se-ia perguntar onde, nessa circunstância, o médium. Os Espíritos nos disseram que, em tal caso, há sempre alguém cujo poder se exerce â sua revelia. As manifestações espontâneas muito raramente se dão em lugares ermos; quase sempre se produzem nas casas habitadas e por motivo da presença de certas pessoas que exercem influência, sem que o queiram. Essas pessoas ignoram possuir faculdades mediúnicas, razão por que lhes chamamos médiuns naturais. São, com relação aos outros médiuns, o que os sonâmbulos naturais são relativamente aos sonâmbulos magnéticos e tão dignos, como aqueles, de observação.
93. A intervenção voluntária ou involuntária de uma pessoa dotada de aptidão especial para a produção destes fenômenos parece necessária, na maioria dos casos, embora alguns haja em que, ao que se afigura, o Espírito obra por si só. Mas, então, poderá dar-se que ele tire de algures o fluido animalizado, que não de uma pessoa presente. Isto explica porque os Espíritos, que constantemente nos cercam, não produzem perturbação a todo instante. Primeiro, é preciso que o Espírito queira, que tenha um objetivo, um motivo, sem o que nada faz. Depois, é necessário, muitas vezes, que encontre exatamente no lugar onde queira operar uma pessoa apta a secundá-lo, coincidência que só muito raramente ocorre. Se essa pessoa aparece inopinadamente, ele dela se aproveita.
Mesmo quando todas as circunstâncias sejam favoráveis, ainda poderia acontecer que o Espírito se visse tolhido por uma vontade superior, que não lhe permitisse proceder a seu bel-prazer. Pode também dar-se que só lhe seja permitido fazê-lo dentro de certos limites e no caso de serem tais manifestações julgadas úteis, quer como meio de convicção, quer como provação para a pessoa por ele visada.
94. A este respeito, apenas citaremos o diálogo provocado a propósito dos fatos ocorridos em junho de 1860, na rua des Noyers, em Paris. Encontrar-se-ão os pormenores do caso na Revue Spirite, número de agosto de 1860.
1ª (A São Luís). Quererias ter a bondade de nos dizer se são reais os fatos que se dizem passados na rua des Noyers? Quanto à possibilidade deles se darem, disso não duvidamos.
"São reais esses fatos; simplesmente, a imaginação dos homens os exagerará, seja por medo, seja por ironia. Mas, repito, são reais. Produz essas manifestações um Espírito que se diverte um pouco à custa dos habitantes do lugar."
2ª Haverá na casa alguma pessoa que dê causa a tais manifestações?
"Elas são sempre causadas pela presença da pessoa visada. É que o Espírito perturbador não gosta do habitante do lugar onde ele se acha; trata então de fazer-lhe maldades, ou mesmo procura obrigá-lo a mudar-se."
3ª Perguntamos se, entre os moradores da casa, alguém há que seja causador desses fenômenos, por efeito de uma influência mediúnica espontânea e involuntária?
"Necessariamente assim é, pois, sem isso, o fato não poderia dar-se. Um Espírito vive num lugar que lhe é predileto; conserva-se inativo, enquanto nesse lugar não se apresenta uma pessoa que lhe convenha. Desde que essa pessoa surge, começa ele a divertir-se quanto pode."
4ª Será indispensável a presença dessa pessoa no próprio lugar?
"Esse o caso mais comum e é o que se verifica no de que tratas. Por isso foi que' eu disse que, a não ser assim, o fato não teria podido produzir-se. Mas, não pretendi generalizar. Há casos em que a presença imediata não é necessária."
5ª Sendo sempre de ordem inferior esses Espíritos, constituirá presunção desfavorável a uma pessoa a aptidão que revele para lhes servir de auxiliar? Isto não denuncia, da parte dele, uma simpatia para com os seres dessa natureza?
"Não é precisamente assim, porquanto essa aptidão se acha ligada a uma disposição física. Contudo, denuncia freqüentemente uma tendência material, que seria preferível não existisse, visto que, quanto mais elevado moralmente é o homem, tanto mais atrai a si os bons Espíritos que, necessariamente, afastam os maus."
6ª Onde vai o Espírito buscar os projetis de que se serve?
"Os diversos objetos que lhe servem de projéteis são, as mais das vezes, apanhados nos próprios lugares dos fenômenos, ou nas proximidades. Uma força provinda do Espírito os lança no espaço e eles vão cair no ponto que o mesmo Espírito indica."
7ª Pois que as manifestações espontâneas são muitas vezes permitidas e até provocadas para convencer os homens, parece-nos que, se fossem pessoalmente atingidos por elas, alguns incrédulos se veriam forçados a render-se à evidência. Eles costumam queixar-se de não serem testemunhas de fatos concludentes. Não está no poder dos Espíritos dar-lhes uma prova sensível?
"Os ateus e os materialistas não são a todo instante testemunhas dos efeitos do poder de Deus e do pensamento? Isso não impede que neguem Deus e a alma. Os milagres de Jesus converteram todos os seus contemporâneos? Aos fariseus, que lhe diziam: "Mestre, faze-nos ver algum prodígio", não se assemelham os que hoje vos pedem lhes façais presenciar algumas manifestações? Se não se converteram pelas maravilhas da criação, também não se converterão, ainda quando os Espíritos lhes aparecessem do modo mais inequívoco, porquanto o orgulho os torna quais alimárias empacadoras. Se procurassem de boa-fé, não lhes faltaria ocasião de ver; por isso, não julga Deus conveniente fazer por eles mais do que faz pelos que sinceramente buscam instruir-se, pois que o Pai só concede recompensa aos homens de boa-vontade. A incredulidade deles não obstará a que a vontade de Deus se cumpra. Bem vedes que não obstou a que a doutrina se difundisse. Deixai, portanto, de inquietar-vos com a oposição que vos movem. Essa oposição é, para a doutrina, o que a sombra é para o quadro: maior relevo lhe dá. Que mérito teriam eles, se fossem convencidos à força? Deus lhes deixa toda a responsabilidade da teimosia em que se conservam e essa responsabilidade é mais terrível do que podeis supor. Felizes os que crêem sem ter visto' disse Jesus, porque esses não duvidam do poder de Deus."
8ª Achas que convém evoquemos o Espírito a que nos temos referido, para lhe pedirmos algumas explicações?
"Evoca-o, se quiseres, mas é um Espírito inferior, que só te dará respostas muito insignificantes."
95. Diálogo com o Espírito perturbador da rua des Noyers:
1ª Evocação.
"Que tinhas de me chamar? Queres umas pedradas? Então é que se havia de ver um bonito salve-se quem puder, não obstante o teu ar de valentia."
2ª Quando mesmo nos atirasses pedras aqui, isso não nos amedrontaria; até te pedimos positivamente que, se puderes, nos atires algumas.
"Aqui talvez eu não pudesse, porque tens um guarda a velar por ti."
3ª Havia, na rua des Noyers, alguém que, como auxiliar, te facilitava as partidas que pregavas aos moradores da casa?
"Certamente; achei um bom instrumento e não havia nenhum Espírito douto, sábio e virtuoso para me embaraçar. Porque, sou alegre; gosto às vezes de me divertir."
4ª Qual a pessoa que te serviu de instrumento?
"Uma criada."
5ª Era mau grado seu que ela te auxiliava?
"Ah! sim; pobre! era a que mais medo tinha!"
6ª Procedias assim com algum propósito hostil?
"Eu, não. Nenhum propósito hostil me animava. Mas, os homens, que de tudo se apoderam, farão que os fatos redundem em seu proveito."
7ª Que queres dizer com isso? Não te compreendemos.
"Eu só cuidava de me divertir; vós outros, porém, estudareis a coisa e tereis mais um fato a mostrar que nós existimos."
8ª Dizes que não alimentavas nenhum propósito hostil; entretanto, quebraste todo o ladrilho da casa. Causaste assim um prejuízo real.
"É um acidente,"
9ª Onde foste buscar os objetos que atiraste?
"São objetos muito comuns. Achei-os no pátio e nos jardins próximos."
10ª Achaste-os todos, ou fabricaste algum? (Ver adiante o cap. VIII.) "
Não criei, nem compus coisa alguma."
11ª E, se os não houvesse encontrado, terias podido fabricá-los?
"Fora mais difícil. Porém, a rigor, misturam-se matérias e isso faz um todo qualquer."
12ª Agora, dize-nos; como os atiraste?
"Ah! isto é mais difícil de explicar. Busquei auxílio na natureza elétrica daquela rapariga, juntando-a à minha, que é menos material. Pudemos assim os dois transportar os diversos objetos."
13ª Vais dar-nos de boa-vontade, assim o esperamos, algumas informações acerca da tua pessoa. Dize-nos, primeiramente, se já morreste há muito tempo.
"Há muito tempo; há bem cinqüenta anos."
14ª Que eras quando vivo?
"Não era lá grande coisa; simples trapeiro naquele quarteirão; às vezes me diziam tolices, porque eu gostava muito do licor vermelho do bom velho Noé. Por isso mesmo, queria pô-los todos dali para fora."
15ª Foi por ti mesmo e de bom grado que respondeste às nossas perguntas?
"Eu tinha um mestre."
16ª Quem é esse mestre?
"O vosso bom rei Luís."
NOTA. Motivou esta pergunta a natureza de algumas respostas dadas, que nos pareceram acima da capacidade desse Espírito, pela substância das idéias e mesmo pela forma da linguagem. Nada, pois, de admirar é que ele tenha sido ajudado por um Espírito mais esclarecido, que quis aproveitar a ocasião para nos instruir. É este um fato muito comum, mas o que nesta circunstância constitui notável particularidade é que a influência do outro Espírito se fez sentir na própria caligrafia. A das respostas em que ele interveio é mais regular e mais corrente, a do trapeiro é angulosa, grossa, irregular, às vezes pouco legível, denotando caráter muito diferente.
17ª Que fazes agora? Ocupas-te com o teu futuro?
"Ainda não; vagueio. Pensam tão pouco em mim na Terra, que ninguém roga por mim. Ora, não tendo quem me ajude, não trabalho."
NOTA. Ver-se-á, mais tarde, quanto se pode contribuir para o progresso e o alívio dos Espíritos inferiores, por meio da prece e dos conselhos.
18ª Como te chamavas quando vivo?
"Jeannet."
19ª Está bem, Jeannet! oraremos por ti. Dize-nos se a nossa evocação te deu prazer ou te contrariou?
"Antes prazer, pois que sois bons rapazes, viventes alegres, embora um pouco austeros. Não importa: ouviste-me, estou contente."

 

quarta-feira, 24 de abril de 2013

A desgraça real

24. Toda a gente fala da desgraça, toda a gente já a sentiu e julga conhecer-lhe o caráter múltiplo. Venho eu dizer-vos que quase toda a gente se engana e que a desgraça real não é, absolutamente, o que os homens, isto é, os desgraçados, o supõem. Eles a vêem na miséria, no fogão sem lume, no credor que ameaça, no berço de que o anjo sorridente desapareceu, nas lágrimas, no féretro que se acompanha de cabeça descoberta e com o coração despedaçado, na angústia da traição, na desnudação do orgulho que desejara envolver-se em púrpura e mal oculta a sua nudez sob os andrajos da vaidade. A tudo isso e a muitas coisas mais se dá o nome de desgraça, na linguagem humana. Sim, é desgraça para os que só vêem o presente; a verdadeira desgraça, porém, está nas conseqüências de um fato, mais do que no próprio fato. Dizei-me se um acontecimento, considerado ditoso na ocasião, mas que acarreta conseqüências funestas, não é, realmente, mais desgraçado do que outro que a princípio causa viva contrariedade e acaba produzindo o bem. Dizei-me se a tempestade que vos arranca as arvores, mas que saneia o ar, dissipando os miasmas insalubres que causariam a morte, não é antes uma felicidade do que uma infelicidade.
Para julgarmos de qualquer coisa, precisamos ver-lhe as conseqüências. Assim, para bem apreciarmos o que, em realidade, é ditoso ou inditoso para o homem, precisamos transportar-nos para além desta vida, porque é lá que as conseqüências se fazem sentir. Ora, tudo o que se chama infelicidade, segundo as acanhadas vistas humanas, cessa com a vida corporal e encontra a sua compensação na vida futura.
Vou revelar-vos a infelicidade sob uma nova forma, sob a forma bela e florida que acolheis e desejais com todas as veras de vossas almas iludidas. A infelicidade é a alegria, é o prazer, é o tumulto, é a vã agitação, é a satisfação louca da vaidade, que fazem calar a consciência, que comprimem a ação do pensamento, que atordoam o homem com relação ao seu futuro. A infelicidade é o ópio do esquecimento que ardentemente procurais conseguir.
Esperai, vós que chorais! Tremei, vós que rides, pois que o vosso corpo está satisfeito! A Deus não se engana; não se foge ao destino; e as provações, credoras mais impiedosas do que a matilha que a miséria desencadeia, vos espreitam o repouso ilusório para vos imergir de súbito na agonia da verdadeira infelicidade, daquela que surpreende a alma amolentada pela indiferença e pelo egoísmo.
Que, pois, o Espiritismo vos esclareça e recoloque, para vós, sob verdadeiros prismas, a verdade e o erro, tão singularmente deformados pela vossa cegueira! Agireis então como bravos soldados que, longe de fugirem ao perigo, preferem as lutas dos combates arriscados à paz que lhes não pode dar glória, nem promoção! Que importa ao soldado perder na refrega armas, bagagens e uniforme, desde que saia vencedor e com glória? Que importa ao que tem fé no futuro deixar no campo de batalha da vida a riqueza e o manto de carne, contanto que sua alma entre gloriosa no reino celeste? - Delfina de Girardin. (Paris, 1861.)

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Oração da Amanhecer

Prece

Senhor, no silêncio deste dia que amanhece, venho pedir-te saúde, força, paz e sabedoria.
Agradeço de coração a maravilhosa noite de descanço, o qual meu corpo foi velado pelos seus olhos.
Quero olhar hoje o mundo com olhos cheios de amor, ser paciente, compreensivo, manso e prudente.
E que durante o dia eu possa perdoar e ser perdoado pelos erros, pois somos fracos e pecadores.
Ver além das aparências teus filhos como tu mesmo os vês, e assim não ver senão o bem em cada um.
Cerra meus ouvidos a toda calunia, guarda minha língua de toda a maldade, que só de benção se encha meu espírito, que eu seja tão bondoso e alegre que todos quanto se achegarem a mim sintam a tua presença.
Senhor, reveste-me de tua beleza, reveste-me de benevolência e que no decurso deste dia eu te revele a todos.
Amém

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Por que não nos lembramos das nossas vidas passadas?

O esquecimento temporário das vidas passadas é uma necessidade. Não devemos nos lembrar das vidas passadas... enquanto estamos encarnados, e nisso está a sabedoria de Deus. Se lembrássemos do mal que fizemos ou dos sofrimentos que passamos, dos inimigos que nos prejudicaram ou daqueles a quem prejudicamos, não teríamos condições de viver entre eles atualmente. Pois, muitas vezes, os inimigos do passado hoje são nossos filhos, irmãos, pais e amigos, que, presentemente, se encontram junto de nós para a reconciliação. Por isso a reencarnação é uma bênção de Deus para seus filhos. As lembranças de erros passados certamente trariam desequilíbrios de toda ordem, uma vez que estamos muito mais perto do ponto de partida do que do ponto de chegada, em termos de caminhada evolutiva. Depois de desencarnado, normalmente nos lembramos de parte desse passado, conforme o grau evolutivo em que nos situamos.

Grupo Espírita Bezerra de Menezes

terça-feira, 16 de abril de 2013

Percepções, sensações e sofrimentos dos Espíritos


237 A alma, quando está no mundo dos Espíritos, ainda possui as percepções que possuía em sua vida física?
– Sim. Tem também outras que não possuía, porque o seu corpo era como um véu que as dificultava e obscurecia. A inteligência é um dos atributos do Espírito que se manifesta mais livremente quando não tem entraves.
238 As percepções e os conhecimentos dos Espíritos são ilimitados; numa palavra, eles sabem todas as coisas?
– Quanto mais se aproximam da perfeição, mais sabem. Se são Espíritos Superiores, sabem muito. Os Espíritos inferiores são mais ou menos ignorantes sobre todas as coisas.
239 Os Espíritos conhecem o princípio das coisas?
– Conhecem de acordo com sua elevação e pureza. Os Espíritos inferiores não sabem mais que os homens.
240 Os Espíritos compreendem o tempo como nós?
– Não. É por isso que vós também não nos compreendeis quando se trata de fixar datas ou épocas.
A idéia e a ação do tempo para os Espíritos não são como nós os compreendemos. O tempo, para eles, é nulo, por assim dizer, e os séculos, tão longos para nós, são, a seus olhos, apenas instantes que se perdem na eternidade, como o relevo do solo se apaga e desaparece para quem o vê de longe quando se eleva no espaço.
241 Os Espíritos têm uma idéia do presente mais precisa e exata do que nós?
– Do mesmo modo que aquele que vê claramente as coisas tem uma idéia mais exata do que um cego. Os Espíritos vêem o que não vedes; logo, julgam de modo diferente de vós. Mas lembramos mais uma vez: isso depende da elevação de cada um.
242 Como é que os Espíritos têm conhecimento do passado? Para eles, esse conhecimento é ilimitado?
– O passado, quando nos ocupamos dele, é o presente, torna-se vivo, exatamente como lembrais do que vos impressionou fortemente durante um período, ou numa viagem a um lugar longínquo e estranho. Como Espíritos, já não temos mais o véu material a nos obscurecer a inteligência, eis por que nos lembramos das coisas que estão apagadas para vós. Mas os Espíritos não conhecem tudo, a começar pela sua própria criação.
243 Os Espíritos conhecem o futuro?
– Isso também depende da sua elevação. Muitas vezes apenas o entrevêem, mas nem sempre lhes é permitido revelá-lo. Quando o vêem, parece-lhes presente. O Espírito adquire a visão do futuro mais claramente à medida que se aproxima de Deus. Após desencarnar, a alma vê e abrange num piscar de olhos suas migrações passadas, mas não pode ver o que Deus lhe reserva. Para isso é preciso que esteja integrada a Deus, após muitas e muitas existências.
243 a Os Espíritos que atingem a perfeição absoluta têm conhecimento completo do futuro?
– Completo não é bem a palavra. Só Deus é o Soberano Senhor e ninguém pode se igualar a Ele.
244 Os Espíritos vêem Deus?
– Só os Espíritos Superiores O vêem e O compreendem. Os Espíritos inferiores O sentem e O pressentem física, moral e espiritualmente.
244 a Quando um Espírito inferior diz que Deus lhe proíbe ou lhe permite uma coisa, como sabe que isso vem de Deus?
– Ele não vê a Deus, mas sente Sua soberania e, quando uma coisa não pode ser feita, ou uma palavra não pode ser dita, sente como intuição, uma advertência invisível que o proíbe de fazê-lo. Vós mesmos não tendes pressentimentos que são como advertências secretas, para fazer ou não isso ou aquilo? O mesmo ocorre conosco, apenas num grau superior. Deveis compreender que a essência dos Espíritos, sendo mais sutil que a vossa, lhes dá a possibilidade de melhor receber as advertências divinas.
244 b A ordem é transmitida por Deus ou por intermédio de outros Espíritos?
– Ela não vem diretamente de Deus. Para se comunicar com Deus, preciso é ser digno disso. Deus transmite Suas ordens por Espíritos que se encontram muito elevados em perfeição e instrução.
245 O dom da visão, nos Espíritos, é limitado e localizado, como nos seres corporais?
– Não; a visão está neles como um todo.
246 Os Espíritos têm necessidade da luz para ver?
– Vêem por si mesmos e não têm necessidade da luz exterior. Para eles, não há trevas, a não ser aquelas em que podem se encontrar por expiação.
247 Os Espíritos têm necessidade de se transportar para ver em dois lugares diferentes? Eles podem, por exemplo, ver simultaneamente os dois hemisférios do globo?
– Como o Espírito se transporta com a rapidez do pensamento, pode-se dizer que vê tudo de uma só vez, em todos os lugares. Seu pensamento pode irradiar e se dirigir, ao mesmo tempo, a vários pontos diferentes, mas essa qualidade depende de sua pureza. Quanto menos for depurado, mais sua visão estará limitada. Só Espíritos Superiores podem ter uma visão do conjunto.
O dom de ver, nos Espíritos, é uma propriedade inerente à sua natureza e irradia em todo o seu ser, como a luz se irradia de todas as partes de um corpo luminoso. É uma espécie de lucidez universal que se estende a tudo, envolve num só lance o espaço, os tempos e as coisas e para a qual não há trevas ou obstáculos materiais. Compreende-se que deva ser assim. No homem, a visão funciona por meio de um órgão impressionado pela luz e, sem luz, fica na obscuridade. No Espírito, como o dom da visão é um atributo próprio, sendo desnecessário qualquer agente exterior, a visão não depende de luz. (Veja “Ubiqüidade”, questão 92.)
248 O Espírito vê as coisas tão distintamente quanto nós?
– Mais distintamente, porque a sua visão penetra no que não podeis penetrar. Nada a obscurece.
249 O Espírito percebe os sons?
– Sim. Percebe até os que vossos rudes sentidos não podem perceber.
249 a O dom, a capacidade de ouvir, está em todo o seu ser, assim como a de ver?
– Todas as percepções são atributos do Espírito e fazem parte do seu ser. Quando está revestido de um corpo material, as percepções do exterior apenas lhe chegam pelo canal dos órgãos correspondentes. Porém, no estado de liberdade, essas percepções deixam de estar localizadas.
250 Sendo as percepções atributos próprios do Espírito, pode deixar de usá-las?
– O Espírito só vê e ouve o que quer. Isso de uma maneira geral e, sobretudo, para os Espíritos elevados. Já em relação aos que são imperfeitos, queiram ou não, ouvem e vêem freqüentemente aquilo que pode ser útil a seu adiantamento.
251 Os Espíritos são sensíveis à música?
– Quereis falar de vossa música? O que é ela perante a música celeste cuja harmonia nada na Terra vos pode dar uma idéia? Uma está para a outra como o canto de um selvagem está para uma suave melodia. Entretanto, Espíritos vulgares podem sentir um certo prazer ao ouvir vossa música, porque ainda não são capazes de compreender uma mais sublime. A música tem para os Espíritos encantos infinitos, em razão de suas qualidades sensitivas bastante desenvolvidas. A música celeste é tudo o que a imaginação espiritual pode conceber de mais belo e mais suave.
252 Os Espíritos são sensíveis às belezas da natureza?
– As belezas naturais dos globos são tão diferentes que se está longe de as conhecer; mas os Espíritos são sensíveis, sim, a essas belezas, sensíveis conforme sua aptidão em apreciá-las e compreendê-las. Para os Espíritos elevados há belezas de conjunto diante das quais desaparecem, por assim dizer, as belezas de detalhes.
253 Os Espíritos sentem nossas necessidades e sofrimentos físicos?
– Eles os conhecem, porque os sofreram, passaram por eles; mas não os sentem como vós, materialmente, porque são Espíritos.
254 Os Espíritos sentem cansaço e a necessidade do repouso?
– Não podem sentir o cansaço como o entendeis; conseqüentemente, não têm necessidade de repouso corporal como o vosso, uma vez que não possuem órgãos cujas forças devam ser reparadas. Mas o Espírito repousa, no sentido de que não tem uma atividade constante, embora não atue de uma maneira material. Sua ação é toda intelectual e seu repouso, inteiramente moral; ou seja, há momentos em que seu pensamento deixa de ser tão ativo e não mais se fixa num objetivo determinado. Esse instante é um verdadeiro repouso, mas não é comparável ao do corpo. O cansaço que podem sentir os Espíritos está em razão de sua inferioridade, visto que, quanto mais elevados, menos o repouso lhes é necessário.
255 Quando um Espírito diz que sofre, que sofrimento sente?
– Angústias morais, que o torturam mais dolorosamente do que os sofrimentos físicos.
256 Como é que alguns Espíritos se queixam de sofrer de frio e de calor?
– Lembrança do que tinham sofrido durante a vida, muitas vezes mais aflitiva que a realidade. É freqüentemente uma comparação com que, na falta de coisa melhor, exprimem sua situação. Quando se lembram do seu corpo, experimentam uma espécie de impressão, como quando se tira um casaco e se tem a sensação, por um tempo, que ainda se está vestido.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Índigo (filme completo, legenda em português

Publicado em 11/02/2013
www.sebemnet.org.br - www.facebook.com/sebemnet - Sociedade Espírita Bezerra de Menezes

quarta-feira, 10 de abril de 2013

Os tormentos voluntários

23. Vive o homem incessantemente em busca da felicidade, que também incessantemente lhe foge, porque felicidade sem mescla não se encontra na Terra. Entretanto, mau grado às vicissitudes que formam o cortejo inevitável da vida terrena, poderia ele, pelo menos, gozar de relativa felicidade, se não a procurasse nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes, isto é, nos gozos materiais em vez de a procurar nos gozos da alma, que são um prelibar dos gozos celestes, imperecíveis; em vez de procurar a paz do coração, única felicidade real neste mundo, ele se mostra ávido de tudo o que o agitará e turbará, e, coisa singular! o homem, como que de intento, cria para si tormentos que está nas suas mãos evitar.
Haverá maiores do que os que derivam da inveja e do ciúme? Para o invejoso e o ciumento, não há repouso; estão perpetuamente febricitantes. O que não têm e os outros possuem lhes causa insônias. Dão-lhes vertigem os êxitos de seus rivais; toda a emulação, para eles, se resume em eclipsar os que lhes estão próximos, toda a alegria em excitar, nos que se lhes assemelham pela insensatez, a raiva do ciúme que os devora. Pobres insensatos, com efeito, que não imaginam sequer que, amanhã talvez, terão de largar todas essas frioleiras cuja cobiça lhes envenena a vida! Não é a eles, decerto, que se aplicam estas palavras: "Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados", visto que as suas preocupações não são aquelas que têm no céu as compensações merecidas.
Que de tormentos, ao contrário, se poupa aquele que sabe contentar-se com o que tem, que nota sem inveja o que não possui, que não procura parecer mais do que é. Esse é sempre rico, porquanto, se olha para baixo de si e não para, cima, vê sempre criaturas que têm menos do que ele. E calmo, porque não cria para si necessidades quiméricas. E não será uma felicidade a calma, em meio das tempestades da vida? - Fénelon. (Lião, 1860.

domingo, 7 de abril de 2013

Livro: Paz, Afinal As experiências pós morte de John Lennon


Sinopse: Quando senti o desprendimento do meu corpo físico, eu percebi que estava morto.
Uma poderosa onda de luz encheu a sala, e o mundo que eu tinha conhecido desapareceu.
Eu estava sendo arrebatado através de um "túnel" tão brilhante como o próprio sol.
Agora John Lennon retorna - para compartilhar sua jornada em outros níveis de existência e
explicar as transformações radicais que estamos prestes a experimentar em nossas vidas
pessoais e no mundo em que vivemos. A informação contida em Paz, afinal está destinada a
causar impacto em todo o planeta. Uma mensagem universal de um homem universal.

Foto: E se o maior Skatista do Mundo, na hora do salto, estivesse com uma camiseta estampada com o rosto de Divaldo?
Foi exatamente o que aconteceu.
Lá estava eu na frente da TV assistindo X-Games; o maior evento de esportes de ação do Mundo; quando mostram o Maior Skatista do Mundo preparando-se para entrar na Mega Rampa e quando eu olho para a camiseta que ele está usando, vejo a imagem de Divaldo Franco estampada, pensei que fosse imaginação e olho novamente para conferir e percebo que tinha visto mesmo. E porque o Maior Skatista do mundo estaria com a camiseta de Divaldo? Imediatamente pego o telefone e ligo para meu marido que está junto com Divaldo e digo: - O Bob está no X-Games e na camiseta que ele está usando tem a foto do Divaldo acredita? Pergunta para o Divaldo.
Depois meu marido me liga e diz: "Divaldo disse que sentaram em poltronas encostadas no avião. Que ficaram conversando, e quanto a camiseta Divaldo disse que não sabia." Ai meu Deus! E agora?!
Fiquei intrigada para não dizer curiosa, porque ele faria isso, está no mundo do esporte e tem uma vida tão diferente da maioria. Para quem não sabe, Bob é personagem de jogos eletrônicos como Playstation e Game Boy.  É o primeiro skatista a conseguir fazer a manobra fakie (de costas para o obstáculo) 900º na Mega Rampa, manobra que até agora só ele concretizou. É Tetra Campeão Mundial de Mega Rampa.
Entrei na internet, peguei o e-mail da empresa que cuida do Bob e enviei um e-mail para ele, dizendo que sou uma trabalhadora de Divaldo, que era Coordenadora de Mocidade, que era fã dele e meus jovens também, e que fiquei admirada  ao ver ele no campeonato com a camiseta, e claro que aproveitei e perguntei: - Como foi que isso aconteceu?
Ele me enviou um e-mail, e me disse: “Encontrei com o Divaldo Franco no avião, senti que foi Deus que me deu essa felicidade, minha avó sempre foi espírita e eu cresci com essa doutrina, sempre falavam dele em casa, e eu nunca tive a oportunidade de vê-lo pessoalmente e então tive a felicidade de sentar ao lado dele e conversar durante a viagem. Quando cheguei na cidade onde ia, por coincidência estava passando uma peça com Renato Prieto que contava a vida de Divaldo. Então resolvi ir assistir e no final tinham camisetas vendendo, comprei uma. Acordei tão feliz para ir ao campeonato e pensei vou colocar a camiseta um pouco. (Ele tem patrocinadores e é obrigado a usar a camisetas com as logomarcas).” Foi muito gentil, e ainda mandou uma mensagem para os meus jovens.
Ele matou minha curiosidade, mas acima de tudo me trouxe a reflexão e certeza de que Divaldo com seus ensinamentos atinge milhões de pessoas, e dentre elas pessoas que jamais poderíamos imaginar e ou associar com o espiritismo.
Esse é o nosso Divaldo. Assim como Bob Burnquist  nós também somos agradecidos a Deus por tê-lo conhecido.
Achei importante dividir esse acontecimento com vocês!
Um abraço e desejos de PAZ!
Sandra Patrocinio

Fato ocorrido em 2005. Para quem não conhece o Bob Burnquist veja o Site dele no link: http://migre.me/e07rF  e também na Wikipédia:  http//pt.wikipedia.org/wiki/bob_burnquist 
E se o maior Skatista do Mundo, na hora do salto, estivesse com uma camiseta estampada com o rosto de Divaldo?
Foi exatamente o que aconteceu.
Lá estava eu na frente da TV assistindo X-Games; o maior evento de esportes de ação do Mundo; quando mostram o Maior Skatista do Mundo preparando-se para entrar na Mega Rampa e quando eu olho para a camiseta que ele está usando, vejo a imagem de Divaldo Franco estampada, pensei que fosse imaginação e olho novamente para conferir e percebo que tinha visto mesmo. E porque o Maior Skatista do mundo estaria com a camiseta de Divaldo? Imediatamente pego o telefone e ligo para meu marido que está junto com Divaldo e digo: - O Bob está no X-Games e na camiseta que ele está usando tem a foto do Divaldo acredita? Pergunta para o Divaldo.
Depois meu marido me liga e diz: "Divaldo disse que sentaram em poltronas encostadas no avião. Que ficaram conversando, e quanto a camiseta Divaldo disse que não sabia." Ai meu Deus! E agora?!
Fiquei intrigada para não dizer curiosa, porque ele faria isso, está no mundo do esporte e tem uma vida tão diferente da maioria. Para quem não sabe, Bob é personagem de jogos eletrônicos como Playstation e Game Boy. É o primeiro skatista a conseguir fazer a manobra fakie (de costas para o obstáculo) 900º na Mega Rampa, manobra que até agora só ele concretizou. É Tetra Campeão Mundial de Mega Rampa.
Entrei na internet, peguei o e-mail da empresa que cuida do Bob e enviei um e-mail para ele, dizendo que sou uma trabalhadora de Divaldo, que era Coordenadora de Mocidade, que era fã dele e meus jovens também, e que fiquei admirada ao ver ele no campeonato com a camiseta, e claro que aproveitei e perguntei: - Como foi que isso aconteceu?
Ele me enviou um e-mail, e me disse: “Encontrei com o Divaldo Franco no avião, senti que foi Deus que me deu essa felicidade, minha avó sempre foi espírita e eu cresci com essa doutrina, sempre falavam dele em casa, e eu nunca tive a oportunidade de vê-lo pessoalmente e então tive a felicidade de sentar ao lado dele e conversar durante a viagem. Quando cheguei na cidade onde ia, por coincidência estava passando uma peça com Renato Prieto que contava a vida de Divaldo. Então resolvi ir assistir e no final tinham camisetas vendendo, comprei uma. Acordei tão feliz para ir ao campeonato e pensei vou colocar a camiseta um pouco. (Ele tem patrocinadores e é obrigado a usar a camisetas com as logomarcas).” Foi muito gentil, e ainda mandou uma mensagem para os meus jovens.
Ele matou minha curiosidade, mas acima de tudo me trouxe a reflexão e certeza de que Divaldo com seus ensinamentos atinge milhões de pessoas, e dentre elas pessoas que jamais poderíamos imaginar e ou associar com o espiritismo.
Esse é o nosso Divaldo. Assim como Bob Burnquist nós também somos agradecidos a Deus por tê-lo conhecido.
Achei importante dividir esse acontecimento com vocês!
Um abraço e desejos de PAZ!
Sandra Patrocinio

Fato ocorrido em 2005. Para quem não conhece o Bob Burnquist veja o Site dele no link: http://migre.me/e07rF e também na Wikipédia: http//pt.wikipedia.org/wiki/bob_burnquist

sexta-feira, 5 de abril de 2013

Mediunidade na infância


AMÉRICO CANHOTO
Conforme nos alertou Jesus: “Nos últimos tempos, espalharei meu espírito sobre toda a carne; vossos filhos e filhas profetizarão; vossos jovens terão visões, e vossos velhos terão sonhos”. (Atos, capítulo 2, versículo 17 e 18). Quando pensamos em mediunidade logo nos vem á cabeça a de prova, aquela de compromisso de tarefa espiritual, esquecemos que ela é um atributo natural e fisiológico nosso.
A mediunidade nos primeiros anos de vida sempre foi mais evidente, e a explicação é simples, as ligações entre o corpo físico e o espiritual são bem mais flexíveis permitindo que a criança veja e converse com desencarnados ou mesmo elementais que estão ali, mas que os adultos não são capazes de perceber. Pessoas desavisadas atribuem isso à imaginação fértil e, logo passam a ignorá-las e até a criticá-las; deixam a criança falando sozinha e, essa atitude pode trazer uma série de problemas psicológicos em breve futuro. O correto é indagar estimulando-as a reportarem seus diálogos quando ocorrem e a pedir-lhes que descrevam o que estão vendo e, a dar-lhe crédito; lógico que o senso crítico de cada um define até onde isso pode levar e a buscar ajuda adequada quando se faça necessário. Um problema da mediunidade, no caso a vidência infantil, é o terror noturno em virtude das formas-pensamento geradas pelos adultos da casa. Expliquemos: nossos pensamentos repetitivos coagulam-se formando telas (ideoplastias), a maior parte de nós tem pouco ou nenhum cuidado em vigiar os pensamentos como nos recomendou Jesus, e daí, os filminhos onde somos os diretores, roteiristas e protagonistas, e que as crianças são obrigadas a assistirem á noite, as deixam apavoradas. Se nossos filhos estão com medo de dormir, opa, é hora de rever com muito cuidado e carinho, como anda nossa reforma íntima. Outro fato comum é a facilidade com que muitas crianças acessam os arquivos de vidas passadas; nesse caso também é preciso que se dê atenção e que o senso crítico defina a conduta posterior. Normalmente essas são fases curtas, e o adulto deve aproveitá-las para aprender, pois á medida que os interesses da criança vão se materializando mais essa mediunidade tende a desaparecer (exceto quando é tarefa combinada antes do nascimento). Na colocação de Jesus sobre os “sonhos dos velhos”, a explicação é muito parecida com o que ocorre na infância, a ligação entre o corpo físico e o perispírito fica bem mais flexível permitindo que o idoso ou o doente grave apresente manifestação mediúnica (raramente eles incorporam – pois seus mentores não permitem, apenas relatam, conversam, transmitem recados, misturam fatos de vidas passadas com a atual). Quem tiver a oportunidade de vivenciar experiências desse tipo deve aproveitá-las ao máximo para aprender e até para reciclar seus projetos de vida. Recomendo, vale a pena.
Será que a mediunidade explícita na infância está mesmo aumentando?
Os tempos já são chegados? Os sinais precursores já estão ocorrendo?
É inegável que sim. E o melhor exemplo é o nascimento em larga escala das crianças índigo e cristais. Principalmente no que tange á mediunidade, as cristais, o são de forma ostensiva. Mas, nada das mediunidades de prova, de tarefa, elas não incorporam nem psicografam, apenas usam seus abundantes recursos espirituais naturais. Pode ser que outros tipos as sucedam para provocar mudanças significativas na vida do homem: para induzir a um cada vez mais rápido progresso evolutivo. Então, Bendito seja o final destes tempos e todas as suas acelerações! Que surjam cada vez mais crianças índigo, cristal e sucedâneas que nos mostrem e provem com absoluta traquilidade as finalidades do existir. Que esses “veneráveis e sábios” seres ainda infantis, esfreguem na nossa cara “normal” as “verdades Divinas”. Bem-vindos sejam todos esses amigos das estrelas que nos visitam com mais frequência e intensidade de hora em diante... Aleluia.
Para nós que labutamos no eterno aprendizado na seara espírita essa turma de novas crianças nos trouxe muitas dúvidas e alguns problemas de ordem funcional. Vejamos: Há idade cronológica para manifestações espirituais? Idade certa para aplicar passes? Hora de trabalhar em prol do próximo? Participar das entrevistas, para aconselhar segundo o Evangelho de Jesus na Casa Espírita? Quem pode garantir que, apenas a partir de tal idade um índigo ou um cristal possa aplicar passes ou aconselhar alguém? Quem se atreve a responder? Tudo isso, é bom ou ruim? Amigos, num simples parágrafo; melhor ainda; numa simples palavra é possível resumir o incrível aumento da mediunidade infantil que sempre existiu: evolução. Apenas o inexorável progresso. Que dentre muitas outras coisas, esses fatos nos levem a analisarmos nossos conceitos sobre mediunidade. Revisemos tudo. Critiquemo-nos Desconfiemos de nós mesmos, pois o que é o tempo na quarta e nas outras dimensões? Qual o papel que represento como médium? Um espírito com a tarefa de apagar a luz pode vestir-se de bonzinho e encher a cabeça das pessoas com frases e colocações melodiosas por séculos. Que interesses nos movem verdadeiramente nas nossas tarefas?
A mediunidade infantil merece muito estudo e considerações, lançamos apenas uma dúvida: Qual a relação entre mediunidade e educação? Para as pessoas interessadas recomendamos que estudem as características das crianças índigo e das cristais.

quinta-feira, 4 de abril de 2013

Médiuns Curadores

Revista Espírita, janeiro de 1864
Um oficial de caçadores, espírita de longa data, e um dos numerosos exemplos de reformas morais que o Espiritismo pode operar, transmite estes detalhes:
"Caro mestre, aproveitamos as longas horas de inverno para nos entregarmos com ardor ao desenvolvimento de nossas faculdades mediúnicas. A tríade do 4º de caçadores, sempre unido, sempre vivo, inspira-se em seus deveres, e ensaia novos esforços. Sem dúvida desejais conhecer o objeto de nossos trabalhos, a fim de saber se o campo que cultivamos não é estéril. Podereis julgá-lo pelos detalhes seguintes. Desde alguns meses nossos trabalhos tem por objeto o estudo dos fluidos. Este estudo desenvolveu em nós a mediunidade curadora; assim, agora a aplicamos com sucesso. Há alguns dias, uma simples emissão fluídica de cinco minutos com minha mão, bastou para tirar uma nevralgia violenta.
"Há vinte anos a Sra. P. estava afetada por uma hiperestesia aguda ou exagerada sensibilidade da pele, moléstia que há quinze anos a retinha no quarto. Mora numa pequena cidade vizinha, e tendo ouvido falar de nosso grupo espírita, veio buscar alívio junto de nós. Ao cabo de trinta e cinco dias partiu, completamente curada. Durante esse tempo recebeu diariamente um quarto de hora de emissão fluídica, com o concurso de nossos guias espirituais.
"Ao mesmo tempo estendíamos os nossos cuidados a um epiléptico, ferido por esse mal há vinte e sete anos. As crises se repetiam quase todas as noites, durante as quais a mãe passava longas horas à sua cabeceira. Trinta e cinco dias bastaram para essa cura importante, e aquela mãe estava feliz, levando o filho radicalmente curado! Nós nos revezávamos os três de oito em oito dias. Para a emissão do fluido ora colocávamos a mão no vazio do estômago do doente, ora sobre a nuca, na raiz do pescoço. Cada dia o doente podia constatar a melhora; nós mesmos, após a evocação e no recolhimento, sentíamos o fluido exterior nos invadir, passar em nós e escapar-se dos dedos estirados e do braço distendido para o corpo do paciente que tratávamos.
"Neste momento damos os nossos cuidados a um segundo epiléptico. Desta vez a moléstia talvez seja mais rebelde, por ser hereditária. O pai deixou nos quatro filhos o germe desta afecção. Enfim, com a ajuda de Deus e dos bons Espíritos, esperamos reduzi-la nos quatro.
"Caro mestre, reclamamos o socorro de vossas preces e das dos irmãos de Paris. Esse auxílio será para nós um encorajamento e um estimulante aos nossos esforços. Depois, vossos bons Espíritos podem vir em nosso auxílio, tornar o tratamento mais salutar e abreviar a sua duração.
"Não aceitamos como recompensa, como podeis compreender, e ela deve ser bastante, senão a satisfação de ter feito o nosso dever e ter obedecido no impulso dos bons Espíritos. O verdadeiro amor do próximo trás consigo uma alegria sem mescla e deixa em nós algo de luminoso, que encanta e eleva a alma. Assim, procuramos, tanto quanto nos permitem nossas imperfeições, compenetrarmo-nos dos deveres do verdadeiro espírita, que não devem ser senão a aplicação dos preceitos evangélicos.
"O Sr. A. de L. deve trazer-nos o seu cunhado que tem Espírito malévolo que o subjuga há dois anos. Nosso guia espiritual, Lamennais, nos encarrega do tratamento desta rebelde obsessão. Deus nos dará também o poder de expulsar os demônios? Se assim fosse, teríamos que nos humilhar ante tão grande favor, em vez de nos orgulharmos. Quanto maior ainda não seria para nós a obrigação de nos melhorarmos, para testemunhar o nosso reconhecimento e para não perdermos dons tão preciosos?
Lida esta carta tão interessante na Sociedade Espírita de Paris, na sessão de 18 de dezembro último, um dos nossos bons médiuns obteve espontaneamente as duas comunicações seguintes:
"Existindo no homem a vontade em diferentes graus de desenvolvimento, em todas as épocas tanto serviu para curar, quanto para aliviar. É lamentável ser obrigado a constatar que, também, foi fonte de muitos males, mas é uma das conseqüências do abuso que, muitas vezes, o ser faz do livre arbítrio. A vontade tanto desenvolve o fluido animal quanto o espiritual, porque, todos sabeis agora, há vários gêneros de magnetismo, em cujo número estão o magnetismo animal, e o magnetismo espiritual que, conforme a ocorrência, pode pedir apoio ao primeiro. Um outro gênero de magnetismo, muito mais poderoso ainda, é a prece que uma alma pura e desinteressada dirige a Deus.
"A vontade muitas vezes foi ma1 compreendida. Em geral o que magnetiza não pensa senão em desdobrar sua força fluídica, derramar seu próprio fluido sobre o paciente submetido aos seus cuidados, sem se ocupar se há ou não uma Providência interessada no caso tanto ou mais que ele. Agindo só não pode obter senão o que a sua força, sozinha, pode produzir; ao passo que os médiuns curadores começam por elevar sua alma a Deus, e a reconhecer que, por si-mesmos, nada podem. Fazem, por isto mesmo, um ato de humildade, de abnegação. Então, confessando-se fracos por si-mesmos, em sua solicitude, Deus lhes envia poderosos socorros, que o primeiro não pode obter, por se julgar suficiente para o empreendimento. Deus sempre recompensa o humilde sincero, elevando-o ao passo que rebaixa o orgulhoso. Esse socorro que envia são os bons Espíritos que vêm penetrar o médium de seu fluido benéfico, que é transmitido ao doente. Também é por isto que o magnetismo empregado pelos médiuns curadores é tão potente e produz essas curas qualificadas de miraculosas, e que são devidas simplesmente à natureza do fluido derramado sobre o médium. Ao passo que o magnetizador ordinário se esgota, por vezes, em vão, a fazer passes, o médium curador infiltra um fluído regenerador pela simples imposição das mãos, graças ao concurso dos bons Espíritos. Mas esse concurso só é concedido à fé sincera e à pureza de intenção."
Mesmer (Médium, Sr. Alberto)
"Uma palavra sobre os médiuns curadores, dos quais acabais de falar. Estão todos nas mais louváveis disposições; tem a fé que levanta montanhas, o desinteresse que purifica os atos da vida e a humildade que os santifica. Que perseverem na obra de beneficência, que empreenderam; que se lembrem bem que aquele que pratica as leis sagradas que o Espiritismo ensina, aproxima-se constantemente do Criador. Que, ao empregarem sua faculdade, a prece, que é a vontade mais forte, seja sempre o seu guia, seu ponto de apoio. Em toda a sua existência, o Cristo vos deu a mais irrecusável prova da vontade mais firme; mas era a vontade do bem e não a do orgulho. Quando, por vezes, dizia eu quero, a palavra estava cheia de unção; seus apóstolos, que o cercavam, sentiam abrir-se o coração a esta palavra. A doçura constante do Cristo, sua submissão à vontade de seu Pai, sua perfeita abnegação, são os mais belos modelos da vontade que se possa propor para exemplo."
Paulo, apóstolo (Médium: Sr. Albert)
Algumas explicações facilmente darão a compreender o que se passa nesta circunstância. Sabe-se que o fluido magnético ordinário pode dar a certas substâncias propriedades particulares ativas. Neste caso, age de certo modo como agente químico, modificando o estado molecular dos corpos; não há, pois, nada de admirar que possa modificar o estado de certos órgãos; mas compreende, igualmente, que sua ação, mais ou menos salutar, deve depender de sua qualidade; daí as expressões "bom ou mau fluido; fluido agradável ou penoso." Na ação magnética propriamente dita, é o fluido pessoal do magnetizador que é transmitido, e esse fluido, que não é senão o perispírito, sabe-se que participa sempre, mais ou menos, das qualidades materiais do corpo, ao mesmo tempo que sofre a influência moral do Espírito. É, pois, impossível que o fluido próprio de um encarnado seja de uma pureza absoluta, razão por que sua ação curativa é lenta, por vezes nula, outras vezes nociva, porque transmite ao doente princípios mórbidos.
Desde que um fluido seja bastante abundante e enérgico para produzir efeitos instantâneos de sono, de catalepsia, de atração ou de repulsão, absolutamente não se segue que tenha as necessárias qualidades para curar; é a força que derruba, mas não o bálsamo que suaviza e restaura. Assim, há Espíritos desencarnados de ordem inferior, cujo fluido pode ser mesmo muito maléfico, o que os espíritas a cada passo tem ocasião de contatar.
Só nos Espíritos superiores o fluido perispiritual está despojado de todas as impurezas da matéria. Está, de certo modo, quintessenciada. Sua ação, por conseguinte, deve ser mais salutar e mais pronta; é o fluido benfazejo por excelência. E desde que não pode ser encontrado entre os encarnados, nem entre os desencarnados vulgares, então é preciso pedi-lo aos Espíritos elevados, como se vai procurar em terra distantes os remédios que se não encontram na própria. O médium curador emite pouco de seu fluido; sente a corrente do fluido estranho que o penetra e ao qual serve de condutor; é com esse fluido que magnetiza, e aí está o que caracteriza o magnetismo espiritual e o distingue do magnetismo animal: um vem do homem, o outro, dos, Espíritos. Como se vê, aí nada de maravilhoso, mas um fenômeno resultante de uma lei da natureza que se não conhecia.
Para curar pela terapêutica ordinária não bastam os primeiros medicamentos que surgem; são precisos puros, não avariados ou adulterados, e convenientemente preparados. Pela mesma razão, para curar pela ação fluídica, os fluidos mais depurados são os mais saudáveis; desde que esses fluidos benéficos são dos Espíritos superiores, então é o concurso deles que é preciso obter. Por isto a prece e a invocação são necessárias.
Mas para orar e, sobretudo, orar com fervor, é preciso fé. Para que a prece seja escutada, é preciso que seja feita com humildade e dilatada por um real sentimento de benevolência e de caridade. Ora, não há verdadeira caridade sem devotamento, nem devotamento sem desinteresse. Sem estas condições o magnetizador, privado da assistência dos bons Espíritos, fica reduzido às suas próprias forças, por vezes insuficientes, ao passo que com o concurso deles, elas podem ser centuplicadas em poder e em eficácia. Mas não há licor, por mais puro que seja, que não se altere ao passar por um vaso impuro; assim com o fluido dos Espíritos superiores, ao passar pelos encarnados. Daí, para os médiuns nos quais se revela essa preciosa faculdade, e que querem vê-la crescer e não se perder, a necessidade de trabalhar o seu melhoramento moral.
Entre o magnetizador e o médium curador há, pois, esta diferença capital, que o primeiro magnetiza com o seu próprio fluido, e o segundo com o fluido depurado dos Espíritos. De onde se segue que estes últimos dão o seu concurso a quem querem e quando querem; que podem recusá-lo e, consequentemente, tirar a faculdade aquele que dela abusasse ou a desviasse de seu fim humanitário e caridoso, para dela fazer comércio. Quando Jesus disse aos apóstolos: "Ide! expulsai os demônios, curai os doentes", acrescentou: "Daí de graça o que de graça recebestes."
Os médiuns curadores tendem a multiplicar-se, como anunciaram os Espíritos, isto em vista de propagar o Espiritismo, pela impressão que esta nova ordem de fenômenos não deixará de produzir nas massas, porque não há quem não 1igue para a sua saúde, mesmo os incrédulos. Assim, então, quando virem obter por meio do Espiritismo o que a ciência não pode dar, hão de convir que há uma força fora do nosso mundo. Assim a ciência será conduzida a sair da via exclusivamente material, em que ficou até hoje; quando os magnetizadores antiespiritualistas ou antiespíritas virem que existe um magnetismo mais poderoso que o seu, serão forçados a remontar à verdadeira causa.
Contudo, importa premunir-se contra o charlatanismo, que não deixará de tentar explorar em proveito próprio esta nova faculdade. Há para isto um meio simples: lembrar-se que não há charlatanismo desinteressado, e que o desinteresse absoluto, material e moral, é a melhor garantia de sinceridade. Se há uma faculdade dada por Deus com esse objetivo santo, sem a menor dúvida é esta, pois que exige imperiosamente o concurso dos Espíritos superiores, e este não pode ser adquirido pelo charlatanismo. É para que se fique bem edificado quanto a natureza toda especial desta faculdade que descrevemos com alguns detalhes. Conquanto tenhamos podido constatar-lhe a existência por fatos autênticos, muitos dos quais passados aos nossos olhos, pode dizer-se que ainda é rara, e que só existe parcialmente nos médiuns que a possuem, quer por não terem todas as qualidades requeridas para a sua posse em toda a plenitude, quer por estar ainda em começo. Eis por que até hoje os fatos não tiveram muita repercussão; mas não tardarão a tomar desenvolvimentos de natureza a chamar a atenção geral.
Daqui a poucos anos ela se revelará nalgumas pessoas predestinadas para isto, com uma força que triunfará de muitas obstinações. Mas não são os únicos fatos que o futuro nos reserva, e pelos quais Deus confundirá os orgulhosos e os convencerá de sua impotência. Os médiuns curadores são um dos mil meios providenciais para atingir este objetivo e apressar o triunfo do Espiritismo. Compreende-se facilmente que esta qualificação não pode ser dada aos médiuns escreventes, que recebem receitas médicas de certos Espíritos.
Não encaramos a mediunidade curadora senão de ponto de vista fenomênico e como meio de propagação, mas não como recurso habitual. Em próximo artigo trataremos de sua possível aliança com a medicina e o magnetismo ordinários.

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Palestras Espíritas - Escolha das Provas



Palestra realizada no Centro Espírita Léon Denis (CELD) por Wania Flintz da Cunha em 22/05/2010 abordando as questões 258 a 265 de O Livro dos Espíritos.

terça-feira, 2 de abril de 2013

Ruídos, barulhos e perturbações

83. De todas as manifestações espíritas, as mais simples e mais freqüentes são os ruídos e as pancadas. Neste caso, principalmente, é que se deve temer a ilusão, porquanto uma infinidade de causas naturais pode produzi-los: o vento que sibila ou que agita um objeto, um corpo que se move por si mesmo sem que ninguém perceba, um efeito acústico, um animal escondido, um inseto, etc., até mesmo a malícia dos brincalhões de mau gosto. Aliás, os ruídos espíritas apresentam um caráter especial, revelando intensidade e timbre muito variado, que os tornam facilmente reconhecíveis e não permitem sejam confundidos com os estalidos da madeira, com as crepitações do fogo, ou com o tique-taque monótono do relógio. São pancadas secas, ora surdas, fracas e leves, ora claras, distintas, às vezes retumbantes, que mudam de lugar e se repetem sem nenhuma regularidade mecânica. De todos os meios de verificação, o mais eficaz, o que não pode deixar dúvida quanto à origem do fenômeno, é a obediência deste à vontade de quem o observa. Se as pancadas se fizerem ouvir num lugar determinado, se responderem, pelo seu número, ou pela sua intensidade, ao pensamento, não se lhes pode deixar de reconhecer uma causa inteligente. Todavia, a falta de obediência nem sempre constitui prova em contrário.
84. Admitamos agora que, por uma comprovação minuciosa, se adquira a certeza de que os ruídos, ou outros efeitos quaisquer, são manifestações reais: será racional que se lhes tenha medo? Não, decerto; porquanto, em caso algum, nenhum perigo haverá nelas. Só os que se persuadem de que é o diabo que as produz podem ser por elas abalados de modo deplorável, como o são as crianças a quem se mete medo com o lobisomem, ou o papão. Essas manifestações tomam às vezes, forçoso é convir, proporções e persistências desagradáveis, causando aos que as experimentam o desejo muito natural de se verem livres delas. A este propósito, uma explicação se faz necessária.
85. Dissemos atrás que as manifestações físicas têm por fim chamar-nos a atenção para alguma coisa e convencer-nos da presença de uma força superior ao homem. Também dissemos que os Espíritos elevados não se ocupam com esta ordem de manifestações; que se servem dos Espíritos inferiores para produzi-las, como nos utilizamos dos nossos serviçais para os trabalhos pesados, e isso com o fim que vamos indicar.
Alcançado esse fim, cessa a manifestação material, por desnecessária. Um ou dois exemplos farão melhor compreender a coisa.
86. Há muitos anos, quando ainda iniciava meus estudos sobre o Espiritismo, estando certa noite entregue a um trabalho referente a esta matéria, pancadas se fizeram ouvir em torno de mim, durante quatro horas consecutivas. Era a primeira vez que tal coisa me acontecia. Verifiquei não serem devidas a nenhuma causa acidental, mas, na ocasião, foi só o que pude saber. Por essa época, tinha eu freqüentes ensejos de estar com um excelente médium escrevente. No dia seguinte, perguntei ao Espírito, que por seu intermédio se comunicava, qual a causa daquelas pancadas. Era, respondeu-me ele, o teu Espírito familiar que te desejava falar. - Que queria de mim? Resp.: Ele está aqui, pergunta-lhe. - Tendo-o interrogado, aquele Espírito se deu a conhecer sob um nome alegórico. (Vim a saber depois, por outros Espíritos, que pertence a uma categoria muito elevada e que desempenhou na Terra importante papel.) Apontou erros no meu trabalho, indicando-me as linhas onde se encontravam; deu-me úteis e sábios conselhos e acrescentou que estaria sempre comigo e atenderia ao meu chamado todas as vezes que o quisesse interrogar. A partir de então, com efeito, esse Espírito nunca mais me abandonou. Dele recebi muitas provas de grande superioridade e sua intervenção benévola e eficaz me foi manifesta, assim nos assuntos da vida material, como no tocante às questões metafísicas. Desde a nossa primeira entrevista, as pancadas cessaram. De fato, que desejava ele? Pôr-se em comunicação regular comigo; mas, para isso, precisava de me avisar. Dado e explicado o aviso, estabelecidas as relações regulares, as pancadas se tomaram inúteis. Dai o cessarem. O tambor deixa de tocar, para despertar os soldados, logo que estes se acham todos de pé.
Fato quase semelhante sucedeu a um dos nossos amigos. Havia algum tempo, no seu quarto se ouviam ruídos diversos, que já se iam tornando fatigantes. Apresentando-lhe ocasião de interrogar o Espírito de seu pai, por um médium escrevente, soube o que queriam dele, fez o que foi recomendado e daí em diante nada mais ouviu. Deve-se notar que as manifestações deste gênero são mais raras para as pessoas que dispõem de meio regular e fácil de comunicação com os Espíritos, e isso se concebe.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

Esboço do inferno cristão

11. - A opinião dos teólogos sobre o inferno resume-se nas seguintes citações (1). Esta descrição, sendo tomada dos autores sagrados e da vida dos santos, pode tanto melhor ser considerada como expressão da fé ortodoxa na matéria, quanto é ela reproduzida a cada instante, com pequenas variantes, nos sermões do púlpito evangélico e nas instruções pastorais.
    (1) Estas citações são tiradas da obra intitulada O Inferno, de Augusto Callet.
12. "Os demônios são puros Espíritos, e os condenados, presentemente no inferno, podem ser considerados puros Espíritos, uma vez que só a alma aí desce, e os restos entregues à terra se transformam em ervas, em plantas, em minerais e líquidos, sofrendo inconscientemente as metamorfoses constantes da matéria. Os condenados, porém, como os santos, devem ressuscitar no dia do juízo final, retomando, para não mais deixá-los, os mesmos corpos carnais que os revestiam na vida. Os eleitos ressuscitarão, contudo, em corpos purificados e resplendentes, e os condenados em corpos maculados e desfigurados pelo pecado. Isso os distinguirá, não havendo mais no inferno puros Espíritos, porém homens como nós. Conseguintemente, o inferno é um lugar físico, geográfico, material, uma vez que tem de ser povoado por criaturas terrestres, dotadas de pés, mãos, boca, língua, dentes, ouvidos, olhos semelhantes aos nossos, sangue nas veias e nervos sensíveis.
Onde estará esse inferno? Alguns doutores o têm colocado nas entranhas mesmas do nosso globo; outros não sabemos em que planeta, sem que o problema se haja resolvido por qualquer concílio. Estamos, pois, quanto a este ponto, reduzidos a conjeturas; a única coisa afirmada é que esse inferno, onde quer que exista, é um mundo composto de elementos materiais, conquanto sem Sol, sem estrelas, sem Lua, mais triste e inóspito, desprovido de todo gérmen e das aparências benéficas que porventura se encontram ainda nas regiões mais áridas deste mundo em que pecamos.
Os teólogos mais circunspectos não se atrevem, à semelhança dos egípcios, dos hindus e dos gregos, a descrever os horrores dessa morada, limitando-se a no-la mostrar como premissas no pouco que dela fala a Escritura, o lago de fogo e enxofre do Apocalipse e os vermes de Isaías, esses vermes que formigam eternamente sobre os cadáveres do Tofel, e os demônios atormentando os homens aos quais eles perderam, e os homens a chorarem, rangendo os dentes, segundo a expressão dos evangelistas.
"Santo Agostinho não concorda que esses sofrimentos físicos sejam apenas reflexos de sofrimentos morais e vê, num verdadeiro lago de enxofre, vermes e verdadeiras serpentes saciando-se nos corpos, casando suas picadas às do fogo. Ele pretende mais, segundo um versículo de S. Marcos, que esse fogo estranho, posto que material como o nosso e atuando sobre corpos materiais, os conservará como o sal conserva o corpo das vítimas. Os condenados, vitimas sempre sacrificadas e sempre vivas, sentirão a tortura desse fogo que queima sem destruir, penetrando-lhes a pele; serão dele embebidos e saturados em todos os seus membros, na medula dos ossos, na pupila dos olhos, nas mais recônditas e sensíveis fibras do seu ser. A cratera de um vulcão, se aí pudessem submergir, ser-lhes-ia lugar de refrigério e repouso.
Assim falam com toda a segurança os teólogos mais tímidos, discretos e comedidos; não negam que haja no inferno outros suplícios corporais, mas dizem que para afirmá-lo lhes falta suficiente conhecimento, pelo menos tão positivo como o que lhes foi dado sobre o suplício horrível do fogo e dos vermes. Há, contudo, teólogos mais ousados ou mais esclarecidos que dão do inferno descrições mais minuciosas, variadas e completas. E conquanto se não saiba em que lugar do Espaço está situado esse inferno, há santos que o viram. Eles não foram lá ter com a lira na mão, como Orfeu; de espada em punho, como Ulisses, mas transportados em espírito.
"Desse número é Santa Teresa. Dir-se-ia, pela narrativa da santa, que há uma cidade no inferno: - ela aí viu, pelo menos, uma espécie de viela comprida e estreita como essas que abundam em velhas cidades, e percorreu-a horrorizada, caminhando sobre lodoso e fétido terreno, no qual pululavam monstruosos reptis. Foi, porém, detida em sua marcha por uma muralha que interceptava a viela, em cuja muralha havia um nicho onde se abrigou, aliás sem poder explicar a ocorrência. Era, diz ela, o lugar que lhe destinavam se abusasse, em vida, das graças concedidas por Deus em sua cela de Ávila.
"Apesar da facilidade maravilhosa que tivera em penetrar esse nicho, não podia sentar-se, ou deitar-se, nem manter-se de pé. Tampouco podia sair. Essas paredes horríveis, abaixando-se sobre ela, envolviam-na, apertavam-na como se fossem animadas de movimento próprio. Parecia-lhe que a afogavam, estrangulando-a, ao mesmo tempo que a esfolavam e retalhavam em pedaços. Ao sentir queimar-se, experimentou, igualmente, toda a sorte de angústias.
"Sem esperança de socorro, tudo era trevas em torno de si, posto que através dessas trevas percebesse, não sem pavor, a hedionda viela em que se achava, com a sua imunda vizinhança. Este espetáculo era-lhe tão intolerável quanto os apertos mesmos da prisão. (1)
    (1) Nesta visão se reconhecem todos os caracteres dos pesadelos, sendo provável que fosse deste gênero de fenômenos o acontecido a Santa Teresa.
"Esse não era, sem dúvida, mais que um pequeno recanto do inferno. Outros viajantes espirituais foram mais favorecidos, pois viram grandes cidades no inferno, quais enormes braseiros: Babilônia e Nínive, a própria Roma, com seus palácios e templos abrasados, acorrentados todos os habitantes.
"Traficantes em seus balcões, sacerdotes reunidos a cortesãos em salas de festim, chumbados às cadeiras ululantes, levando aos lábios rubras taças chamejantes. Criados genuflexos em ferventes cloacas, braços distendidos, e príncipes de cujas mãos escorria em lava devoradora o ouro derretido. Outros viram no inferno planícies sem-fim, cultivadas por camponeses famintos, que, nada colhendo desses campos fumegantes, dessas sementes estéreis, se entredevoravam, dispersando-se em seguida, tão numerosos como dantes, magros, vorazes e em bando, indo procurar ao longe, em vão, terras mais felizes. Outras colônias errantes de condenados os substituíam imediatamente. Ainda outros relatam que viram no inferno montanhas inçadas de precipícios, florestas gemebundas, poços secos, fontes alimentadas de lágrimas, ribeiros de sangue, turbilhões de neve em desertos de gelo, barcas tripuladas por desesperados, singrando mares sem praia. Viram, em uma palavra, tudo o que viam os pagãos: um lúgubre revérbero da Terra com os respectivos sofrimentos naturais eternizados, e até calabouços, patíbulos e instrumentos de tortura forjados por nossas próprias mãos.
Há, com efeito, demônios que, para melhor atormentarem os homens em seus corpos, tomam corpos. Uns têm asas de morcegos, cornos, couraças de escama, patas armadas de garras, dentes agudos, apresentando-se-nos armados de espadas, tenazes, pinças, serras, grelhas, foles, tudo ardente, não exercendo outro ofício por toda a eternidade, em relação à carne humana, que não o de carniceiros e cozinheiros; outros, transformados em leões ou víboras enormes, arrastam suas presas para cavernas solitárias; estes se transformam em corvos para arrancar os olhos a certos culpados, e aqueles em dragões volantes, prontos a se lançarem sobre o dorso das vítimas, arrebatando-as assustadiças, ensangüentadas, aos gritos, através de espaços tenebrosos, para arremessá-las alfim em tanques de enxofre. Aqui, nuvens de gafanhotos, de escorpiões gigantescos, cuja vista produz náuseas e calafrios, e o contacto, convulsões; além, monstros policéfalos, escancarando goelas vorazes, a sacudirem sobre as disformes cabeças as suas crinas de áspides, a triturarem condenados com sangrentas mandíbulas para vomitá-los mastigados, porém vivos, porque são imortais.
"Estes demônios de formas sensíveis, que lembram tão visivelmente os deuses do Amenti e do Tártaro, bem como os ídolos adorados pelos fenícios, moabitas e outros gentios vizinhos da Judéia, esses demônios não obram ao acaso, tendo cada um a sua função. O mal que praticam no inferno está em relação ao mal que inspiraram e fizeram cometer na Terra (1). Os condenados são punidos em todos os seus órgãos e sentidos, porque também a Deus ofenderam por todos os órgãos e sentidos. Os delinqüentes de gula são castigados pelos demônios da glutonaria, os preguiçosos pelos da preguiça, os luxuriosos pelos da devassidão, e assim por diante, numa variedade tão grande como a dos pecados. Terão frio, queimando-se, e calor, enregelados, ávidos igualmente de movimento e de repouso; sedentos e famintos; mil vezes mais fatigados que escravo ao fim do dia, mais doentes que os moribundos, mais alquebrados e chaguentos que os mártires, e isso para sempre.
    1) Singular punição, na verdade, esta de poder continuar em maior escala a pratica de mal menor feito na Terra. Mais racional seria o sofrerem os próprios malfeitores as conseqüências desse mal, em lugar de se darem ao prazer de proporcioná-lo a outrem. .
"Demônio algum se furta, nem se furtará jamais ao desempenho sinistro da sua tarefa, perfeitamente disciplinados e fiéis, quanto à execução das vingativas ordens que receberam. Aliás, sem isso que seria o inferno? Repousariam os pacientes se os algozes altercassem ou se enfadassem. Mas, nada de repouso nem disputas para quaisquer deles, pois apesar de maus e inumeráveis que são, estendendo-se de um a outro extremo do abismo, nunca se viu sobre a Terra súditos mais dóceis a seus príncipes, exércitos mais obedientes aos chefes ou comunidades monásticas mais humildes e submissas aos seus superiores. (1)
    (1) Esses mesmos demônios rebeldes a Deus quanto ao bem, são de uma docilidade exemplar quanto à pratica do mal. Nenhum se esquiva ou afrouxa durante a eternidade. Que singular metamorfose em quem fora criado puro e perfeito como os anjos! Não é de pasmar vê-los dar exemplos de harmonia, de concórdia inalterável quando os homens sequer não sabem viver em paz na Terra, antes se laceram mutuamente? Vendo-se o requinte dos castigos reservados aos condenados e comparando sua situação à dos demônios, é caso de perguntar quais os mais dignos de lástima - se as vítimas ou os algozes.
"Quase nada se conhece da ralé demoníaca, desses vis Espíritos que compõem as legiões de vampiros, sapos, escorpiões, corvos, hidras, salamandras e outros animais sem-nome; conhecem-se, porem, os nomes de muitos dos príncipes que comandam tais legiões, entre os quais Belfegor, o demônio da luxúria; Abadon ou Apolion, do homicídio; Belzebu, dos desejos impuros, ou senhor das moscas que engendram a corrupção; Mamon, da avareza; Moloc, Belial, Baalgad, Astarot e muitos outros, sem falar do seu chefe supremo, o sombrio arcanjo que no céu se chamava Lúcifer e no inferno se chama Satanás.
"Eis aí resumida a idéia que nos dão do inferno, sob o ponto de vista da sua natureza física e também das penas físicas que aí sofrem. Compulsai os escritos dos padres e dos antigos doutores; interrogai as pias legendas; observai as esculturas e painéis das nossas igrejas; atentai no que dizem dos púlpitos e sabereis ainda mais."
13. O Autor acompanha esse quadro das seguintes reflexões, cujo alcance procuraremos cada qual compreender:
"A ressurreição dos corpos é um milagre, mas Deus faz ainda um segundo milagre, dando a esses corpos mortais - já uma vez usados pelas passageiras provas da vida, já uma vez aniquilados - a virtude de subsistirem sem se dissolverem numa fornalha, onde se volatilizariam os próprios metais. Que se diga que a alma é o seu próprio algoz, que Deus não a persegue e apenas a abandona no estado infeliz por ela escolhido (conquanto esse abandono eterno de um ser desgraçado e sofredor pareça incompatível com a bondade divina), vá; mas o que se diz da alma e das penas espirituais, não se pode de modo algum dizer dos corpos e das respectivas penas, para perpetuação das quais já não basta que Deus se conserve impassível, mas, ao contrário, que intervenha e atue, sem o que sucumbiriam os corpos.
"Os teólogos supõem, portanto, que Deus opera, efetivamente, após a ressurreição dos corpos, esse segundo milagre de que falamos. Que em primeiro lugar tira dos sepulcros, que os devoravam, os nossos corpos de barro; retira-os tais como aí baixaram com suas enfermidades originais e degradações sucessivas da idade; restitui-nos a esse estado, decrépitos, friorentos, gotosos, cheios de necessidades, sensíveis a uma picada de abelha, assinalados dos estragos da vida e da morte, e está feito o primeiro milagre; depois, a esses corpos raquíticos, prontos a voltarem ao pó donde saíram, outorga propriedades que nunca tiveram - a imortalidade, esse dom que, em sua cólera (dizei antes em sua misericórdia), retirara a Adão ao sair do Éden - e eis completo o segundo milagre. Adão, quando imortal, era invulnerável, e deixando de ser invulnerável tornou-se mortal; a morte seguia de perto a dor. A ressurreição não nos restabelece, pois, nem nas condições físicas do homem inocente, nem nas do culpado, sendo antes uma ressurreição das nossas misérias somente, mas com um acréscimo de misérias novas, infinitamente mais horríveis.
"É, de alguma sorte, uma verdadeira criação, e a mais maliciosa que a imaginação tenha, porventura, ousado conceber. Deus muda de parecer, e, para ajuntar aos tormentos espirituais dos pecadores tormentos carnais que possam durar eternamente, transforma de súbito, por efeito do seu poder, as leis e propriedades por Ele mesmo estabelecidas de princípio aos compostos materiais, ressuscita carnes enfermas e corrompidas e, reunindo por um nó indestrutível esses elementos que tendem por si mesmos a separar-se, mantém e perpetua, contra a ordem natural, essa podridão viva, lançando-a ao fogo, não para purificá-la, mas para conservá-la tal qual é, sensível, sofredora, ardente, horrível e como a quer - imortal. Por este milagre se arvora Deus num dos algozes infernais, pois se os condenados só a si podem atribuir seus males espirituais, em compensação só a Deus poderão imputar os outros.
"Era pouco aparentemente o abandono, depois da morte, à tristeza, ao arrependimento, às angústias de uma alma que sente perdido o bem supremo. Segundo os teólogos, Deus irá buscá-las nessa noite, ao fundo desse abismo, chamando-as momentaneamente à vida, não para as consolar, mas para as revestir de um corpo horrendo, chamejante, imperecível, mais empestado que a túnica de Dejanira, abandonando-as então para sempre.
"Ainda assim Ele não as abandonará para sempre, em absoluto, visto como Céu e Terra não subsistem senão por ato permanente da sua vontade sempre ativa. Deus terá, portanto, sem cessar, esses condenados à mão, para impedir que o fogo se extinga em seus corpos, consumindo-os, e querendo que contribuam perenemente por seus perenes suplícios para edificação dos escolhidos."
14. - Dissemos, e com razão, que o inferno dos cristãos excedera o dos pagãos. Efetivamente, no Tártaro vêem-se culpados torturados pelo remorso, ante suas vítimas e seus crimes, acabrunhados por aqueles que espezinharam na vida terrestre; vemo-los fugirem à luz que os penetra, procurando em vão esconderem-se aos olhares que os perseguem; aí o orgulho é abatido e humilhado, trazendo todos o estigma do seu passado, punidos pelas próprias faltas, a ponto tal que, para alguns, basta entregá-los a si mesmos sem ser preciso aumentar-lhes os castigos. Contudo, são sombras, isto é, almas com corpos fluídicos, imagens da sua vida terrestre; lá não se vê os homens retomarem o corpo carnal para sofrer materialmente, com fogo a penetrar-lhes a pele, saturando-os até à medula dos ossos. Tampouco se vê o requinte das torturas que constituem o fundo do inferno cristão. Juizes inflexíveis, porém justos, proferem a sentença proporcional ao delito, ao passo que no império de Satã são todos confundidos nas mesmas torturas, com a materialidade por base, e banida toda e qualquer equidade.
Incontestavelmente, há hoje, no selo da Igreja mesma, muitos homens sensatos que não admitem essas coisas à risca, vendo nelas antes simples alegorias cujo sentido convém interpretar. Estas opiniões, no entanto, são individuais e não fazem lei, continuando a crença no inferno material, com suas conseqüências, a constituir um artigo de fé.
15. - Poderíamos perguntar como há homens que têm conseguido ver essas coisas em êxtase, se elas de fato não existem. Não cabe aqui explicar a origem das imagens fantásticas, tantas vezes reproduzidas com visos de realidade. Diremos apenas ser preciso considerar, em principio, que o êxtase é a mais incerta de todas as revelações (1), porquanto o estado de sobreexcitação nem sempre importa um desprendimento dalma tão completo que se imponha à crença absoluta, denotando muitas vezes o reflexo de preocupações da véspera. As idéias com que o Espírito se nutre e das quais o cérebro, ou antes o invólucro perispiritual correspondente a este, conserva a forma ou a estampa, se reproduzem amplificadas como em uma miragem, sob formas vaporosas que se cruzam, se confundem e compõem um todo extravagante. Os extáticos de todos os cultos sempre viram coisas em relação com a fé de que se presumem penetrados, não sendo, pois, extraordinário que Santa Teresa e outros, tal qual ela saturados de idéias infernais pelas descrições, verbais ou escritas, hajam tido visões, que não são, propriamente falando, mais que reproduções por efeito de um pesadelo. Um pagão fanático teria antes visto o Tártaro e as Fúrias, ou Júpiter, no Olimpo, empunhando o raio.
    (1) O Livro dos Espíritos, nºs 443 e 444.