sábado, 27 de julho de 2013

Princípios da Doutrina Espírita sobre as penas futuras

A Doutrina Espírita, no que respeita às penas futuras, não se baseia numa teoria preconcebida; não é um sistema substituindo outro sistema: em tudo ela se apóia nas observações, e são estas que lhe dão plena autoridade. Ninguém jamais imaginou que as almas, depois da morte, se encontrariam em tais ou quais condições; são elas, essas mesmas almas, partidas da Terra, que nos vêm hoje iniciar nos mistérios da vida futura, descrever-nos sua situação feliz ou desgraçada, as impressões, a transformação pela morte do corpo, completando, em uma palavra, os ensinamentos do Cristo sobre este ponto.
Preciso é afirmar que se não trata neste caso das revelações de um só Espírito, o qual poderia ver as coisas do seu ponto de vista, sob um só aspecto, ainda dominado por terrenos prejuízos. Tampouco se trata de uma revelação feita exclusivamente a um indivíduo que pudesse deixar-se levar pelas aparências, ou de uma visão extática suscetível de ilusões, e não passando muitas vezes de reflexo de uma imaginação exaltada. (1) T
rata-se, sim, de inúmeros exemplos fornecidos por Espíritos de todas as categorias, desde os mais elevados aos mais inferiores da escala, por intermédio de outros tantos auxiliares (médiuns) disseminados pelo mundo, de sorte que a revelação deixa de ser privilégio de alguém, pois todos podem prová-la, observando-a, sem obrigar-se à crença pela crença de outrem.
    (1) Vede cap. VI, nº 7, e O Livro dos Espíritos nºs 443 e 444.

sexta-feira, 26 de julho de 2013

A vida universal

53. - Essa imortalidade das almas, tendo por base o sistema do mundo físico, pareceu imaginária a certos pensadores prevenidos; qualificaram-na ironicamente de imortalidade viajora e não compreenderam que só ela é verdadeira ante o espetáculo da criação. Entretanto, pode-se tornar compreensível toda a sua grandeza, quase diríamos: toda a sua perfeição.
54. - Que as obras de Deus sejam criadas para o pensamento e a inteligência; que os mundos sejam moradas de seres que as contemplam e lhes descobrem, sob o véu, o poder e a sabedoria daquele que as formou, são questões que já nos não oferecem dúvida; mas, que sejam solidárias as almas que as povoam, é o que importa saber.
55. - Com efeito, a inteligência humana encontra dificuldade em considerar esses globos radiosos que cintilam na amplidão como simples massas de matéria inerte e sem vida. Custa-lhe a pensar que não haja, nessas regiões distantes, magníficos crepúsculos e noites esplendorosas, sóis fecundos e dias transbordantes de luz, vales e montanhas, onde as produções múltiplas da Natureza desenvolvam toda a sua luxuriante pompa. Custa-lhe a imaginar, digo, que o espetáculo divino em que a alma pode retemperar-se como em ,sua própria vida, seja baldo da exísténcia e carente de qualquer ser pensante que o possa conhecer.
56. - Mas, a essa idéia eminentemente justa da criação, faz-se mister acrescentar a da humanidade solidária e é nisso que consiste o mistério da eternidade futura.
Uma mesma família humana foi criada na universalidade dos mundos e os laços de uma fraternidade que ainda não sabeis apreciar foram postos a esses mundos. Se os astros que se harmonizam em seus vastos sistemas são habitados por inteligências, não o são por seres desconhecidos uns dos outros, mas, ao contrário, por seres que trazem marcado na fronte o mesmo destino, que se hão de encontrar temporariamente, segundo suas funções de vida, e encontrar de novo, segundo suas mútuas simpatias. É a grande família dos Espíritos que povoam as terras celestes; é a grande irradiação do Espírito divino que abrange a extensão dos céus e que permanece como tipo primitivo e final da perfeição espiritual.
57. - Por que singular aberração se há podido crer fosse mister negar à imortalidade as vastas regiões do éter, quando a encerravam dentro de um limite inadmissível e de uma dualidade absoluta? O verdadeiro sistema do mundo deveria, então, preceder à verdadeira doutrina dogmática e a Ciência preceder à Teologia? Esta se transviará tanto que irá colocar sua base sobre a Metafísica? A resposta é fácil e mostra que a nova filosofia se sentará triunfante nas ruínas da antiga, porque sua base se terá erguido vitoriosa sobre os antigos erros.

quarta-feira, 17 de julho de 2013

Relações de simpatia e antipatia dos Espíritos. Metades eternas

291 Além da simpatia geral de afinidade, os Espíritos têm entre si afeições particulares?
– Sim, como entre os homens. Mas o laço que une os Espíritos é mais forte quando estão livres do corpo, por não estarem mais expostos às alterações e volubilidades das paixões.
292 Há ódio entre os Espíritos?
– Somente há ódio entre os Espíritos impuros, e são eles que provocam entre vós as inimizades e as desavenças.
293 Dois seres que foram inimigos na Terra conservarão ressentimentos um contra o outro no mundo dos Espíritos?
– Não. Eles compreenderão que seu ódio era uma tolice e o motivo, pueril. Apenas os Espíritos imperfeitos conservam um certo rancor até que estejam depurados. Se foi unicamente por um interesse material que se tornaram inimigos, não pensarão mais nisso, ainda que estejam pouco desmaterializados. Se não há antipatia entre eles, o motivo de discussão não mais existindo, podem se rever com prazer.
Como dois escolares que atingiram a idade da razão reconhecem a infantilidade das brigas que tiveram na infância e deixam de se malquerer.
294 A recordação das más ações que dois homens praticaram um contra o outro é um obstáculo à simpatia?
– Sim, isso os leva a se distanciarem.
295 Que sentimento têm após a morte aqueles a quem fizemos mal aqui na Terra?
– Se são bons, perdoam de acordo com o vosso arrependimento. Se são maus, é possível que conservem ressentimento e algumas vezes até vos persigam numa outra existência. Isso pode representar uma punição, uma provação.
296 As afeições individuais dos Espíritos são passíveis de alteração?
– Não, porque não podem se enganar. Eles não têm mais a máscara sob a qual se escondem os hipócritas;eis por que as suas afeições são inalteráveis quando são puros. O amor que os une é para eles a fonte de uma felicidade suprema.
297 A afeição que dois seres tiveram na Terra sempre continuará no mundo dos Espíritos?
– Sim, sem dúvida, se é fundada sobre uma simpatia verdadeira. Mas se as causas físicas foram maiores que a simpatia, ela cessa com a causa. As afeições entre os Espíritos são mais sólidas e mais duráveis do que as da Terra, porque não estão sujeitas aos caprichos dos interesses materiais e do amor-próprio.
298 As almas que devem unir-se estão predestinadas a essa união desde a origem e cada um de nós tem, em alguma parte do universo, sua metade à qual um dia fatalmente se unirá?
– Não. Não existe união particular e fatal entre duas almas. A união existe entre todos os Espíritos, mas em diferentes graus, de acordo com a categoria que ocupam, ou seja, de acordo com a perfeição que adquiriram: quanto mais perfeitos, mais unidos. Da discórdia nascem todos os males humanos; da concórdia resulta a felicidade completa.
299 Em que sentido devemos entender a palavra metade, de que certos Espíritos se servem para designar os Espíritos simpáticos?
– A expressão é inexata. Se um Espírito fosse a metade de um outro, uma vez separados, ambos estariam incompletos.
300 Dois Espíritos perfeitamente simpáticos6, uma vez reunidos, o serão pela eternidade, ou podem se separar e se unir a outros?
– Todos os Espíritos são unidos entre si. Falo daqueles que atingiram a perfeição. Nas esferas inferiores, quando um Espírito se eleva, já não tem mais a mesma simpatia por aqueles que deixou para trás.
301 Dois Espíritos simpáticos são o complemento um do outro, ou essa simpatia é o resultado de uma identidade perfeita?
– A simpatia que atrai um Espírito ao outro é o resultado da perfeita concordância de suas tendências, de seus instintos; se um tivesse que completar o outro, perderia sua individualidade.
302 A identidade necessária para a simpatia perfeita consiste apenas na semelhança de pensamentos e sentimentos, ou ainda na uniformidade dos conhecimentos adquiridos?
– Na igualdade dos graus de elevação.
303 Os Espíritos que não são simpáticos hoje podem tornar-se mais tarde?
– Sim, todos o serão. Assim, o Espírito que está hoje numa esfera inferior, ao se aperfeiçoar, alcançará a esfera onde está o outro. Seu reencontro acontecerá mais prontamente se o que está num grau mais evoluído permanecer estacionário por não ter conseguido superar as provas a que se submeteu.
303 a Dois Espíritos simpáticos podem deixar de sê-lo?
– Certamente, se um deles for preguiçoso.
A teoria das metades eternas7 é apenas uma figura que representa a união de dois Espíritos simpáticos. É uma expressão usada até mesmo na linguagem comum e não deve ser tomada ao pé da letra. Os Espíritos que dela se serviram certamente não pertencem a uma ordem elevada. A esfera de suas idéias é limitada e expressa seus pensamentos pelos termos de que se serviam durante a vida corporal. É preciso rejeitar essa idéia de dois Espíritos criados um para o outro, e que deverão, portanto, um dia, fatalmente, se reunir na eternidade, após estarem separados durante um espaço de tempo mais ou menos longo.

sábado, 6 de julho de 2013

Relações após a morte


274 As diferentes ordens de Espíritos estabelecem entre eles uma hierarquia de poderes? Existe entre eles subordinação e autoridade?
– Sim, muito grande. Os Espíritos têm uns para com os outros uma autoridade relativa à sua superioridade, que exercem por uma ascendência moral irresistível.
274 a Os Espíritos inferiores podem escapar da autoridade dos superiores?
– Eu disse:irresistível.
275 O poder e a consideração que um homem desfrutou na Terra lhe dão alguma supremacia no mundo dos Espíritos?
– Não. Os pequenos serão elevados e os grandes rebaixados. Lede os Salmos5.
275 a Como devemos entender essa elevação e esse rebaixamento?
– Não sabeis que os Espíritos são de diferentes ordens, de acordo com seu mérito? Pois bem! O maior da Terra pode estar no último lugar entre os Espíritos, enquanto seu servidor pode estar no primeiro. Compreendei isso? Jesus disse: “Todo aquele que se humilhar será elevado e todo aquele que se elevar será humilhado”.
276 Aquele que foi grande na Terra e se encontra entre os Espíritos de ordem inferior passa por humilhação?
– Freqüentemente muito grande, principalmente se era orgulhoso e invejoso.
277 O soldado que, após a batalha, encontra seu general no mundo dos Espíritos, o reconhece ainda como seu superior?
– O título não é nada; a superioridade real é tudo.
278 Os Espíritos de diferentes ordens se misturam uns com os outros?
– Sim e não, ou seja, eles se vêem, mas se distinguem uns dos outros e se afastam ou se aproximam, de acordo com os seus sentimentos, como acontece entre vós.Constituem um mundo do qual o vosso dá uma vaga idéia.Os da mesma categoria se reúnem por afinidade e formam grupos ou famílias de Espíritos unidos pela simpatia e objetivo a que se propuseram: os bons, pelo desejo de fazer o bem; os maus, pelo desejo de fazer o mal, pela vergonha de suas faltas e pela necessidade de se encontrar entre seres semelhantes.
Exatamente como numa grande cidade, onde os homens de todas as categorias e condições se vêem e se reencontram sem se confundirem; onde as sociedades se formam por semelhanças de gostos; onde o vício e a virtude convivem cada um à sua maneira.
279 Todos os Espíritos têm reciprocamente acesso uns aos outros?
– Os bons vão a toda parte e é preciso que seja desse modo para que possam exercer sua influência sobre os maus. As regiões habitadas pelos bons são interditadas aos Espíritos imperfeitos, a fim de que não as perturbem com suas más paixões.
280 Qual é a natureza das relações entre os bons e os maus Espíritos?
– Os bons empenham-se em combater as más tendências dos outros, a fim de ajudá-los a elevar-se; é sua missão.
281 Por que os Espíritos inferiores gostam de nos induzir ao mal?
– Por inveja de não ter merecimento para estar entre os bons. Seu desejo é impedir, tanto quanto possam, os Espíritos inexperientes de alcançar o bem supremo; querem que os outros sintam o que eles mesmos sentem. Não acontece também o mesmo entre vós?
282 Como os Espíritos se comunicam entre si?
– Eles se vêem e se compreendem; a palavra se materializa pelo reflexo do Espírito. O fluido universal estabelece entre eles uma comunicação constante; é o veículo da transmissão do pensamento, assim como o ar é o veículo do som. É uma espécie de telégrafo universal que liga todos os mundos e permite aos Espíritos comunicarem-se de um mundo a outro.
283 Os Espíritos podem esconder seus pensamentos? Podem se ocultar uns dos outros?
– Não, para eles tudo está a descoberto, principalmente entre os que são perfeitos. Podem se afastar uns dos outros, mas sempre se vêem. Isso não é, entretanto, uma regra absoluta, porque certas categorias de Espíritos podem muito bem se tornar invisíveis para outros, se julgarem útil fazê-lo.
284 Como os Espíritos, que não têm mais corpo, podem constatar a sua individualidade e se distinguir dos outros que os rodeiam?
– Eles constatam sua individualidade pelo perispírito, que os distingue uns dos outros, assim como pelo corpo se podem distinguir os homens.
285 Os Espíritos se reconhecem por terem coabitado a Terra? O filho reconhece seu pai, o amigo reconhece seu amigo?
– Sim, e assim de geração em geração.
285 a Como os homens que se conheceram na Terra se reconhecem no mundo dos Espíritos?
– Nós vemos nossa vida passada e a lemos como num livro; ao ver o passado de nosso amigos e inimigos, vemos sua existência da vida à morte.
286 A alma, ao deixar o corpo logo após a morte, vê imediatamente parentes e amigos que a precederam no mundo dos Espíritos?
– Imediatamente não é bem a palavra. Como já dissemos, ela precisa de algum tempo para reconhecer seu estado e se desprender da matéria.
287 Como a alma é acolhida em seu retorno ao mundo dos Espíritos?
– A do justo, como um irmão bem-amado que é esperado há muito tempo. A do mau, como um ser que se equivocou.
288 Que sentimento têm os Espíritos impuros quando vêem um mau Espírito chegando até eles?
– Os maus ficam satisfeitos ao ver seres à sua imagem e privados, como eles, da felicidade infinita, como, na Terra, um perverso entre seus iguais.
289 Nossos parentes e amigos vêm algumas vezes ao nosso encontro quando deixamos a Terra?
– Sim, eles vêm ao encontro da alma que estimam. Felicitam-na como no retorno de uma viagem, se ela escapou dos perigos do caminho, e a ajudam a se despojar dos laços corporais. É a concessão de uma graça para os bons Espíritos quando aqueles que amam vêm ao seu encontro, enquanto o infame, o mau, sente-se isolado ou é apenas rodeado por Espíritos semelhantes a ele: é uma punição.
290 Os parentes e amigos sempre se reúnem depois da morte?
– Isso depende de sua elevação e do caminho que seguem para seu adiantamento. Se um deles é mais avançado e marcha mais rápido do que o outro, não poderão permanecer juntos. Poderão se ver algumas vezes, mas somente estarão para sempre reunidos quando marcharem lado a lado, ou quando atingirem a igualdade na perfeição. Além disso, a impossibilidade de ver seus parentes e seus amigos é, algumas vezes, uma punição

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Será lícito abreviar a vida de um doente que sofra sem esperança de cura?


28. Um homem está agonizante, presa de cruéis sofrimentos. Sabe-se que seu estado é desesperador. Será lícito pouparem-se-lhe alguns instantes de angústias, apressando-se-lhe o fim?
Quem vos daria o direito de prejulgar os desígnios de Deus? Não pode ele conduzir o homem até à borda do fosso, para dai o retirar, a fim de fazê-lo voltar a si e alimentar idéias diversas das que tinha? Ainda que haja chegado ao último extremo um moribundo, ninguém pode afirmar com segurança que lhe haja soado a hora derradeira. A Ciência não se terá enganado nunca em suas previsões?
Sei bem haver casos que se podem, com razão, considerar desesperadores; mas, se não há nenhuma esperança fundada de um regresso definitivo à vida e à saúde, existe a possibilidade, atestada por inúmeros exemplos, de o doente, no momento mesmo de exalar o último suspiro, reanimar-se e recobrar por alguns instantes as faculdades! Pois bem: essa hora de graça, que lhe é concedida, pode ser-lhe de grande importância. Desconheceis as reflexões que seu Espírito poderá fazer nas convulsões da agonia e quantos tormentos lhe pode poupar um relâmpago de arrependimento.
O materialista, que apenas vê o corpo e em nenhuma conta tem a alma, é inapto a compreender essas coisas; o espírita, porém, que já sabe o que se passa no além-túmulo, conhece o valor de um último pensamento. Minorai os derradeiros sofrimentos, quanto o puderdes; mas, guardai-vos de abreviar a vida, ainda que de um minuto, porque esse minuto pode evitar muitas lágrimas no futuro. - S. Luís. (Paris, 1860.)