quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Entrevista extraído do livro "Palavras de Luz", Espíritos Diversos, psicografia de Divaldo P. Franco.
(parte III)
- Como enfrentar o desafio da educação da criança carente? O que nos aconselha no sentido de criarmos um trabalho com essas crianças de rua. Gostaria de saber se a merenda é prejudicial quando colocada como prêmio aos que freqüentam mais a evangelização?
Divaldo: A melhor maneira de enfrentar- se um desafio é começá- lo. Chamar um cooperador, mais um e formar um grupo.
É provável que muitos aqui não c onheçam a história da célebre Universidade Mackenzie, de São Paulo.
Começou quando uma educadora americana notou, em São Paulo, na rua em que morava, um grupo de crianças
vadias. Ela, que preparava muito bem broa de milho, pôs- se a atrair os meninos que ficavam à porta sentindo o cheiro, e começou a dar- lhes o alimento doce. Depois, resolveu que somente daria broas às crianças que viessem,
no Domingo, pela manhã, para ouviram- na falar do Evangelho de Jesus.
Depois que vieram vários por  causa da broa, ela explicou, que só participaria da reunião, para depois comer a broa,
quem viesse tomado banho, de cabelo penteado e pés calçados. Mais tarde, ela notou que poderia fazer algo mais
do que a broa. T eve a idéia de preparar um lanche mais substancial para atrair mais meninos de rua.
Eles aumentaram de tal forma que chegavam à hora em que ela estava na confecção do alimento.
Ocorreu- lhe estabelecer que, a partir da data X , somente teria acesso à aula de Evangelho, para depois comer,
quem soubesse ler e escrever. E c omo eles não o sabiam, ela pôs uma mesa no fundo do quintal e abriu uma escola
de iniciação alfabética. Hoje é o Mackenzie, que tem uma bela e longa história, inclusive, foi visitado por D. Pedro II
que lhe fez uma expressiva doação.
Uma americana, Mary Jane Mac Leod Bethune, começou a educar crianças num depósito de lixo. A lei da
segregação racial nos Estados Unidos era muito severa contra os negros. Ela era negra, havia ganho uma bolsa de
estudos de uma costureira quaker, e, ao se formar não tinha alunos. Quando foi nomeada não havia escola. Ela então reuniu três caixões vazios de c ebola, colocou- os embaixo de uma árvore, num depósito de lixo, convocou três descendentes de escravos e começou a ensinar- lhes a ler e escrever
Oportunamente, quando Henry Ford foi a Osmond, uma praia da Califórnia, ela foi visitá- lo. Ao chegar à porta, foi barrada, porque, no hotel, negros não podiam entrar, somente na condição de serviço. Ela subiu a escadaria de incêndio de nove andares, saltou a janela, tocou a campainha da porta, e, quando o mordomo veio abri- la, disse lhe: Quero falar c om Mr.Ford. O mordomo, que também era negro, respondeu: Mas ele não recebe negros! E falou lhe baixinho: Como você se atreve a vir aqui? Ela reagiu bem alto: Eu tenho uma entrevista marcada c om Mr. Ford, que assinalei por telefone. Eu sou Mary Jane.
Ouvindo- a, Mr. Ford redargüiu: Entre, senhora.
Quando ela se adentrou, ele, que era humanitário e acreditava na reencarnação, exclamou, surpreso: Mas eu não sabia que a senhora era uma negra!
Ela sorriu, elucidando: Não totalmente. Eu duvido que o senhor c onheç a dentes mais alvos e um olho mais brando do que o meu.
Ele a adorou, porque uma mulher que era superior a essas mesquinharias humanas merecia respeito.
Perguntou- lhe:
O que a senhora deseja de mim? - Desejo que o senhor me ajude a c onstruir a minha esc ola, a ampliá- la. Gostaria
de levá- lo ao meu terreno, a fim de que o senhor c onstrua c omigo a esc ola dos meus sonhos. Ele aquiesc eu.
Desc eu c om ela pelo elevador por onde não pudera subir. Quando ela passou pela porta e o atendente a viu, ela
ainda, só para surpreender, pegou o braç o de Mr.Ford, c om a maior intimidade. Sentou- se num c arro c oupé erto,
desfilando pela c idade de Osmond e olhando para todo mundo. Isso há mais ou menos sessenta anos. Era muita
c oragem!
Levou- o ao seu terreno. Quando c hegou ao depósito de lixo, disse- lhe:
É aqui, senhor, que eu quero c onstruir a minha esc ola.
Ele, surpreso, retruc ou:
- Aqui? E onde está sua esc ola?s c anc eladas naquele período.
Certa feita, ela estava numa c idade do Sul, onde a intolerânc ia rac ial era muito grande e teve uma c rise de
apendic ite. Foi levada de emergênc ia ao hospital e c oloc ada na mesa c irúrgic a. Quando os médic os entraram e a
viram, disseram: "Operar uma negra?" E saíram da sala. Ela pôs a mão no lugar dorido, olhou para a janela e orou: "O
Senhor deve estar brinc ando c omigo. Ac ho que o Senhor só me deu essa apendic ite para me desafiar. Porque se o
Senhor me ajuda a sair desta mesa, eu Lhe prometo que, na Améric a, onde o Senhor me pôs na T erra, nunc a mais
morrerá ninguém de apendic ite pelo c rime de ser negro, porque eu não deixarei.
Levantou- se e ergueu uma Fac uldade de Medic ina. É uma das histórias mais lindas do séc ulo, mas, infelizmente,
desc onhec ida dos brasileiros.
Quando estourou a guerra da Coréia, ela já era um vulto venerando no mundo. Foi c onselheira da UNESCO e da ONU
para assuntos rac iais.
Outra vez, ela vinha atravessando o c orredor para negros, no aeroporto de uma c idade do Sul. Um rapaz branc o
saltou a c erc a, abraç ou- a e c hamou- a de mamãe. Então o c olega reagiu: É louc o? Como pode abraç ar esta negra?
Ele explic ou: É por c ausa desta negra que eu vou dar a minha vida na Coréia. Quando eu fui c onvoc ado para a
guerra, em um país que jamais eu havia ouvido falar o nome, fui ao meu professor de geografia e perguntei: Onde é
que fic a mesmo essa Coréia? Ele mostrou no mapa uma região miserável, perdida, que eu não sei quem estava lá. E
eu vou prá lá, porque me disseram que eu vou salvar a democ rac ia, que eu aprendi c om esta negra, que ama a
todos os homens, sem perguntar o nome, a c or, a raç a ou a c renç a.
Ela esc reveu mais tarde: Eu poderia ter morrido naquele dia, porque minha missão, na T erra, havia ac abado.
Começ amos, na Mansão do Caminho, onde temos duas mil e quinhentas c rianç as, que têm o lanc he garantido, mais
ou menos, c omo narramos. Um dia demo- nos c onta que, na rua, havia muitos meninos que não estavam na esc ola,
e, por isso, não c omiam.
Criamos, para eles, uma sopa, há três anos. Vieram os meninos e suas mães. Depois de um ano estabelec emos que
só tomariam a sopa se viessem limpos. Como no bairro a dific uldade de água é muito grande, passaram a tomar
banho c onosc o. Se vêm desc alç os, damos alperc atas. Se as perderem, não tomam a sopa. Porque, o perder aqui, é
vender. Saem c om as alperc atas e vendem- nas, a fim de ganharem novas no outro dia.
Depois, só tomam a sopa se estudarem. O interesse c resc eu e hoje transformamo- la em almoç o, pois já estão tendo
aula normal. T êm a merenda às dez horas e o almoç o ao meio- dia. Começ amos c om vinte, estamos c om quase
trezentos. Fazemos a evangelizaç ão, c omo introduç ão ao trabalho da educ aç ão.
Ao fim do ano, os que tiverem melhor aprendizado são matric ulados na 1ª série da Esc ola Jesus Cristo. Este ano
matric ulamos quarenta e seis e no próximo teremos o dobro.
Começ amos, pois, sem maiores preoc upaç ões. Inic iamos sob a c opa de uma mangueira e sobre três c aixas de
c ebola, na rua Barão de Cotegipe, 124. Eu tinha lido, então, a vida de Mary Jane. Hoje estamos c om duas mil e
quinhentas c rianç as internas, semi- internas e externas. Pretendemos ainda aumentar o número, e, dentro de algunsdias, inauguraremos uma esc ola de auxiliar de enfermagem, para, depois, uma esc ola de magistério.
Fonte: http://geoc ities.yahoo.c om.br/ofic inaespirita/entrevista.html
(enviado por Milton kenedy)

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Grandes Personagens do Espiritismo - delaide Augusta Câmara

Adelaide Augusta Câmara
(Aura Celeste)
1874 – 1944

Adelaide Augusta Câmara foi uma das mais devotadas figuras femininas do Espiritismo no Brasil, bem conhecida pelo seu pseudônimo de Aura Celeste.
Encarnou na cidade de Natal, Estado do Rio Grande do Norte, em 11 de janeiro de 1874, e desencarnou na cidade do Rio de Janeiro, em 24 de outubro de 1944.
Aura Celeste veio para a antiga Capital Federal em janeiro de 1896, graças ao auxílio de alguns militantes do Protestantismo, a cuja religião pertencia, os quais lhe propiciaram a oportunidade de lecionar no Colégio Ram Williams, o que fez com muita proficiência, durante algum tempo, até que organizou em sua própria residência, um curso primário, onde muitos homens ilustres do meio político e social brasileiro aprenderam com ela as primeiras letras.
Foi nesse período de sua vida, no ano de 1898, que começou a sentir as primeiras manifestações de suas faculdades mediúnicas. Nessa época, o grande Bezerra de Menezes dirigia os destinos da Federação Espírita Brasileira, revestido daquela auréola de prestígio e de respeito que crentes e descrentes lhe davam, e o Espiritismo era o assunto de todas as conversas, não só pelos fenômenos e curas mediúnicas, como pela propaganda falada, pelos livros e pela imprensa.
Sob a sábia orientação de Bezerra de Menezes começou a sua notável carreira mediúnica como psicografa, no Centro Espírita Ismael. O grande apóstolo do Espiritismo brasileiro, pela sua conhecida clarividência, prognosticou, certa vez, que Adelaide Câmara, com as prodigiosas faculdades de que era dotada, um dia assombraria crentes e descrentes. E essa profecia de Bezerra não se fez esperar, pois em breve Adelaide Câmara, como médium auditiva, começou a trabalhar na propagação da Doutrina, fazendo conferências e receitando, com tal acerto e exatidão, que o seu nome se irradiou por todo o País.
Com a desencarnação do inolvidável mestre, doutor Bezerra de Menezes, em 1900, Adelaide Câmara aproximou-se do grande seareiro que foi Inácio Bittencourt e, nas sessões do Círculo Espírita “Cáritas”, passou a emprestar o seu concurso magnífico como médium e como propagandista de primeira grandeza.
Contraindo núpcias em 1906, os afazeres do lar, e a educação dos filhos mais tarde, obrigaram-na a afastar-se da propaganda ativa nos Centros, mas, nem por isso, ficou inativa. Nas horas de lazer, entrava em confabulação com os guias espirituais, e pôde receber e produzir páginas admiráveis, que foram dadas à publicidade na obra “Do Além”, em 21 fascículos, e no livro “Orvalho do Céu”.
Foi aí que adotou o pseudônimo de Aura Celeste, nome com que ficou conhecida no Brasil inteiro.
Em 1920, retorna à tribuna e aos trabalhos mediúnicos, com tal vigor e entusiasmo, que o seu organismo de compleição franzina ressentiu-se um pouco, mas, nem por isso, deixou ela de cumprir com os seus deveres. O Dr. Joaquim Murtinho era o médico espiritual que, por seu intermédio, começou a trabalhar na cura dos enfermos e necessitados, diagnosticando e curando a todos quantos lhe batiam à porta, desenvolvendo-lhe, espontaneamente, diversas faculdades mediúnicas nesse período.
Além das mediunidades de incorporação, audição, vidência, psicográfica, curadora, intuitiva, possuía Adelaide Câmara, ainda, a extraordinária faculdade da bilocação. Muitas curas operou em diferentes lugares do Brasil, a eles se transportando em “desdobramento fluídico”, sendo visível o seu corpo perispirítico, como aconteceu em Juiz de Fora e Corumbá (provadamente constatado), por enfermos que, sob os seus cuidados, a viram aplicar-lhes “passes”.
Poetisa, conferencista, contista, e educadora sobretudo, deixou excelentes obras lítero-doutrinárias, em prosa e verso, assinando-os geralmente com o seu pseudônimo. É assim que deu a público “Vozes d”Alma”, versos; “Sentimentais”, versos; “Aspectos da Alma”, contos; “Palavras Espíritas”, palestras; “Rumo à Verdade” e “Luz do Alto”. Esparsos em revistas e jornais espíritas, há muitas poesias e artigos doutrinários de sua autoria.
O grande jornalista e literato Leal de Souza, referiu-se a Adelaide Câmara como “a grande Musa moderna, a Musa espiritualista”.
Em 1924, teve as suas vistas voltadas para o campo da assistência às crianças órfãs e à velhice desamparada. Centralizou todos os seus esforços no propósito de materializar esse antigo anseio de sua alma. Pouco, entretanto, pôde fazer em quase três anos de lutas. Aconteceu, então, que um confrade, João Carlos de Carvalho, estava angariando donativos e meios para a fundação de uma instituição dessa natureza, e, um dia, faz-lhe entrega da lista de donativos a fim de que Adelaide Câmara arranjasse novos óbolos para tão humanitário fim. Dias depois, João Carvalho desencarna, e ela fica de posse da lista e do dinheiro arrecadado.
Passados alguns meses, o Sr. Lopes, proprietário da Casa Lopes, que andava estudando a Doutrina, mostrou-se interessado na organização de uma instituição de amparo e assistência aos órfãos e Adelaide lhe informa possuir uma lista com alguns donativos para esse fim. A idéia foi recebida com entusiasmo e logo concretizada. Alugaram uma casa em Botafogo e aí foi instalado, no dia 13 de março de 1927, o Asilo Espírita “João Evangelista”, sendo ela a sua primeira diretora. Compareceu a essa festiva inauguração o doutor Guillon Ribeiro, então 2o. secretário da Federação Espírita Brasileira e representante desta naquela solenidade. Adelaide Câmara, em breves palavras, exprimiu o júbilo de sua alma, afirmando realizado o ideal de toda a sua existência – “ser mãe de órfãos, graça do céu que não trocaria por todo o ouro e todas as grandezas do mundo”.
Dedicou, daí por diante, todo o seu tempo a essa grandiosa obra de caridade, emprestando-lhe as luzes do seu saber e de sua bondade até o dia em que serenamente entregou a alma a Deus.
Com extremosa dedicação, trabalhou Aura Celeste em várias sociedades espíritas beneficentes da cidade do Rio de Janeiro, dando a todas elas o melhor de suas energias e de sua inteligência.
No Asilo Espírita “João Evangelista”, porém, foi onde realizou sua tarefa máxima, não só como competente educadora, mas também como hábil orientadora de inumeráveis jovens que ali receberam, como ainda recebem, instrução intelectual e educação moral.
A vida e a obra de Adelaide Câmara foram uma escada de luz, uma afirmação de fé e humildade, e um perene testemunho de amor. Era a grande educadora que ensinava educando e educava ensinando, pelo exemplo.
Médium sem vaidades, sincera e de honestidade a toda prova, praticava a mediunidade como verdadeiro sacerdócio.
Dotada de sólida cultura teria, se quisesse, conquistado fama no mundo das letras. Poetisa de vastos recursos, oradora convincente e natural, senhora de estilo vigoroso e de fulgurante imaginação, tudo deu e tudo fez, com o cabedal que possuía, para o bom nome e o engrandecimento da Doutrina Espírita.
O Asilo Espírita “João Evangelista”, no Rio de Janeiro, aí está ainda, em sede própria, atestando a obra e o devotamento à causa do bem daquela nobre mulher que se chamou Adelaide Augusta Câmara.



terça-feira, 13 de agosto de 2013

Ligações de família


14/12/2001 - Todas as pessoas que desencarnam permanecem ligados ao planeta, ao ambiente e ao círculo familiar?
Prezada H. Sua pergunta é simples quando a examinamos sem muita profundidade, mas, torna-se complexa, ao examinar detalhes. A primeira indagação, se o espírito desencarna e continua ligado ao planeta, podemos afirmar que SIM!
Sem dúvida nenhuma continuamos ligados ao planeta Terra, pois é aqui que moram os nossos amores, nossos desafetos e é aqui que temos compromissos para com o meio ambiente. Certamente há exceções, pois um espírito, por necessidades desconhecidas para nós, pode tomar um corpo aqui na Terra, e depois da desencarnação retornar ao seu mundo de origem. A segunda indagação, se continua ligado ao ambiente, a resposta é também afirmativa.
Normalmente continuamos ligados ao ambiente em que vivemos, mas o espírito pode não ter interesse de ali permanecer, e optar para viver em outro local. Considerando as informações mediúnicas da existência de colônias espirituais, verdadeiras cidades, ou postos de socorro, no espaço, os que vivem ali estão longe do ambiente em que viveram, mas continuam ligados a ele emocionalmente.
Quanto ao círculo familiar, com certeza continuamos ligados ao grupo, que é muito maior do que o número de membros encarnados, mas aqueles que não se afinam, não tem amor à família, afastam-se do grupo, em busca de outros interesses. Os que estão ligados pelo amor, continuam se interessando e protegendo os familiares na medida das suas possibilidades.

segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Lembrança da existência corporal

304 O Espírito se lembra de sua existência corporal?

– Sim, isto é, tendo vivido muitas vezes como homem, ele se lembra do que foi, e eu vos asseguro que, às vezes, ri por sentir dó de si mesmo.
 Assim como o homem que, atingindo a idade da razão, ri das loucuras de sua juventude ou das ingenuidades de sua infância.
305 A lembrança da existência corporal se apresenta ao Espírito de maneira completa e de súbito, após o desencarne?
– Não, ele a revê pouco a pouco, como algo que sai de um nevoeiro, e à medida que fixa sua atenção nisso.
306 O Espírito se lembra, com detalhes, de todos os acontecimentos de sua vida? Ele alcança o conjunto de um golpe de vista retrospectivo?
– Ele se lembra das coisas em razão das conseqüências que tiveram sobre a sua situação de Espírito. Mas deveis compreender que há muitas circunstâncias da vida às quais não dá a menor importância e que nem mesmo procura delas se lembrar.
306 a Ele poderia se lembrar, se quisesse?
– Pode se lembrar dos detalhes e de incidentes mais minuciosos, seja dos acontecimentos, ou até mesmo de seus pensamentos; mas quando isso não tem utilidade, não o faz.
306 b Ele entrevê o objetivo da vida terrestre com relação à vida futura?
– Certamente a vê e a compreende bem melhor do que quando encarnado. Compreende a necessidade de depuração para chegar ao infinito e sabe que em cada existência se liberta de algumas impurezas.
307 Como a vida passada se retrata na memória do Espírito? É por um esforço de sua imaginação, ou como um quadro que tem diante dos olhos?
– De ambas as formas. Todos os atos de que deseja se lembrar são para ele como se fossem presentes; os outros estão mais ou menos vagos no seu pensamento, ou totalmente esquecidos. Quanto mais se desmaterializa, menos dá importância às coisas materiais. Fazeis freqüentemente a evocação de um Espírito que acaba de deixar a Terra e verificais que não se lembra do nome das pessoas que amava, nem dos detalhes que, para vós, parecem importantes; é que já não lhe interessam e caem-lhe no esquecimento. Do que se lembra muito bem é dos fatos principais que o ajudam a se melhorar.
308 O Espírito se lembra de todas as existências que precederam a última que acabou de deixar?
– Todo o seu passado se desenrola diante dele, como as etapas percorridas por um viajante; mas, como já dissemos, não se lembra de uma maneira absoluta de todos os atos, lembra-se dos fatos em razão da influência que têm sobre seu estado presente. Quanto às primeiras existências, as que podemos considerar como a infância do Espírito, perdem-se no tempo e desaparecem na noite do esquecimento.
309 Como o Espírito considera o corpo que acabou de deixar?
– Como uma veste que o apertava e sente-se feliz por estar livre dele.
309 a Que sentimento experimenta quando vê seu corpo em decomposição?
– Quase sempre um sentimento de indiferença, como por uma coisa que não tem mais importância.
310 Após um certo tempo, o Espírito reconhece os ossos ou outros objetos que lhe tenham pertencido?
– Algumas vezes, sim; mas isso depende do ponto de vista mais ou menos elevado de como considera as coisas terrenas.
311 O respeito que se tem pelos objetos materiais que pertenceram ao Espírito atrai sua atenção sobre esses objetos e ele vê esse respeito com prazer?
– O Espírito sempre fica feliz por ser lembrado. O respeito pelos objetos dele que se conservaram trazem-no à memória daqueles que deixou. Mas é o pensamento que o atrai até vós e não os objetos.
312 Os Espíritos conservam a lembrança dos sofrimentos que passaram durante sua última encarnação?
– Muitas vezes a conservam, e essa lembrança os faz avaliar melhor quanto vale a felicidade que podem alcançar como Espíritos.
313 O homem que foi feliz na Terra lamenta-se dos prazeres que perde quando a deixa?
– Somente os Espíritos inferiores lamentam os prazeres perdidos relacionados com a impureza do seu caráter e que expiam por seus sofrimentos. Para os Espíritos elevados a felicidade eterna é mil vezes preferível aos prazeres passageiros da Terra.
 Assim como o homem adulto, que nenhuma importância dá àquilo que fez as delícias de sua infância.
314 Aquele que começou grandes trabalhos com um objetivo útil e os vê interrompidos pela morte lamenta, no outro mundo, por tê-los deixado inacabados?
– Não, porque vê que outros estão destinados a terminá-los. Então se empenha em influenciar outros Espíritos encarnados para continuá-los. Se o seu objetivo na Terra era o bem da humanidade, continuará o mesmo no mundo dos Espíritos.
315 Aquele que abandonou trabalhos de arte ou de literatura conserva por suas obras o amor que lhes tinha quando era vivo?
– De acordo com sua elevação, julga-os sob um outro ponto de vista e, freqüentemente, se arrepende de coisas que admirava antes.
316 O Espírito se interessa pelos trabalhos que se executam na Terra pelo progresso das artes e das ciências?
– Isso depende de sua elevação ou da missão que deve desempenhar. O que vos parece magnífico é, muitas vezes, pouca coisa para certos Espíritos, que a consideram como um sábio vê a obra de um estudante. Eles têm consideração pelo que pode contribuir para a elevação dos Espíritos encarnados e seus progressos.
317 Os Espíritos, após o desencarne, conservam o amor à pátria?
– É sempre o mesmo princípio: para os Espíritos elevados, a pátria é o universo; na Terra, a pátria está onde há mais pessoas que lhes inspirem simpatia.
 A situação dos Espíritos e sua maneira de ver as coisas variam infinitamente em razão do grau de seu desenvolvimento moral e intelectual. Os Espíritos de uma ordem elevada geralmente fazem na Terra jornadas de curta duração. Tudo o que se faz na Terra é tão mesquinho em comparação às grandezas do infinito, as coisas que os homens mais dão importância são tão infantis a seus olhos, que eles aí encontram poucos atrativos, a menos que seja em missão com o objetivo de concorrer para o progresso da humanidade. Os Espíritos de uma ordem mediana se encontram entre nós mais freqüentemente; porém, já consideram as coisas sob um ponto de vista mais elevado do que quando encarnados. Os Espíritos vulgares são a maioria e constituem a massa da população ambiente do mundo invisível do globo terrestre. Conservaram, com pouca diferença, as mesmas idéias, gostos e tendências que possuíam quando encarnados. Eles se intrometem nas nossas reuniões, nos negócios e nas ocupações e nelas tomam parte mais ou menos ativa, de acordo com seu caráter. Não podendo satisfazer às suas paixões, estimulam e se deliciam com os que a elas se entregam. Entre eles, há alguns mais sérios, que vêem e observam para se instruir e se aperfeiçoar.
318 As idéias dos Espíritos desencarnados se modificam quando estão na erraticidade?
– Se modificam muito. Sofrem grandes modificações à medida que o Espírito se desmaterializa. Ele pode algumas vezes permanecer por muito tempo com as mesmas idéias, mas pouco a pouco a influência da matéria diminui e vê as coisas com mais clareza. É então que procura os meios de se aperfeiçoar.
319 Uma vez que o Espírito já viveu a vida espírita em vidas anteriores, de onde vem seu espanto ao reentrar no mundo dos Espíritos?
– É apenas o efeito do primeiro momento e da perturbação que se segue ao seu despertar. Mais tarde reconhece perfeitamente o seu estado, à medida que a lembrança do passado lhe vem e que se apaga a impressão da vida terrestre. (Veja, nesta obra, questão 163 e segs.)