quarta-feira, 29 de maio de 2013

Porque creio que Chico foi Kardec

Carlos A. Baccelli
Os motivos que me levam a uma convicção pessoal de que Chico Xavier tenha sido a reencarnação de Allan Kardec tão numerosos e distintos são que passarei a expor alguns deles, sem o menor propósito de polemizar em torno do assunto.
  1. Tendo convivido com o médium por mais de 25 anos, não observei diferença significativa entre a sua personalidade e a do Codificador. Consideremos, segundo nos é dado depreender das informações prestadas pelos principais biógrafos de Kardec e dos escritos de sua própria lavra, que ambos eram, quando necessário, austeros e amáveis, determinados e bons.
     
  2. Chico Xavier - creio que todos concordam a respeito - foi o legítimo continuador de Kardec, no que tange ao desdobramento da codificação e à tarefa de difundi-la, através da palavra e do exemplo.
     
  3. Após o 2 de Abril de 1910, data do nascimento de Chico, o espírito de Allan Kardec não mais estabeleceu, ele mesmo, qualquer contato mediúnico confiável com os encarnados.
     
  4. O Espírito Verdade, coordenador espiritual de imensa equipe que o assessorava e um dos seus Protetores, havia lhe informado, em mais de uma ocasião, que, dentro de pouco tempo, ele tornaria a reencarnar para dar seqüência à obra encetada.
     
  5. O próprio Kardec, elaborando os cálculos, deduziu que a sua volta à Terra se daria no final daquele século ou no começo do outro.
     
  6. Chico Abraçou a mediunidade aos 17 anos de idade; os Espíritos haviam dito a Allan Kardec que, quando ele voltasse à Terra seria em condições que lhe permitissem trabalhar desde cedo.
     
  7. Emmanuel, um dos Espíritos Codificadores, foi, ao lado do Dr. Bezerra de Menezes e tantos outros, o coordenador da tarefa mediúnica de Chico Xavier.
     
  8. O Mentor da "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas" fundada por Kardec, era São Luis; o do Centro Espírita de Pedro Leopoldo, fundado por Chico Xavier, é São Luis Gonzaga.
     
  9. Se Chico não foi a reencarnação do Codificador, conclui-se naturalmente que ele não reencarnou e que, portanto, o Espírito Verdade se enganou no que lhe disse, o que - convenhamos - colocaria em questão a sua condição espiritual.
     
  10. Se a espiritualidade superior tivesse mudado de planos - o que é inconcebível, depois de anunciá-los -, porque o grande silêncio de Allan Kardec, através da maior antena psíquica do século: Chico Xavier?
     
  11. Chico , com freqüência, se referia a Jesus e aos Espíritos amigos, mas pouco mencionava o nome de Allan Kardec.
     
  12. Para os íntimos, Chico revelava um conhecimento da vida do Codificador que não encontramos em nenhuma de suas biografias. Contou a mim e a outros , por exemplo, que um de seus sobrinhos, após o seu desenlace, entrou na justiça reivindicando parte dos direitos autorais das obras da Codificação, o que, segundo o médium, atrasou a divulgação da Doutrina em 50 anos: Coincidência ou não, Chico teve um sobrinho que lhe criou sérios problemas, em caluniosa difamação plenamente infundada.
     
  13. Chico não se casou e, embora Kardec tenha se consorciado, segundo o médium, ele e D. Amélie Gabrielle Lacomb Bouded, que era 9 anos mais idosa do que ele, cultivavam um amor puro: ela nutria por ele verdadeiro zelo maternal. Isto me foi dito pelo próprio Chico, conforme a Dra. Marlene Rossi Severino Nobre, que também estava presente na ocasião, escreveu em um artigo da "Folha Espírita".
     
  14. Outras "coincidências" nos fazem pensar: Kardec desencarnou em 31 de março e foi sepultado no dia 2 de abril, data do nascimento de Chico Xavier, tendo o seu corpo ficado exposto à visitação pública durante 48 horas; o mesmo pedido foi feito por Chico Xavier aos seus amigos.
     
  15. Era hábito de Kardec efetuar doações financeiras a amigos em dificuldades, encaminhando-as em nome dos Bons Espíritos; o mesmo fazia Chico Xavier, inclusive empregando a mesma terminologia do Codificador. Diga-o quem, neste sentido, tenha sido beneficiado pelo médium.
     
  16. Existem fotos de Kardec e Chico que poderiam ser sobrepostas, tal a semelhança de postura entre os dois; é espantosa a semelhança revelada entre as mãos de um e de outro, além do costume de Chico sempre usar paletó, mesmo sendo o Brasil um país de clima tropical.
     
  17. Em Uberaba, e acreditamos em outras cidades, vários médiuns confirmavam que Chico era a reencarnação de Allan Kardec, inclusive notável medianeira Antusa Ferreira Martins, que era surda-muda e analfabeta, portanto incapaz de ser influenciada por especulações neste sentido.
     
  18. Entre os que contestam ser Chico a reencarnação de Kardec, há os que afirmam que o Codificador não teria sido tão tolerante quanto Chico o foi com o que lhe sucedia ao redor, envolvendo irmãos de ideal e outros, esquecendo-se de que, em "Obras Póstumas", o Codificador não hesita ao confessar que a "Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas" havia se transformado em um foco de intrigas contra ele e que enfrentara inúmeros dissabores inclusive traição.
     
  19. Chico jamais confirmou ser a reencarnação de Allan Kardec; ao contrário quando não fazia questão de negá-lo, inclusive em entrevistas, respondia reticentemente em torno do assunto.
     
  20. Poderiam, perfeitamente, ser de Chico Xavier as seguintes palavras de Allan Kardec: "Sentia que não tinha tempo a perder e não perdi; nem em visitas inúteis, nem em cerimônias estéreis. Foi a obra de minha vida. Dei-lhe todo o meu tempo, sacrifiquei-lhe o meu repouso, a minha saúde, porque diante de mim o futuro estava escrito em letras irrecusáveis.
     
  21. Chico e Kardec eram assim: "Aos domingos - escrevia ainda Leymarie -, sobretudo nos últimos dias de sua vida, convidava amigos para jantar em sua Vila Ségur (Chico os convidava aos sábados, para almoçar). Então, o grave filósofo, depois de haver batido os pontos mais difíceis e mais controvertidos da Doutrina, esforçava-se para entreter os convidados. Mostrava-se expansivo, espalhando bom-humor em todas as oportunidades".
     
  22. Kardec e Chico, acima de tudo, tinham e têm um acendrado compromisso com o Evangelho de Jesus, em sua obra e em sua vida.
Ao terminar, esclareço que, sendo adepto de uma doutrina de livre expressão, qual é o Espiritismo, reivindico para mim o direito de pensar como penso e deixo exarado neste testemunho, sem, evidentemente, negar a qualquer outro o direito de discordar de minhas convicções, sem que me sinta, necessariamente constrangido a transformar o assunto em polêmica sem proveito, com responder a objeções que o tempo, e somente o tempo, haverá de fazer.
Matéria contida na revista "Goiás Espírita" Ano7 - nº 23 - 2003.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Origem da doutrina das penas eternas

1. - A crença na eternidade das penas perde terreno dia a dia, de modo que, sem ser profeta, pode prever-se-lhe o fim próximo.
Tais e de tal ordem poderosos e peremptórios têm sido os argumentos a ela opostos, que nos parece quase supérfluo ocuparmo-nos de tal doutrina de ora em diante, deixando que por si mesma se extinga.
Mas não se pode contestar que, apesar de caduca, ainda constitui a tecla dos adversários das idéias novas, o ponto que defendem com mais obstinação, convictos aliás da vulnerabilidade que ela apresenta, e não menos convictos das conseqüências dessa queda.
Por este lado, a questão merece sério exame.
2. - A doutrina das penas eternas teve sua razão de ser, como a do inferno material, enquanto o temor podia constituir um freio para os homens pouco adiantados intelectual e moralmente.
Na impossibilidade de apreenderem as nuanças tantas vezes delicadas do bem e do mal, bem como o valor relativo das atenuantes e agravantes, os homens não se impressionariam, então, a não ser pouco ou mesmo nada com a idéia das penas morais.
Tampouco compreenderiam a temporalidade dessas penas e a justiça decorrente das suas gradações e proporções.
3. - Quanto mais próximo do estado primitivo, mais material é o homem.
O senso moral é o que de mais tardio nele se desenvolve, razão pela qual também não pode fazer de Deus, dos seus atributos e da vida futura, senão uma idéia muito imperfeita e vaga.
Assimilando-o à sua própria natureza, Deus não passa para ele de um soberano absoluto, tanto mais terrível quanto invisível, como um rei despótico que, fechado no seu palácio, jamais se mostrasse aos súditos. Sem compreenderem o seu poder moral, só o aceitam pela força material. Não o vêem senão armado com o raio, ou no meio de coriscos e tempestades, semeando de passagem a destruição, a ruína, semelhantemente aos guerreiros invencíveis.
Um Deus de mansuetude e cordura não seria um Deus, porém um ser fraco e sem meios de se fazer obedecer. A vingança implacável, os castigos terríveis, eternos, nada tinham de incompatível com a idéia que se fazia de Deus, não lhes repugnavam à razão. Implacável também ele, homem, nos seus ressentimentos, cruel para os inimigos e inexorável para os vencidos, Deus, que lhe era superior, deveria ser ainda mais terrível.
Para tais homens eram precisas crenças religiosas assimiladas à sua natureza rústica. Uma religião toda espiritual, toda amor e caridade não podia aliar-se à brutalidade dos costumes e das paixões.
Não censuremos, pois, a Moisés sua legislação draconiana, apenas bastante para conter o povo indócil, nem o haver feito de Deus um Deus vingativo. A época assim o exigia, essa época em que a doutrina de Jesus não encontraria eco e até se anularia.
4. - À medida que o Espírito se desenvolvia, o véu material ia-se-lhe dissipando pouco a pouco, e os homens habilitavam-se a compreender as coisas espirituais. Mas isso não aconteceu senão lenta e gradualmente. Por ocasião de sua vinda, já Jesus pôde proclamar um Deus clemente, falando do seu reino, não deste mundo, e acrescentando: - Amai-vos uns aos outros e fazei bem aos que vos odeiam, ao passo que os antigos diziam: olho por olho, dente por dente.
Ora, quais eram os homens que viviam no tempo de Jesus?
Seriam almas novamente criadas e encarnadas? Mas se assim fosse, Deus teria criado para o tempo de Jesus almas mais adiantadas que para o tempo de Moisés? E daí o que teria decorrido para estas últimas? Consumir-se-iam por toda a eternidade no embrutecimento? O mais comezinho bom-senso repele essa suposição. Não; essas almas eram as mesmas que viviam sob o império das leis mosaicas e que tinham adquirido, em várias existências, o desenvolvimento suficiente à compreensão de uma doutrina mais elevada, assim como hoje mais adiantadas se encontram para receber um ensino ainda mais completo.
5. - O Cristo não pôde, no entanto, revelar aos seus contemporâneos todos os mistérios do futuro. Ele próprio o disse: Muitas outras coisas vos diria se estivésseis em estado de as compreender, e eis por que vos falo em parábolas. Sobretudo no que diz respeito à moral, isto é, aos deveres do homem, foi o Cristo muito explícito porque, tocando na corda sensível da vida material, sabia fazer-se compreender; quanto a outros pontos, limitou-se a semear sob a forma alegórica os germens que deveriam ser desenvolvidos mais tarde.
A doutrina das penas e recompensas futuras pertence a esta última ordem de idéias. Sobretudo, em relação às penas, ele não poderia romper bruscamente com as idéias preconcebidas. Vindo traçar aos homens novos deveres, substituir o ódio e a vingança pelo amor do próximo e pela caridade, o egoísmo pela abnegação, era já muito; além disso, não podia racionalmente enfraquecer o temor do castigo reservado aos prevaricadores, sem enfraquecer ao mesmo tempo a idéia do dever.
Se ele prometia o reino dos céus aos bons, esse reino estaria interdito aos maus, e para onde iriam eles? Demais, seria necessária a inversão da Natureza para que inteligências ainda muito rudimentares pudessem ser impressionadas de feição a identificarem-se com a vida espiritual, levando-se em conta a circunstância de Jesus se dirigir ao povo, à parte menos esclarecida da sociedade, que não podia prescindir de imagens de alguma sorte palpáveis, e não de idéias sutis.
Eis a razão por que Jesus não entrou em minúcias supérfluas a este respeito; nessa época não era preciso mais do que opor uma punição à recompensa.
6. - Se Jesus ameaçou os culpados com o fogo eterno, também os ameaçou de serem lançados na Geena. Ora, que vem a ser a Geena? Nada mais nada menos que um lugar nos arredores de Jerusalém, um monturo onde se despejavam as imundícies da cidade.
Dever-se-ia interpretar isso também ao pé da letra? Entretanto era uma dessas figuras enérgicas de que ele se servia para impressionar as massas. O mesmo se dá com o fogo eterno. E se tal não fora o seu pensar, ele estaria em contradição, exaltando a demência e misericórdia de Deus, pois demência e inexorabilidade são sentimentos antagônicos que se anulam. Desconhecer-se-ia, pois, o sentido das palavras de Jesus, atribuindo-lhes a sanção do dogma das penas eternas, quando todo o seu ensino proclamou a mansidão do Criador, a sua benignidade
No Pai Nosso Jesus nos ensina a dizer: - Perdoai-nos, Senhor, as nossas faltas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores. Pois se o culpado não devesse esperar algum perdão, inútil seria pedi-lo.
Esse perdão é, porém, incondicional? É uma remissão pura e simples da pena em que se incorre? Não; a medida desse perdão subordina-se ao modo pelo qual se haja perdoado, o que equivale dizer que não seremos perdoados desde que não perdoemos. Deus, fazendo do esquecimento das ofensas uma condição absoluta, não podia exigir do homem fraco o que Ele, onipotente, não fizesse.
O Pai Nosso é um protesto cotidiano contra a eterna vingança de Deus.
7. - Para homens que só possuíam da espiritualidade da alma uma idéia confusa, o fogo material nada tinha de improcedente, mesmo porque já participava da crença pagã, quase universalmente propagada. Igualmente a eternidade das penas nada tinha que pudesse repugnar a homens desde muitos séculos submetidos à legislação do terrível Jeová. No pensamento de Jesus o fogo eterno não podia passar, portanto, de simples figura, pouco lhe importando fosse essa figura interpretada à letra, desde que ela servisse de freio às paixões humanas. Sabia ele ao demais que o tempo e o progresso se incumbiriam de explicar o sentido alegórico, mesmo porque, segundo a sua predição, o Espírito de Verdade viria esclarecer aos homens todas as coisas. O caráter essencial das penas irrevogáveis é a ineficácia do arrependimento, e Jesus nunca disse que o arrependimento não mereceria a graça do Pai.
Ao contrário, sempre que se lhe deparou ensejo, ele falou de um Deus clemente, misericordioso, solícito em receber o filho pródigo que voltasse ao lar paterno; inflexível, sim, para o pecador obstinado, porém, pronto sempre a trocar o castigo pelo perdão do culpado sinceramente arrependido. Este não é, por certo, o traço de um Deus sem piedade. Também convém assinalar que Jesus nunca pronunciou contra quem quer que fosse, mesmo contra os maiores culpados, a condenação irremissível.
8. - Todas as religiões primitivas, revestindo o caráter dos povos, tiveram deuses guerreiros que combatiam à frente dos exércitos.
O Jeová dos hebreus facultava-lhes mil modos de exterminar os inimigos; recompensava-os com a vitória ou punia-os com a derrota. Tal idéia a respeito de Deus levava a honrá-lo ou apaziguá-lo com sangue de animais ou de homens, e daí os sacrifícios sangrentos que representavam papel tão saliente em todas as religiões da antigüidade. Os judeus tinham abolido os sacrifícios humanos; os cristãos, apesar dos ensinamentos do Cristo, por muito tempo julgaram honrar o Criador votando, aos milhares, às chamas e às torturas, os que denominavam hereges, o que constituía sob outra forma verdadeiros sacrifícios humanos, pois que os promoviam para maior glória de Deus, e com acompanhamento de cerimônias religiosas. Hoje, ainda invocam o Deus dos exércitos antes do combate, glorificam-no após a vitória, e quantas vezes por causas injustas e anticristãs.
9. - Quão tardo é o homem em desfazer-se dos seus hábitos, prejuízos e primitivas idéias! Quarenta séculos nos separam de Moisés, e a nossa geração cristã ainda vê traços de antigos usos bárbaros, senão consagrados, ao menos aprovados pela religião atual! Foi preciso a poderosa opinião dos não-ortodoxos para acabar com as fogueiras e fazer compreender a verdadeira grandeza de Deus. Mas, à falta de fogueiras, prevalecem ainda as perseguições materiais e morais, tão radicada está no homem a idéia da crueldade divina. Nutrido por sentimentos inculcados desde a infância, poderá o homem estranhar que o Deus que lhe apresentam, lisonjeado por atos bárbaros, condene a eternas torturas e veja sem piedade o sofrimento dos culpados? Sim, são filósofos, ímpios como querem alguns, que se hão escandalizado vendo o nome de Deus profanado por atos indignos dele. São eles que o mostram aos homens na plenitude da sua grandeza, despojando-o de paixões e baixezas atribuídas por uma crença menos esclarecida.
Neste ponto a religião tem ganho em dignidade o que tem perdido em prestígio exterior, porque se homens há devotados à forma, maior é o número dos sinceramente religiosos pelo sentimento, pelo coração.
Mas, ao lado destes, quantos não têm sido levados, sem mais reflexão, a negarem toda a Providência! O modo por que a religião tem estacionado, em antagonismo com os progressos da razão humana, sem saber conciliá-los com as crenças, degenerou em deísmo para uns, em cepticismo absoluto para outros, sem esquecermos o panteísmo, isto é, o homem fazendo-se deus ele próprio, à falta de um mais perfeito

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Ensaio teórico sobre a sensação nos Espíritos

257 O corpo é o instrumento da dor. Se não é sua causa primária, é, pelo menos, a causa imediata. A alma tem a percepção da dor: essa percepção é o efeito. A lembrança que a alma conserva disso pode ser de muito sofrimento, mas não pode provocar ação física. De fato, nem o frio, nem o calor podem desorganizar os tecidos da alma. Ela não pode congelar-se, nem queimar-se. Não vemos todos os dias a lembrança ou a preocupação com um mal físico produzir os efeitos desse mal, até mesmo ocasionar a morte? Todo mundo sabe que as pessoas que tiveram membros amputados sentem dor no membro que não existe mais. Certamente, não é nesse membro que está a sede ou o ponto de partida da dor, mas no cérebro, que conservou a impressão da dor. Podem-se admitir, portanto, reações semelhantes nos sofrimentos do Espírito após a morte. Um estudo mais aprofundado do perispírito, que desempenha um papel tão importante em todos os fenômenos espíritas como nas aparições vaporosas ou tangíveis, como na circunstância por que o Espírito passa no momento da morte; na idéia tão freqüente de que ainda está vivo, no quadro tão comovente dos suicidas e dos que foram martirizados, nos que se deixaram absorver pelos prazeres materiais e em tantos outros fatos, vieram lançar luz sobre a questão e deram lugar a explicações que resumimos a seguir.
O perispírito é o laço que une o Espírito à matéria do corpo. O Espírito é quem o forma, tirando elementos do meio ambiente e do fluido universal. Ele é formado ao mesmo tempo de eletricidade, fluido magnético e até de alguma quantidade de matéria inerte. Pode-se dizer que é a matéria puríssima, o princípio da vida orgânica, mas não da vida intelectual. A vida intelectual está no Espírito. É, além disso, o agente das sensações exteriores. No corpo, essas sensações se localizam nos órgãos próprios que servem de canais condutores. Destruído o corpo, as sensações se tornam generalizadas. É por isso que o Espírito não diz sofrer mais da cabeça do que dos pés. É preciso precaução para não confundir as sensações do perispírito, que se tornou independente, com as do corpo: podemos tomar essas sensações apenas como comparação, e não como analogia. Liberto do corpo, o Espírito pode sofrer. Mas esse sofrimento não é corporal, embora não seja exclusivamente moral, como o remorso, porque se queixa de frio e calor. Apesar disso, não sofre mais no inverno que no verão: nós o temos visto atravessar as chamas sem sofrer nada, nenhuma dor, o fogo não lhe causa nenhuma impressão. A dor que sente não é física propriamente dita, é um vago sentimento íntimo que o próprio Espírito nem sempre entende, precisamente porque a dor não está localizada e não é produzida por agentes externos: é mais uma lembrança do que uma realidade, mas é uma recordação também dolorosa. Há, entretanto, algumas vezes, mais que uma lembrança, como iremos ver.
A experiência nos ensina que no momento da morte o perispírito se desprende mais ou menos lentamente do corpo. Nos primeiros instantes seguidos ao desencarne, o Espírito não entende a sua situação: não acredita estar morto, sente-se vivo, vê seu corpo de um lado, sabe que é seu e não entende por que está separado dele. Essa situação persiste enquanto o laço entre o corpo e o perispírito não se romper por completo. Um suicida nos disse: “Não, não estou morto”, e acrescentava:“E, entretanto, sinto os vermes que me roem”. Porém, seguramente, os vermes não roíam o seu perispírito, e muito menos o Espírito; roíam-lhe apenas o corpo. Mas como a separação do corpo e do perispírito não estava concluída, disso se originava uma espécie de repercussão moral que lhe transmitia a sensação do que se passava no seu corpo. Repercussão não é bem a palavra que dê a idéia exata do que ocorre, porque pode fazer supor um efeito muito material. Era antes e de fato a visão do que se passava no cadáver, que ainda estava ligado ao seu perispírito, produzindo nele essa sensação que tomava como real, como autêntica. Desse modo, não era uma lembrança, uma vez que durante sua vida nunca tinha sido roído por vermes; era uma sensação nova e atual. Vemos, assim, que deduções se podem tirar dos fatos, quando observados atentamente.
Durante a vida, o corpo recebe as impressões exteriores e as transmite ao Espírito por intermédio do perispírito, que constitui, provavelmente, o que se chama de fluido nervoso. Estando o corpo morto, não sente mais nada, porque não possui mais Espírito, nem perispírito. O perispírito, desprendido do corpo, experimenta a sensação, mas como ela não lhe chega mais por um canal limitado, próprio, torna-se geral. Portanto, como o perispírito é na realidade um agente de transmissão das sensações que se produzem do corpo para o Espírito, porque é no Espírito que está a consciência, disso se deduz que, se pudesse existir perispírito sem Espírito, ele não sentiria mais do que sente um corpo morto. Da mesma forma, se o Espírito não tivesse perispírito, seria inacessível a qualquer sensação dolorosa, como ocorre com os Espíritos completamente purificados. Sabemos que, quanto mais o Espírito se purifica, mais a essência do perispírito se torna etérea, do que se conclui que a influência material diminui à medida que o Espírito progride e, por conseqüência, o próprio perispírito torna-se menos grosseiro.
Mas, dirão, as sensações agradáveis são transmitidas ao Espírito por meio do perispírito, da mesma forma que as sensações desagradáveis; sendo o Espírito puro inacessível a umas, deve ser igualmente inacessível a outras. Sim, sem dúvida, assim é de fato para as sensações que provêm unicamente da influência da matéria que conhecemos, por exemplo: o som de nossos instrumentos e o perfume de nossas flores não lhes causam nenhuma impressão. Porém, o Espírito têm sensações íntimas de um encanto indefinível, das quais não podemos fazer nenhuma idéia, por sermos, a esse respeito, como cegos de nascença perante a luz: sabemos que elas existem, mas por que meio se produzem não o sabemos. Termina aí nossa ciência. Sabemos que o Espírito têm percepção, sensação, audição, visão; que essas faculdades são generalizadas por todo o ser, e não, como no homem, só em uma parte do seu ser. Mas de que modo ele as tem? É o que não sabemos. Os próprios Espíritos não podem nos dar idéia precisa, porque a nossa linguagem não pode exprimir idéias que não conhecemos, da mesma forma que para os selvagens não há termos para exprimir nossas artes, ciências e doutrinas filosóficas.
Ao dizer que os Espíritos são inacessíveis às impressões de nossa matéria, estamos nos referindo aos Espíritos muito elevados, cujo envoltório etéreo não tem nada de semelhante ao que conhecemos aqui na Terra. O mesmo não ocorre com os de perispírito mais denso: estes percebem nossos sons e odores, mas não por uma parte limitada de sua individualidade, como quando encarnados. Pode-se dizer que neles as vibrações moleculares se fazem sentir em todo seu ser e chegam assim ao seu sensoriumcommune2, que é o próprio Espírito, embora de um modo diferente, o que produz uma modificação na percepção. Eles ouvem o som de nossa voz e, no entanto, nos compreendem sem necessidade da palavra, apenas pela transmissão do pensamento; isso vem em apoio ao que dissemos: a percepção dessas vibrações é tão mais fácil quanto mais desmaterializado está o Espírito. Quanto à visão, é independente de nossa luz. O dom da visão é um atributo essencial da alma, para ela não há obscuridade; mas é mais ampla e penetrante para os que estão mais purificados. A alma ou o Espírito tem nela mesma todos os dons e recursos de todas as percepções. Na vida corporal são limitados pela grosseria dos órgãos físicos; na vida extracorporal são cada vez menos limitados, à medida que menos denso se torna o envoltório semimaterial.
Esse envoltório, o perispírito, tirado do meio ambiente, varia de acordo com a natureza dos mundos. Ao passar de um mundo para outro, os Espíritos mudam de envoltório, assim como mudamos de roupa quando passamos do inverno para o verão, ou de um pólo para o Equador. Os Espíritos mais elevados, quando vêm nos visitar, se revestem do perispírito terrestre e, assim, suas percepções são como as dos Espíritos do lugar onde estão. Porém, todos, tanto inferiores quanto superiores, apenas ouvem e sentem o que querem ouvir ou sentir. Tendo em vista que não possuem os órgãos sensitivos, podem tornar, à vontade, suas percepções ativas ou nulas; há apenas uma situação a que são obrigados: a de ouvir os conselhos dos bons Espíritos. A visão é sempre ativa, mas podem reciprocamente se tornar invisíveis uns aos outros. De acordo com a posição que ocupam, podem se ocultar dos que lhes são inferiores, mas não dos superiores. Nos primeiros momentos que se seguem ao desencarne, a visão do Espírito é sempre perturbada e confusa; porém, vai se aclarando à medida que se liberta do corpo físico e pode adquirir nitidez igual à que tinha durante a vida terrena, além de contar com a possibilidade de poder ver através dos corpos que são opacos para nós. Quanto a poder alcançar a visão do espaço infinito, do futuro e do passado, depende do grau de pureza e da elevação do Espírito.
Toda essa teoria, alegarão alguns, não é nada tranqüilizadora. Pensávamos que uma vez livres do corpo, instrumento de nossas dores, não sofreríamos mais. Agora nos dizeis que ainda sofreremos, desta ou daquela forma, mas que será sempre sofrimento. Ah, sim! Podemos ainda sofrer, e muito, por um longo tempo, mas podemos também parar de sofrer, já desde o instante em que deixarmos a vida corporal.
Os sofrimentos aqui da Terra, algumas vezes, independem de nós, mas muitos são as conseqüências da nossa vontade, e se buscarmos as origens constataremos que, em sua maior parte, resultam de causas que poderíamos evitar. Quantos males, quantas enfermidades o homem não deve aos seus excessos, à sua ambição, às suas paixões? O homem que sempre tivesse vivido sobriamente, que não tivesse cometido abusos, que sempre tivesse sido simples em seus gostos, modesto em seus desejos, se pouparia de muitos sofrimentos. O mesmo acontece com o Espírito: as angústias que enfrenta são a conseqüência da maneira como viveu na Terra. Sem dúvida, não terá mais artrite nem reumatismo, mas terá outros sofrimentos que não são menores. Temos visto que os sofrimentos que sente são causados pelos laços que ainda existem entre ele e a matéria e, quanto mais se desmaterializa, menos tem sensações dolorosas. Portanto, depende do homem querer libertar-se dessa influência já em vida; tem seu livre-arbítrio e, conseqüentemente, a escolha entre fazer e não fazer. Que ele dome suas paixões brutais, não tenha ódio, inveja, ciúme, nem orgulho; que purifique sua alma pelos bons sentimentos; que faça o bem; que dê às coisas deste mundo a importância que merecem; então, ainda no corpo físico, já estará purificado, desprendido da matéria, e quando o deixar não sofrerá mais sua influência. Os sofrimentos físicos que experimentou não deixarão nenhuma lembrança dolorosa; não restará nenhuma impressão desagradável, porque afetou apenas o corpo e não o Espírito. Ficará feliz por estar livre delas, e a calma de sua consciência o livrará de todo sofrimento moral.
Interrogamos milhares de Espíritos que haviam pertencido a todas as classes da sociedade e a todas as posições sociais, quando na Terra. Nós os estudamos em todos os períodos de sua vida espírita, desde o instante em que deixaram o corpo; nós os seguimos passo a passo na vida após a morte para observar as mudanças que se operavam neles, nas idéias, nas sensações. E sob esse aspecto, os homens mais simples foram os que nos forneceram materiais de estudo mais preciosos, porque notamos sempre que os sofrimentos estão relacionados à conduta que tiveram na vida corpórea da qual sofrem as conseqüências, e que essa nova existência é fonte de uma felicidade indescritível para aqueles que seguiram o bom caminho. Deduz-se que sofrem porque merecem e só podem queixar-se de si mesmos, tanto neste quanto no outro mundo.

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Educação

"A aquisição de hábitos saudáveis, edificantes e que produzem harmonia no grupo social, a transformação das tendências agressivas e dos sentimentos de baixa estima para melhor,
o esforço para qualquer realização dão-se por intermédio dos processos educativos, especialmente aqueles de natureza moral, ao mesmo tempo que, mediante o estudo,
ocorre o desenvolvimento cultural e intelectual, num somatório de valores que enobrecem o ser humano.
À educação, no seu sentido lato, está reservada, portanto, a grande tarefa de construir o homem e a mulher melhores e mais sociáveis, neles desenvolvendo os germes do amor e da dignidade,
com os quais progride espiritualmente, tornando-se úteis à comunidade, após transcenderem os limites egoicos, adquirindo a consciência de paz e dos valores éticos que constituem a vida pensante."
(...) Sendo a educação, conforme já referido, o processo de criar hábitos saudáveis, não se pode permitir o direito de tornar-se virulenta na observação dos seus preceitos,
castigando e impondo-se para ser considerada como legítima. Pelo contrário, deve conquistar o educando por meios dos recursos poderosos de que se forma,
especialmente pelo sentido de amor e de dignidade de que se reveste.
(...) O respeito é uma conquista que cada um consegue pela maneira como se comporta, pelos atos e palavras, pela vivência e forma de conquistar os demais. Toda vez
que se estabelecem normas de imposição, violenta-se o livre-arbítrio, o direito de optar-se pela aceitação do outro com todas as maneiras absurdas que lhe são características.
A vida vale pelo que se lhe pode acrescentar de bom, de belo, de útil, sem a valorização demasiada do empenho para consegui-lo."


Autor: Joanna de Ângelis
Psicografia de Divaldo Franco. Livro: Psicologia da Gratidão 

terça-feira, 21 de maio de 2013

O tarefeiro

Allan Kardec já advertia no século passado, que o mal das interpretações humanas está na falta de uma visão mais ampla e profunda da realidade. Por isso urge atendermos a necessidade de falarmos sobre o tarefeiro(a) na casa espírita. Com meus trinta e dois anos de experiência e observação e do meu próprio aprendizado ainda longe de terminar e também de minhas observações em diversas casas espíritas, tanto nas grandes cidades como nas zonas interioranas onde nossa cultura espírita mais se destacou, pois sua simplicidade e delicadas nuances são ali interpretadas com a mais pura fé, não aquela fé simplória e cega mas uma fé real e esclarecida. Assim, com o apoio dos Espíritos imbuídos de nos educar a luz Evangelho, pretendo contribuir também para a formação daqueles que se propõe a essa tarefa.
Mas, a minha intenção maior será se possível despertar o interesse de servir na seara, naqueles que não se sentirem ofendidos com este trabalho, e sim utilizarem-no para o seu engrandecimento. Sabemos ser necessário os estudos preparatórios das obras básicas e dos cursos que auxiliem o entendimento, mas refiro-me especificamente aos tarefeiros(as) que na maioria das vezes não completa seus estudos da codificação e infelizmente são convidados por outros inexperientes a auxiliar nas tarefas de grande responsabilidade da casa espírita, simplesmente porque fez um cursinho, sem no mínimo terem esperado no despertar de sua sensibilidade que vai florescendo assim que com o esclarecimento, vamos observando a vida e as dores nossas e de nossos irmãos.
Na maioria das vezes, toda orientação foi fruto de um curso feito muitas vezes na cidade vizinha, e por mais bem intencionado(a) ele(a) tem que interpretar a doutrina com o seu pouco conhecimento e experiência ou na maioria das vezes o curso foi dado, por outro tarefeiro(a) totalmente despreparado(a). Com isso percebemos, que não importa quantos diplomas temos, quando se trata de tarefeiro(a) na seara espírita isso não importa, o que importa é o conhecimento doutrinário, o idealismo apaixonado pelo evangelho e pela sua vivência, pois este conhecimento doutrinário é que vai iluminar e auxiliar a compreensão do conhecimento acadêmico e de todos os diplomas adquiridos, e então despertar a sensibilidade de trabalhar com amor seguindo Jesus.
Durante este tempo, tristemente encontramos muitos tarefeiro(a)s com graves distúrbios de comportamento, pois ainda não conhecem nem um pouco de si mesmos para identificar e corrigir ao longo do tempo, suas falhas morais, e não se melindrar com as primeiras dificuldades que venha a viver. Neste caso eles(as) se desequilibram e acham que as disciplinas e regras tem que ser do jeito que eles querem, e se tornam elementos completamente alheios aos trabalhos quando não obedecidos, se tornando presa fácil dos muitos grupos de espíritos que querem destruir todas as boas instituições voltadas ao evangelho como já vimos muitas vezes isso acontecer.
Exploram neles a vaidade, o ciúme, a rivalidade e o amor próprio, leva-os ao atrito e a separação e ao estagnamento doutrinário, os transformando em elementos que adulteram a doutrina, semeando sandices e truncando a realidade espiritual, arvorando-se em missionários, montando casas espíritas onde destroem a sutileza e as delicadas nuances do Evangelho. Gerando vasto campo de desequilíbrados, nascidos da cegueira voluntária e da perversidade completa, atraindo espíritos que se bestializaram, fixos que se acham na crueldade e no egocentrismo.
Em vez de iniciativa e reforma intima no trabalho silencioso em nome do Cristo Jesus, acena com permissividades para comunidades espirituais inferiores que ali se estacionam sem pressa e disfarçadamente enaltece a ansiedade pelo fenômeno espetacular. Em vez do discernimento espiritual crece a obsessão light devido ao descuido para com a responsabilidade espiritual superior. Trabalham para o mal ao lado do bem, alterando sutilmente o entendimento da sublimidade das diretrizes das leis sintetizadas no código moral do Evangelho de Jesus.
A intenção dessas mentes pervertidas é realmente atrasarem o crescimento de todos, assim permanecem mais tempo estagnados moralmente. Inconscientemente e a eles se afinizam e muitas vezes como por hipnose, tentam disfarçadamente aniquilar os esforços de crescimento da criatura humana. Ambiciosos, perversos e imorais em qualquer atividade humana eles procuram esconder suas mazelas sob a bandeira das conquistas morais do Espiritismo.
Assim os nossos benfeitores, os deixam então temporariamente entregues a si mesmos, aí então começa o cortejo das más influências, falando aos seus ouvidos "Não liga, deixa-os, todos estão envolvidos com os espíritos das trevas, continue trabalhando assim"... E assim não percebem e pegam carona nas mentes doentias que agem dentro do movimento espírita com um único interesse, destruir de dentro pra fora todos os ideais de crescimento do ser humano.
Precisamos urgentemente adaptar o tarefeiro(a) à doutrina espírita de acordo com os moldes de Kardec, não estamos mais a mercê da antiga Casa de Ismael, "FEB" que com os dispositivos de seus estatutos, barravam os kardecistas na participação de sua diretoria e exigiam a confissão expressa do credo roustainguista. Hoje, o dia-a-dia é bem diferente, sabemos ser necessário o estudo das obas base para nosso esclarecimento, que depois de ter feito todos os estudos nas áreas de preferências específicas, na hora de aplicar precisamos de maturidade para sentir o prazer de viver em nós mesmos a felicidade de estar colaborando na seara do Mestre Jesus, mesmo que seja com a migalha que já conseguimos e reconhecer, que somos tão endividados quanto aqueles que auxiliamos e que diante da vida, eles são a benção de Deus ajudando em nossa própria recuperação. Por isso, o tarefeiro(a) deve fazer com que todos que recebem a sua ajuda, entendam que são tão importantes quanto ele, e que essa ajuda, se possível seja percebida como um trabalho de grupo.
Reconhecemos também, as dificuldades dos órgãos Espirituais diretores do Espiritismo no mundo, e sabemos quão difícil é encontrar pessoas que estejam dentro da doutrina por amor. Na maioria das vezes são pessoas que vem já com um currículo cheio de predicados, não há nada de errado ou estranho nisso, afinal, esta é uma doutrina que investe na reconstrução, no esclarecimento, nas mudanças de rumos em nossas vidas, e todas estas mudanças precisam ser feitas com muito amor, muita paciência, mais confiança em Deus, aos poucos deixar a vida acontecer, enfim, dar tempo de tudo acontecer, completar a fase e tornarmos mais humanos, mais sensíveis e mais completos.
Essas fazes tem um tempo para acontecer, a natureza não dá saltos, não podemos antes da flor querer colher os frutos. Não será por isso, que temos tantos tarefeiros(as) desequilibrados em postos de grandes responsabilidades na doutrina? Talvez eles muito ansiosos, motivados por interesses não doutrinários, convida o iniciante na doutrina só porque ele fez um cursinho muitas vezes baseado no pensamento de Roustaing, já vem cheio de diplomas só que com pouca maturidade, pouca vivência, cheio de planos de mudanças só que na vida dos outros, aí não precisa ser profeta pra saber o resultado. É como observar um caminhão de 25 toneladas sem freio, com o motorista bêbado, descendo uma rua bem inclinada e tendo pela frente várias residências 3 creches, um pronto socorro, e no final uma praça cheia de transeuntes.
Que falta nos faz Kardec! Será preciso ele voltar para pararmos de interpretar a doutrina como se fosse uma empresa, onde os tarefeiros(as) que antes eram feitos pelo coração e esclarecimento, agora são meros "funcionários", sem o mínimo de comprometimento com a obra de redenção do ser, sem compreender os reais motivos de ela existir, os ideais e objetivos do Espiritismo no planeta? Ou será porque ele fere mortalmente os interesses terrenos que não está sendo encarado com a devida seriedade pelos próprios espíritas.
A doutrina Espírita conquistou moralmente por sua adesão ao Evangelho de Jesus, a posição de Cristianismo revivido e terceira oportunidade de compreendermos, as intenções do Criador para conosco, por isso, entendo todos nós, sermos irmãos e devemos continuar hoje e sempre crentes de que não possuímos muitas virtudes, temos sim um pesado passado constrangendo-nos à reflexão e à disciplina. Oportunidades redentoras, sempre vão brilhar em nossos cominhos como benção do Pai, independente de estarmos na casa espírita ou não, comportarmo-nos como legítimos representantes da doutrina Espírita é nosso maior dever e honra.
Pois assim como todos os irmãos tarefeiros, também sou aqui um companheiro, e com muito esforço venho me adaptando aos moldes do Evangelho, ele, me acena também com o propósito da vida superior, trabalhando em mim e comigo, através de todos os meios, para guiar-me à perfeição. E mereço como todos os irmãos, observar com prudência e vigilância e refletir nas respostas do nosso querido irmão Gabriel Delanne, quando na espiritualidade entrevistado por André Luiz esclarece:
P ) Onde os percalços maiores para a expansão da Doutrina Espírita?
Delanne) Em nossa opinião, os maiores embaraços para o Espiritismo procedem da atuação daqueles que reencarnam, prometendo servi-lo, seja através da mediunidade direta ou da mediunidade indireta, no campo da inspiração e da inteligência, e se transviam nas seduções da esfera física, convertendo-se em médiuns autênticos das regiões inferiores, de vez que não negam as verdades do Espiritismo, mas estão prontos a ridicularizá-las, através de escritos sarcásticos ou da arte histriônica, junto dos quais encontramos as demonstrações fenomênicas improdutivas, as histórias fantásticas, o anedotário deprimente e os filmes de terror.

P ) Como vê semelhantes deformações?
Delanne) Os milhões de Espíritos inferiores que cercam a Humanidade possuem seus médiuns. Impossível negar isso.


sexta-feira, 17 de maio de 2013

Os desertos do espaço

45. - Inimaginável deserto, sem limites, se estende para lá da aglomeração de estrelas de que vimos de
tratar, e a envolve. A solidões sucedem solidões e incomensuráveis planícies do vácuo se distendem pela amplidão em fora. Os amontoados de matéria cósmica se encontram isolados no espaço como ilhas flutuantes de enormíssimo arquipélago. Se quisermos, de alguma forma, apreciar a distância enorme que separa o aglomerado de estrelas, de que fazemos parte, dos outros aglomerados mais próximos, precisamos saber que essas ilhas estelares se encontram disseminadas e raras no vastíssimo oceano dos céus, e que a extensão que as separa, umas das outras, é incomparavelmente maior do que as que lhes medem as respectivas dimensões.
Ora, a nebulosa estelar mede, como já vimos, em números redondos, mil vezes a distância das estrelas mais aproximadas, tomada por unidade essa distância, isto é, alguns cem mil trilhões de léguas. A distância que existe entre elas, sendo muito mais vasta, não poderia ser expressa por números acessíveis à compreensão do nosso espírito. Só a imaginação, em suas concepções mais altas, é capaz de transpor tão prodigiosa imensidade, essas solidões mudas e baldas de toda aparência de vida, e de encarar, de certa maneira, a idéia dessa infinidade relativa.
46. - Todavia, o deserto celeste, que envolve o nosso universo sideral e que parece estender-se como sendo os afastados confins do nosso mundo astral, abrangem-no a visão e o poder infinito do Altíssimo que, além desses céus dos nossos céus, desenvolveu a trama da sua criação ilimitada.
47. - Além de tão vastas solidões, com efeito, rebrilham mundos em sua magnificência, tanto quanto nas regiões acessíveis às investigações humanas; para lá desses desertos, vagam, no éter límpido esplêndidos oásis, que sem cessar renovam as cenas admiráveis da existência e da vida. Sucedem-se lá os agregados longínquos de substância cósmica, que o profundo olhar do telescópio percebe através das regiões transparentes do nosso céu e a que dais o nome de nebulosas irresolúveis, as quais vos parecem ligeiras nuvens de poeira branca, perdidas num ponto desconhecido do espaço etéreo. Lá se revelam e desdobram novos mundos, cujas condições variadas e diversas das que são peculiares ao vosso globo lhes dão uma vida que as vossas concepções não podem imaginar, nem os vossos estudos comprovar. É lá que em toda a sua plenitude resplandece o poder criador. Àquele que vem das regiões que o vosso sistema ocupa, outras leis se deparam em ação e cujas forças regem as manifestações da vida. E os novos caminhos que se nos apresentam em tão singulares regiões abrem-nos surpreendentes perspectivas. (1)
    (1) Dá-se, em Astronomia, o nome de nebulosas irresolúveis àquelas em cujo seio ainda se não puderam distinguir as estrelas que as compõem. Foram, a princípio, consideradas acervos de matéria cósmica em vias de condensação para formar mundos; hoje, porém, geralmente se entende que essa aparência é devida ao afastamento e que, com instrumentos bastante poderosos, todas seriam resolúveis.
    Uma comparação familiar pode dar idéia, embora muito imperfeita, das nebulosas resolúveis: são os grupos de centelhas projetadas pelas bombas dos fogos de artifício, no momento de explodirem. Cada uma dessas centelhas figurará uma estrela e o conjunto delas a nebulosa, ou grupo de estrelas reunidas num ponto do espaço e submetidas a uma lei comum de atração e de movimento. Vistas de certa distância, mal se distinguem essas centelhas, tendo o grupo por elas formado a aparência de uma nuvenzinha de fumaça. Não seria exata esta comparação, se se tratasse de massas de matéria cósmica condensada.
    A nossa Via-Láctea é uma dessas nebulosas. Conta perto de 30 milhões de estrelas ou sóis que ocupam nada menos de algumas centenas de trilhões de léguas de extensão e, entretanto, não é a maior. Suponhamos uma média de 20 planetas habitados circulando em torno de cada sol: teremos 600 milhões de mundos só para o nosso grupo.
    Se nos pudéssemos transportar da nossa nebulosa para outra, aí estaríamos como em meio da nossa Via-Láctea, porém com um céu estrelado de aspecto inteiramente diverso e este, mau grado às suas dimensões colossais, nos pareceria, de longe, um pequenino floco lenticular perdido no infinito. Mas, antes de atingirmos a nova nebulosa, seríamos qual viajante que deixa uma cidade e percorre vasto país inabitado, antes que chegue a outra cidade. Teríamos transposto incomensuráveis espaços desprovidos de estrelas e de mundos, o que Galileu denominou os desertos do espaço. À medida que avançássemos, veríamos a nossa nebulosa afastar-se atrás de nós, diminuindo de extensão às nossas vistas, ao mesmo tempo que, diante de nós, se apresentaria aquela para a qual nos dirigíssemos, cada vez mais distinta, semelhante à massa de centelhas de bomba de fogos de artifício. Transportando-nos pelo pensamento às regiões do espaço além do arquipélago da nossa nebulosa, veremos em torno de nós milhões de arquipélagos semelhantes e de formas diversas contendo cada um milhões de sóis e centenas de milhões de mundos habitados.
    Tudo o que nos possa identificar com a imensidade da extensão e com a estrutura do Universo é de utilidade para a ampliação das idéias, tão restringidas pelas crenças vulgares. Deus avulta aos nossos olhos, à medida que melhor compreendemos a grandeza de suas obras e nossa infinidade. Estamos longe, como se vê, da crença que a Gênese moisaica implantou e que fez da nossa pequenina, imperceptível Terra, a criação principal de Deus e dos seus habitantes os únicos objetos da sua solicitude. Compreendemos a vaidade dos homens que crêem que tudo no Universo foi feito para eles e dos que ousam discutir a existência do Ente supremo. Dentro de alguns séculos, causará espanto que uma religião feita para glorificar a Deus o tenha rebaixado a tão mesquinhas proporções e que haja repelido, como concepção do espírito do mal, as descobertas que somente vieram aumentar a nossa admiração pela sua onipotência, iniciando-nos nos grandiosos mistérios da criação. Ainda maior será o espanto, quando souberem que elas foram repelidas porque emancipariam o espírito dos homens e tirariam a preponderância dos que se diziam representantes de Deus na Terra.

quinta-feira, 16 de maio de 2013

A melancolia

25. Sabeis por que, às vezes, uma vaga tristeza se apodera dos vossos corações e vos leva a considerar amarga a vida? E que vosso Espírito, aspirando à felicidade e à liberdade, se esgota, jungido ao corpo que lhe serve de prisão, em vãos esforços para sair dele. Reconhecendo inúteis esses esforços, cai no desânimo e, como o corpo lhe sofre a influência, toma-vos a lassidão, o abatimento, uma espécie de apatia, e vos julgais infelizes.
Crede-me, resisti com energia a essas impressões que vos enfraquecem a vontade. São inatas no espírito de todos os homens as aspirações por uma vida melhor; mas, não as busqueis neste mundo e, agora, quando Deus vos envia os Espíritos que lhe pertencem, para vos instruírem acerca da felicidade que Ele vos reserva, aguardai pacientemente o anjo da libertação, para vos ajudar a romper os liames que vos mantêm cativo o Espírito. Lembrai-vos de que, durante o vosso degredo na Terra, tendes de desempenhar uma missão de que não suspeitais, quer dedicando-vos à vossa família, quer cumprindo as diversas obrigações que Deus vos confiou. Se, no curso desse degredo-provação, exonerando-vos dos vossos encargos, sobre vós desabarem os cuidados, as inquietações e tribulações, sede fortes e corajosos para os suportar. Afrontai-os resolutos. Duram pouco e vos conduzirão à companhia dos amigos por quem chorais e que, jubilosos por ver-vos de novo entre eles, vos estenderão os braços, a fim de guiar-vos a uma região inacessível às aflições da Terra. -François de Genève. (Bordéus.)

terça-feira, 7 de maio de 2013

A Necessidade do Estudo

"Quanto mais se agiganta a civilização na Terra, mais amplamente predomina o estudo na extensão do progresso geral.
Cientistas e pesquisadores analisam, infatigavelmente, não apenas as realizações alusivas ao domínio das forças da natureza, mas também os poderes da alma, a escarificarem todos os fenômenos do binômio mente-corpo, consagrando a era do pensamento racional.
Para isso, multiplicam-se escolas e cursos técnicos, estabelecimentos culturais e anfiteatros de ensino, em que perguntas e respostas sedimentam a renovação do mundo.
Natural, transportemos igualmente a questão da dor para os recintos de aula, por disciplina a examinar em regime de urgência..."

O trecho acima encontra-se na introdução do livro Leis de Amor ditado por Emmanuel e psicografado por F. C. Xavier e Waldo Vieira.

É fácil perceber o quanto às afirmações de Emmanuel estão corretas, pois, nos dias atuais estamos vivendo, cada vez mais, a busca do conhecimento nas mais diferentes áreas.

Dentro da literatura espírita, encontramos obras maravilhosas, que nos chegaram há várias décadas e cujo conteúdo é hoje totalmente confirmado. As obras de Emmanuel e de outros Espíritos iluminados, dão-nos testemunho de seu saber e do seu empenho em ajudar a população terrena e evoluir...

No livro Leis do Amor, vamos encontrar preciosas orientações sobre variados assuntos que fazem parte da vida humana. E, como diz Emmanuel, tudo precisa ser estudado para acompanhar o progresso e o desenvolvimento do nosso Planeta. Todavia, como nos encontramos no estágio de provas e expiações, a dor é um ingrediente constante nas nossas vidas e, igualmente deve ser estudada, para que bem compreendida, possamos entender-lhe a função.

À primeira vista, é quase impossível aceitar a dor como instrumento necessário à nossa evolução. Porém, quando lembramos que estamos na Terra em cumprimento de mais um mandato reencarnatório, logo percebemos que ela (a dor) é aguilhão indispensável para nos impulsionar no rumo da evolução, dando-nos oportunidade de reajustes e aprendizados.

As dificuldades maiores, os problemas difíceis e toda a repercussão que acarretam, são questões em desacordo com a nossa vontade, pois, somos ainda criaturas imperfeitas, envolvidas pelos sentimentos menores onde predomina o orgulho e o egoísmo. E, em função dessa nossa forma de pensar, não queremos que a dor faça parte da nossa vida...Somente os Espíritos que já alcançam um certo grau de conhecimento, sabem conviver com a dor de forma saudável.

Para estes Espíritos, a dor não é recebida como sinal de sofrimento. Mas como uma circunstância temporária que deve ser aceita a fim de ajudá-los na escola da existência. Eles (os mais esclarecidos), sabem que as dificuldades que enfrentamos estão de acordo com as nossas necessidades de aprendizado e por isso não se revoltam contra as situações adversas.

Confirmando as palavras de Emmanuel, diríamos que, se já percebemos o quanto é importante para o desenvolvimento humano estudar e aprender a respeito dos mais variados assuntos que fazem parte do campo cultural da atualidade, também precisamos conhecer os meandros que envolvem o sofrimento, questão esta tão estreitamente ligada ao nosso viver atual.

Todos gostaríamos de poder desfrutar plena felicidade e bem-estar total, mas, devido ao nosso padrão evolutivo, ainda tão deficientes, é certo que não conseguiríamos avaliar estas condições superiores. Por enquanto, ainda precisamos comparar para entender as diferenças...

Acreditamos que o fato de não conhecermos em profundidade o mecanismo da dor, é que nos leva ao desespero. Ela existe como conseqüência de atos cometidos em desacordo com as leis maiores, mas Deus, como Pai misericordioso que é, dá-nos a oportunidade de reparar essas infrações. Sendo assim, concluímos que a dor, embora não seja desejada, não é castigo, mas uma decorrência natural do nosso próprio existir de ontem ou de agora.

Falamos da dor, porque ela é uma realidade do nosso mundo e como nos explica Emmanuel, devemos situá-la como disciplina a ser examinada de onde possamos tirar lições que nos ajudem.

Quanto mais estivermos instruídos a respeito desta questão, tanto mais poderemos nos libertar dos sofrimentos que em muitas ocasiões nos afligem.

A Doutrina Espírita sustentada pela tríade, Ciência, Filosofia e Religião, é roteiro seguro a nos orientar nos mais diversos assuntos, ao mesmo tempo em que nos informa a respeito das ligações do mundo material com o mundo dos Espíritos.

sexta-feira, 3 de maio de 2013

Grandes Personagens do Espiritismo - Anália Franco

Anália Franco Bastos, mais conhecida como Anália Franco (Resende, 10 de fevereiro de 1856São Paulo, 20 de janeiro de 1919), foi uma professora, jornalista, poetisa e filantropa brasileira. 1
Fundou mais de setenta escolas e mais de uma vintena de asilos para crianças órfãs. Na cidade de São Paulo, fundou uma importante instituição de auxílio a mulheres e a região, antes afastada do centro, é hoje o bairro Jardim Anália Franco. Morreu vitimada pela gripe espanhola. 2
O seu nome de solteira era Anália Emília Franco. Após o seu matrimónio com Francisco Antônio Bastos, o seu nome passou a Anália Franco Bastos.
Diplomada como Normalistas, aos 16 anos de idade, em 1872, num concurso promovido pela Câmara de São Paulo, logrou a aprovação para exercer o cargo de professora primária. À época, acabara de entrar em vigor a Lei do Ventre Livre no país (1871) e, tendo tomado conhecimento de que os nascituros de escravas estavam a ser encaminhados à roda dos expostos na Santa Casa de Misericórdia, Anália mobilizou-se, usando o seu talento de escritora para dirigir-se às esposas dos fazendeiros e trocou o seu cargo na capital paulista por outro, no interior, a fim de socorrer as crianças necessitadas.
Graças à ajuda de uma dessas fazendeiras, num bairro de uma cidade no norte do estado de São Paulo obteve uma casa para instalar uma escola primária. Tendo a fazendeira lhe imposto a condição de segregação entre crianças brancas e afro-descendentes para a cessão gratuita do imóvel, Anália recusou-a terminantemente, passando a pagar um aluguel. Nessa primeira "Casa Maternal", passou a receber as crianças que lhe batiam à porta, levadas por parentes ou recolhidas nos caminhos da região. A fazendeira, ressentida com a altivez da jovem professora e vendo que a sua casa, embora alugada, se transformara num albergue, recorreu ao prestígio do marido (um "coronel"), e este obteve a remoção de Anália. Indo para a cidade, alugou uma velha casa, consumindo com essa despesa a metade do seu salário. Como o restante era insuficiente para a alimentação das crianças, não hesitou em ir pessoalmente pedir esmolas para prover as crianças, que referia carinhosamente em seus escritos como os "meus alunos sem mães". Numa folha local anunciou que, ao lado da escola pública, havia um pequeno "abrigo" para as crianças desamparadas. Embora essas práticas chocassem o setor conservador da cidade, Anália obteve o apoio de um grupo de abolicionistas e republicanos.
Desse modo, ao longo do tempo, tendo implantado algumas escolas maternais no interior do estado, voltou para a capital paulista, ainda com o apoio do grupo abolicionista e republicano. O seu prestígio no seio do professorado já era grande quando finalmente foi decretada a abolição da escravatura (1888) e a República (1889). O advento dessa nova era encontrou Anália com dois grandes colégios gratuitos para meninas e meninos. A sua preocupação com as crianças desamparadas, levou-a a fundar uma revista própria, intitulada "Álbum das Meninas", cujo primeiro número veio a público a 30 de abril de 1898. O artigo de fundo desse número inaugural tinha o título "Às mães e educadoras".
Pouco depois, com o apoio de vinte senhoras, fundou o instituto educacional que se denominou "Associação Feminina Beneficente e Instrutiva", a 17 de novembro de 1901, no Largo do Arouche. A Associação Feminina mantinha ainda um bazar na rua do Rosário nº 18, para a venda dos artefatos produzidos nas suas oficinas, e uma sucursal desse estabelecimento na Ladeira do Piques nº 23.
Em seguida criou várias "Escolas Maternais" e "Escolas Elementares", instalando, com inauguração solene a 25 de janeiro de 1902, o "Liceu Feminino", destinado a instruir e preparar professoras para a direção daquelas escolas, com o curso de dois anos para as professoras de "Escolas Maternais" e de três anos para as de "Escolas Elementares".
No curso de sua atuação publicou numerosos folhetos e opúsculos referentes aos cursos ministrados em suas escolas, e tratados sobre a infância, nos quais as professoras encontraram meios de desenvolver as faculdades afetivas e morais das crianças, como parte do processo pedagógico. O seu opúsculo "O Novo Manual Educativo", era dividido em três partes: Infância, Adolescência e Juventude.
Em 1 de dezembro de 1903, passou a publicar "A Voz Maternal", revista mensal com a tiragem de 6.000 exemplares - expressiva à época -, impressa em oficinas próprias.
Anália Franco mantinha Escolas Reunidas na capital e Escolas Isoladas no interior do estado, Escolas Maternais, Creches na capital e no interior do estado, bibliotecas anexas às escolas, Escolas Profissionais de Arte Tipográfica, Curso de Escrituração Mercantil, Prática de Enfermagem e Arte Dentária, de Línguas (francês, italiano, inglês e alemão); Música, Desenho, Pintura, Pedagogia, Costura, Bordados, Flores Artificiais e Chapéus, num total de 37 instituições.
A sua produção literária compreendeu ainda três romances: "A Égide Materna", "A Filha do Artista", e "A Filha Adotiva", além de numerosas peças teatrais, diálogos e várias poesias, destacando-se "Hino a Deus", "Hino a Ana Nery", "Minha Terra", "Hino a Jesus" e outros.
Em 1911 conseguiu, sem qualquer recurso financeiro, adquirir a "Chácara Paraíso", 75 alqueires de terra, parte matas e capoeiras e o restante benfeitorias diversas, entre as quais um velho solar, que havia pertencido a Diogo Antônio Feijó. Nesse espaço fundou a "Colônia Regeneradora D. Romualdo", aproveitando o casarão, a estrebaria e a antiga senzala, internando ali sob direção feminina, os rapazes mais aptos para a agricultura, a horticultura e outras atividades agropastoris, recolhendo ainda moças desviadas, conseguindo assim regenerar centenas de mulheres.
Ao final da vida, Anália Franco constituiu 71 Escolas, 2 albergues, 1 colônia regeneradora para mulheres, 23 asilos para crianças órfãs, 1 Banda Musical Feminina, 1 orquestra, 1 Grupo Dramático, além de oficinas para manufatura em 24 cidades do interior e da capital.
Veio a falecer quando havia tomado a deliberação de viajar até ao Rio de Janeiro fundar mais uma instituição, projeto que viria a ser materializado por seu esposo, com a fundação do "Asilo Anália Franco".

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Oração do Trabalhador

Óh Deus!
Eis-me aqui para iniciar uma nova jornada de trabalho e exercer minha profissão com dignidade e amor.
Eu te ofereço o meu suor, minhas lutas, alegrias e dores;
Agradeço-te pelo emprego que tenho e pelo pão de cada dia.
Peço-te, em especial, pelos desempregados.
Faze com que superem com fé e esperança essa dificuldade, para sustentar suas famílias.
Senhor Jesus, operário de Nazaré, inspira-me a ser um bom profissional e amigo de todos.
Dá-me saúde para trabalhar todos os dias e proteja-me dos acidentes.
Concede a mim e aos meus companheiros detrabalho uma jornada feliz.
Tu, que és o Mestre de todas as profissões,
derrama tua benção sobre todos os trabalhadores.

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O Purgatório


1. - O Evangelho não faz menção alguma do purgatório, que só foi admitido pela Igreja no ano de 593. É incontestavelmente um dogma mais racional e mais conforme com a justiça de Deus que o inferno, porque estabelece penas menos rigorosas e resgatáveis para as faltas de gravidade mediana.
O princípio do purgatório é, pois, fundado na eqüidade, porque, comparado à justiça humana, é a detenção temporária a par da condenação perpétua. Que julgar de um país que só tivesse a pena de morte para os crimes e os simples delitos?
Sem o purgatório, só há para as almas duas alternativas extremas: a suprema felicidade ou o eterno suplício. E nessa hipótese, que seria das almas somente culpadas de ligeiras faltas? Ou compartilhariam da felicidade dos eleitos, ainda quando imperfeitas, ou sofreriam o castigo dos maiores criminosos, ainda quando não houvessem feito muito mal, o que não seria nem justo, nem racional.
2. - Mas, necessariamente, a noção do purgatório deveria ser incompleta, porque apenas conhecendo a penalidade do fogo fizeram dele um inferno menos tenebroso, visto que as almas aí também ardem, embora em fogo mais brando. Sendo o dogma das penas eternas incompatível com o progresso, as almas do purgatório não se livram dele por efeito do seu adiantamento, mas em virtude das preces que se dizem ou que se mandam dizer em sua intenção. E se foi bom o primeiro pensamento, outro tanto não acontece quanto às conseqüências dele decorrentes, pelos abusos que originaram. As preces pagas transformaram o purgatório em mina mais rendosa que o inferno. (1)
    (1) O purgatório originou o comércio escandaloso das indulgências, por intermédio das quais se vende a entrada no céu. Este abuso foi a causa primaria da Reforma, levando Lutero a rejeitar o purgatório.
3. Jamais foram determinados e definidos claramente o lugar do purgatório e a natureza das penas aí sofridas. A Nova Revelação estava reservado o preenchimento dessa lacuna, explicando-nos a causa das terrenas misérias da vida, das quais só a pluralidade das existências poderia mostrar-nos a justiça.
Essas misérias decorrem necessariamente das imperfeições da alma, pois se esta fosse perfeita não cometeria faltas nem teria de sofrer-lhe as conseqüências. O homem que na Terra fosse em absoluto sóbrio e moderado, por exemplo, não padeceria enfermidades oriundas de excessos.
O mais das vezes ele é desgraçado por sua própria culpa, porém, se é imperfeito, é porque já o era antes de vir à Terra, expiando não somente faltas atuais, mas faltas anteriores não resgatadas. Repara em uma vida de provações o que a outrem fez sofrer em anterior existência. As vicissitudes que experimenta são, por sua vez, uma correção temporária e uma advertência quanto às imperfeições que lhe cumpre eliminar de si, a fim de evitar males e progredir para o bem. São para a alma lições da experiência, rudes às vezes, mas tanto mais proveitosas para o futuro, quanto profundas as impressões que deixam. Essas vicissitudes ocasionam incessantes lutas que lhe desenvolvem as forças e as faculdades intelectivas e morais. Por essas lutas a alma se retempera no bem, triunfando sempre que tiver denodo para mantê-las até ao fim.
O prêmio da vitória está na vida espiritual, onde a alma entra radiante e triunfadora como soldado que se destaca da refrega para receber a palma gloriosa.
4. - Em cada existência, uma ocasião se depara à alma para dar um passo avante; de sua vontade depende a maior ou menor extensão desse passo: franquear muitos degraus ou ficar no mesmo ponto. Neste último caso, e porque cedo ou tarde se impõe sempre o pagamento de suas dívidas, terá de recomeçar nova existência em condições ainda mais penosas, porque a uma nódoa não apagada ajunta outra nódoa.
É, pois, nas sucessivas encarnações que a alma se despoja das suas imperfeições, que se purga, em uma palavra, até que esteja bastante pura para deixar os mundos de expiação como a Terra, onde os homens expiam o passado e o presente, em proveito do futuro. Contrariamente, porém, à idéia que deles se faz, depende de cada um prolongar ou abreviar a sua permanência, segundo o grau de adiantamento e pureza atingido pelo próprio esforço sobre si mesmo. O livramento se dá, não por conclusão de tempo nem por alheios méritos, mas pelo próprio mérito de cada um, consoante estas palavras do Cristo: - A cada um, segundo as suas obras, palavras que resumem integralmente a justiça de Deus.
5. - Aquele, pois, que sofre nesta vida pode dizer-se que é porque não se purificou suficientemente em sua existência anterior, devendo, se o não fizer nesta, sofrer ainda na seguinte. Isto é ao mesmo tempo eqüitativo e lógico. Sendo o sofrimento inerente à imperfeição, tanto mais tempo se sofre quanto mais imperfeito se for, da mesma forma por que tanto mais tempo persistirá uma enfermidade quanto maior a demora em tratá-la. Assim é que, enquanto o homem for orgulhoso, sofrerá as conseqüências do orgulho; enquanto egoísta, as do egoísmo.
6. - Devido às suas imperfeições, o Espírito culpado sofre primeiro na vida espiritual, sendo-lhe depois facultada a vida corporal como meio de reparação. É por isso que ele se acha nessa nova existência, quer com as pessoas a quem ofendeu, quer em meios análogos àqueles em que praticou o mal, quer ainda em situações opostas à sua vida precedente, como, por exemplo, na miséria, se foi mau rico, ou humilhado, se orgulhoso.
A expiação no mundo dos Espíritos e na Terra não constitui duplo castigo para eles, porém um complemento, um desdobramento do trabalho efetivo a facilitar o progresso. Do Espírito depende aproveitá-lo. E não lhe será preferível voltar à Terra, com probabilidades de alcançar o céu, a ser condenado sem remissão, deixando-a definitivamente? A concessão dessa liberdade é uma prova da sabedoria, da bondade e da justiça de Deus, que quer que o homem tudo deva aos seus esforços e seja o obreiro do seu futuro; que, infeliz por mais ou menos tempo, não se queixe senão de si mesmo, pois que a rota do progresso lhe está sempre franca.
7. - Considerando-se quão grande é o sofrimento de certos Espíritos culpados no mundo invisível, quanto é terrível a situação de outros, tanto mais penosa pela impotência de preverem o termo desses sofrimentos, poder-se-ia dizer que se acham no inferno, se tal vocábulo não implicasse a idéia de um castigo eterno e material.
Mercê, porém, da revelação dos Espíritos e dos exemplos que nos oferecem, sabemos que o prazo da expiação esta subordinado ao melhoramento do culpado.
8. - O Espiritismo não nega, pois, antes confirma, a penalidade futura. O que ele destrói é o inferno localizado com suas fornalhas e penas irremissíveis. Não nega, outrossim, o purgatório, pois prova que nele nos achamos, e definindo-o precisamente, e explicando a causa das misérias terrestres, conduz à crença aqueles mesmos que o negam. Repele as preces pelos mortos? Ao contrário, visto que os Espíritos sofredores as solicitam; eleva-as a um dever de caridade e demonstra a sua eficácia para os conduzir ao bem e, por esse meio, abreviar-lhes os tormentos (1). Falando à inteligência, tem levado a fé a muito incrédulo, incutindo a prece no ânimo dos que a escarneciam. O que o Espiritismo afirma é que o valor da prece está no pensamento e não nas palavras, que as melhores preces são as do coração e não dos lábios, e, finalmente, as que cada qual murmura de si mesmo e não as que se mandam dizer por dinheiro. Quem, pois, ousaria censurá-lo?
    (1) Vede O Evangelho segundo o Espiritismo, cap. XXVII - "Ação da prece"
9. - Seja qual for a duração do castigo, na vida espiritual ou na Terra, onde quer que se verifique, tem sempre um termo, próximo ou remoto. Na realidade não há para o Espírito mais que duas alternativas, a saber: - punição temporária e proporcional à culpa, e recompensa graduada segundo o mérito. Repele o Espiritismo a terceira alternativa, da eterna condenação. O inferno reduz-se a figura simbólica dos maiores sofrimentos cujo termo é desconhecido. O purgatório, sim, é a realidade.
A palavra purgatório sugere a idéia de um lugar circunscrito: eis por que mais naturalmente se aplica à Terra do que ao Espaço infinito onde erram os Espíritos sofredores, e tanto mais quanto a natureza da expiação terrena tem os caracteres da verdadeira expiação.
Melhorados os homens, não fornecerão ao mundo invisível senão bons Espíritos; e estes, encarnando-se, por sua vez só fornecerão à Humanidade corporal elementos aperfeiçoados. A Terra deixará, então, de ser um mundo expiatório e os homens não sofrerão mais as misérias decorrentes das suas imperfeições.
Aliás, por esta transformação, que neste momento se opera, a Terra se elevará na hierarquia dos mundos. (2)
    (2) Idem, cap. III - "Progressão dos mundos".
10. - Mas, por que não teria o Cristo falado do purgatório? É que, não existindo a idéia, não havia palavra que a representasse.
O Cristo serviu-se da palavra inferno, a única usada, como termo genérico, para designar as penas futuras, sem distinção. Colocasse ele, ao lado da palavra inferno, uma equivalente a purgatório e não poderia precisar-lhe o verdadeiro sentido sem ferir uma questão reservada ao futuro; teria, enfim, de consagrar a existência de dois lugares especiais de castigo. O inferno em sua concepção genérica, revelando a idéia de punição, encerrava, implicitamente, a do purgatório, que não é senão um modo de penalidade.
Reservado ao futuro o esclarecimento sobre a natureza das penas, competia-lhe igualmente reduzir o inferno ao seu justo valor. Uma vez que a Igreja, após seis séculos, houve por bem suprir o silêncio de Jesus quanto ao purgatório, decretando-lhe a existência, é porque ela julgou que ele não havia dito tudo. E por que não havia de dar-se sobre outros pontos o que com este se deu?