(parte III)
- Como enfrentar o desafio da educação da criança carente? O que nos aconselha no sentido de criarmos um trabalho com essas crianças de rua. Gostaria de saber se a merenda é prejudicial quando colocada como prêmio aos que freqüentam mais a evangelização?
Divaldo: A melhor maneira de enfrentar- se um desafio é começá- lo. Chamar um cooperador, mais um e formar um grupo.
É provável que muitos aqui não c onheçam a história da célebre Universidade Mackenzie, de São Paulo.
Começou quando uma educadora americana notou, em São Paulo, na rua em que morava, um grupo de crianças
vadias. Ela, que preparava muito bem broa de milho, pôs- se a atrair os meninos que ficavam à porta sentindo o cheiro, e começou a dar- lhes o alimento doce. Depois, resolveu que somente daria broas às crianças que viessem,
no Domingo, pela manhã, para ouviram- na falar do Evangelho de Jesus.
Depois que vieram vários por causa da broa, ela explicou, que só participaria da reunião, para depois comer a broa,
quem viesse tomado banho, de cabelo penteado e pés calçados. Mais tarde, ela notou que poderia fazer algo mais
do que a broa. T eve a idéia de preparar um lanche mais substancial para atrair mais meninos de rua.
Eles aumentaram de tal forma que chegavam à hora em que ela estava na confecção do alimento.
Ocorreu- lhe estabelecer que, a partir da data X , somente teria acesso à aula de Evangelho, para depois comer,
quem soubesse ler e escrever. E c omo eles não o sabiam, ela pôs uma mesa no fundo do quintal e abriu uma escolade iniciação alfabética. Hoje é o Mackenzie, que tem uma bela e longa história, inclusive, foi visitado por D. Pedro II
que lhe fez uma expressiva doação.
Uma americana, Mary Jane Mac Leod Bethune, começou a educar crianças num depósito de lixo. A lei da
segregação racial nos Estados Unidos era muito severa contra os negros. Ela era negra, havia ganho uma bolsa de
estudos de uma costureira quaker, e, ao se formar não tinha alunos. Quando foi nomeada não havia escola. Ela então reuniu três caixões vazios de c ebola, colocou- os embaixo de uma árvore, num depósito de lixo, convocou três descendentes de escravos e começou a ensinar- lhes a ler e escrever
Oportunamente, quando Henry Ford foi a Osmond, uma praia da Califórnia, ela foi visitá- lo. Ao chegar à porta, foi barrada, porque, no hotel, negros não podiam entrar, somente na condição de serviço. Ela subiu a escadaria de incêndio de nove andares, saltou a janela, tocou a campainha da porta, e, quando o mordomo veio abri- la, disse lhe: Quero falar c om Mr.Ford. O mordomo, que também era negro, respondeu: Mas ele não recebe negros! E falou lhe baixinho: Como você se atreve a vir aqui? Ela reagiu bem alto: Eu tenho uma entrevista marcada c om Mr. Ford, que assinalei por telefone. Eu sou Mary Jane.
Ouvindo- a, Mr. Ford redargüiu: Entre, senhora.
Quando ela se adentrou, ele, que era humanitário e acreditava na reencarnação, exclamou, surpreso: Mas eu não sabia que a senhora era uma negra!
Ela sorriu, elucidando: Não totalmente. Eu duvido que o senhor c onheç a dentes mais alvos e um olho mais brando do que o meu.
Ele a adorou, porque uma mulher que era superior a essas mesquinharias humanas merecia respeito.
Perguntou- lhe:
O que a senhora deseja de mim? - Desejo que o senhor me ajude a c onstruir a minha esc ola, a ampliá- la. Gostaria
de levá- lo ao meu terreno, a fim de que o senhor c onstrua c omigo a esc ola dos meus sonhos. Ele aquiesc eu.
Desc eu c om ela pelo elevador por onde não pudera subir. Quando ela passou pela porta e o atendente a viu, ela
ainda, só para surpreender, pegou o braç o de Mr.Ford, c om a maior intimidade. Sentou- se num c arro c oupé erto,
desfilando pela c idade de Osmond e olhando para todo mundo. Isso há mais ou menos sessenta anos. Era muita
c oragem!
Levou- o ao seu terreno. Quando c hegou ao depósito de lixo, disse- lhe:
É aqui, senhor, que eu quero c onstruir a minha esc ola.
Ele, surpreso, retruc ou:
- Aqui? E onde está sua esc ola?s c anc eladas naquele período.
Certa feita, ela estava numa c idade do Sul, onde a intolerânc ia rac ial era muito grande e teve uma c rise de
apendic ite. Foi levada de emergênc ia ao hospital e c oloc ada na mesa c irúrgic a. Quando os médic os entraram e a
viram, disseram: "Operar uma negra?" E saíram da sala. Ela pôs a mão no lugar dorido, olhou para a janela e orou: "O
Senhor deve estar brinc ando c omigo. Ac ho que o Senhor só me deu essa apendic ite para me desafiar. Porque se o
Senhor me ajuda a sair desta mesa, eu Lhe prometo que, na Améric a, onde o Senhor me pôs na T erra, nunc a mais
morrerá ninguém de apendic ite pelo c rime de ser negro, porque eu não deixarei.
Levantou- se e ergueu uma Fac uldade de Medic ina. É uma das histórias mais lindas do séc ulo, mas, infelizmente,
desc onhec ida dos brasileiros.
Quando estourou a guerra da Coréia, ela já era um vulto venerando no mundo. Foi c onselheira da UNESCO e da ONU
para assuntos rac iais.
Outra vez, ela vinha atravessando o c orredor para negros, no aeroporto de uma c idade do Sul. Um rapaz branc o
saltou a c erc a, abraç ou- a e c hamou- a de mamãe. Então o c olega reagiu: É louc o? Como pode abraç ar esta negra?
Ele explic ou: É por c ausa desta negra que eu vou dar a minha vida na Coréia. Quando eu fui c onvoc ado para a
guerra, em um país que jamais eu havia ouvido falar o nome, fui ao meu professor de geografia e perguntei: Onde é
que fic a mesmo essa Coréia? Ele mostrou no mapa uma região miserável, perdida, que eu não sei quem estava lá. E
eu vou prá lá, porque me disseram que eu vou salvar a democ rac ia, que eu aprendi c om esta negra, que ama a
todos os homens, sem perguntar o nome, a c or, a raç a ou a c renç a.
Ela esc reveu mais tarde: Eu poderia ter morrido naquele dia, porque minha missão, na T erra, havia ac abado.
Começ amos, na Mansão do Caminho, onde temos duas mil e quinhentas c rianç as, que têm o lanc he garantido, mais
ou menos, c omo narramos. Um dia demo- nos c onta que, na rua, havia muitos meninos que não estavam na esc ola,
e, por isso, não c omiam.
Criamos, para eles, uma sopa, há três anos. Vieram os meninos e suas mães. Depois de um ano estabelec emos que
só tomariam a sopa se viessem limpos. Como no bairro a dific uldade de água é muito grande, passaram a tomar
banho c onosc o. Se vêm desc alç os, damos alperc atas. Se as perderem, não tomam a sopa. Porque, o perder aqui, é
vender. Saem c om as alperc atas e vendem- nas, a fim de ganharem novas no outro dia.
Depois, só tomam a sopa se estudarem. O interesse c resc eu e hoje transformamo- la em almoç o, pois já estão tendo
aula normal. T êm a merenda às dez horas e o almoç o ao meio- dia. Começ amos c om vinte, estamos c om quase
trezentos. Fazemos a evangelizaç ão, c omo introduç ão ao trabalho da educ aç ão.
Ao fim do ano, os que tiverem melhor aprendizado são matric ulados na 1ª série da Esc ola Jesus Cristo. Este ano
matric ulamos quarenta e seis e no próximo teremos o dobro.
Começ amos, pois, sem maiores preoc upaç ões. Inic iamos sob a c opa de uma mangueira e sobre três c aixas de
c ebola, na rua Barão de Cotegipe, 124. Eu tinha lido, então, a vida de Mary Jane. Hoje estamos c om duas mil e
quinhentas c rianç as internas, semi- internas e externas. Pretendemos ainda aumentar o número, e, dentro de algunsdias, inauguraremos uma esc ola de auxiliar de enfermagem, para, depois, uma esc ola de magistério.
Fonte: http://geoc ities.yahoo.c om.br/ofic inaespirita/entrevista.html
(enviado por Milton kenedy)