sexta-feira, 28 de junho de 2013

Deus ouve nossas preces

 Nas preces, tenho a impressão que Deus não a ouve. Por que? Seria falta de fé?
Prezada I. Se você está esperando uma manifestação ostensiva, como uma voz que respondesse às suas preces ou objetos que se movimentem, isto, realmente, não vai acontecer, porque, caso aconteça, não é uma ação de Deus e sim, de espíritos, que pretendem ajudá-la.
Deus ouve sim as nossas preces sinceras, humildes e nos responde através dos acontecimentos da vida, embora, não do modo que pretendemos, nem no espaço de tempo que queremos.
Às vezes, desesperados, queremos uma solução imediata para o problema que nos aflige e aparentemente não recebemos nenhuma resposta. Entretanto, a resposta pode estar no próprio problema.
Veja este exemplo: pedimos a Deus a cura de uma enfermidade grave e nada acontece; pode ser que a doença seja a verdadeira cura, não para um corpo que poderá viver mais alguns anos, mas para o espírito imortal que viverá para sempre. Todas as vezes que algo grave, como enfermidades, nos atingir, ou crises financeiras, pode ter a certeza que a enfermidade ou o problema está tentando nos ensinar alguma coisa. Precisamos ficar atentos para aprender.
Outra coisa importante de ser lembrada, é que estamos condicionados a orar para pedir e nos esquecemos de orar para agradecer ou para louvar. Não que Deus precise das nossas louvações, porém, será bom para nós mesmos, o reconhecimento de um ser superior que nos ama e protege.
Outra observação é a de transformar as preces em ação, trabalho, realização em favor da vida e do próximo. Uma última observação: quando você for orar, recolha-se em seu quarto, isto, em seu coração. Faça silêncio e vai ouvir o murmúrio de Deus através da própria natureza que te cerca.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Adélia Rueff

Nascida em Pinhal, Estado de São Paulo, no dia 5 de Junho de 1868 e desencarnada na mesma cidade, no dia 2 de Fevereiro de 1953, com 84 anos de idade.
Desde o seu surgimento na Terra, no ano de 1857, o Espiritismo enfrentou tenaz resistência por parte da religião majoritária do Brasil. Entretanto, na década de 1930, essa pressão acentuou- se de maneira inusitada, fazendo- se sentir em toda a sua intensidade.
Na cidade de Pinhal, o clima não era diferente. Entretanto, como Deus situa em cada cidade um Espírito que desenvolve tarefas pioneiras e santificantes, aquele núcleo populacional do Estado de São Paulo, não poderia constituir exceção, por isso ali reencarnou o Espírito missionário de Adélia Rueff, mais conhecida por "tia Adélia", que teve a oportunidade ímpar de desenvolver santificante trabalho em favor do esclarecimento dos seus semelhantes, alicerçada na recomendação de Jesus do "Amai- vos uns aos outros".
A fim de propiciar aos nossos leitores uma apagada súmula biográfica dessa grande vida, passamos a transcrever um substancioso trabalho elaborado pelo confrade João Batista Laurito, atual presidente da Federação Espírita do Estado de São Paulo, que teve a oportunidade feliz de com ela conviver, locupletando- se com os frutos sazonados que ela tão bem sabia doar aos que usufruíram de sua benfazeja orientação espiritual.
"Foi exatamente em 1936 que tive os meus olhos abertos para as claridades fulgurantes da Doutrina Consoladora. Embora nascido em berço espírita, foi somente nesse ano que, indo residir em Pinhal, a fim de estudar na "Escola Agrícola", conheci o "Centro Espírita Estrela da Caridade", brilhante fanel de luzes na Região Mojiana, centro de irradiação de caridade e amor a todos os que tinham a oportunidade de freqüentá-lo.
Essa Casa foi fundada em 11 de janeiro de 1911 e, desde o dia de sua fundação até 1950, ininterruptamente, foi essa célula de fraternidade, sábia e amorosamente presidida por sua fundadora ADÉLIA RUEFF (Tia Adélia), assim chamada, porque solteira, abrigou em seu lar enorme contingente de sobrinhos de outras cidades, que na idade própria buscavam Pinhal, para aculturamento escolar, fato que durou muitos anos. E esses sobrinhos eram tantos, que generalizaram entre outras pessoas, a alcunha "Tia Adélia".
O Dr. Francisco Silviano de Almeida Brandão, por ocasião de sua colação de grau como médico, houvera feito uma promessa no final do século XIX que se tudo transcorresse bem por ocasião de sua formatura, abriria um Centro Espírita, pois já nessa época professava a crença reencarnacionista. Mas como as coisas na ocasião eram, além de difíceis, o espírito popular muito antagônico, foi postergando a idéia até desencarnar. No mundo espiritual, viu a necessidade do cumprimento da promessa, e surgindo a primeira oportunidade, comunicou- se com Tia Adélia, pedindo- lhe que cumprisse por ele a promessa. Assim nasceu o "Centro Espírita Estrela da Caridade".
Durante cinco anos, moramos com ela. E às terças e sábados, às 19:30 horas, lá estávamos no "Estrela da Caridade", e a sua voz, firme, inflexível, embora mansa e doce, ainda ecoa em nossos ouvidos, quando iniciava a sessão declamando: "Deus nosso Pai, que sois todo poder e bondade... e ao encerrar: Sublime estrela, farol das imortais falanges...
Nasceu no dia 5 de junho de 1868, ali mesmo em Pinhal, predestinada a somente servir, não casou. Durante toda a sua fértil existência, amou e deu tanto de si aos outros, que formou em seu derredor uma auréola de inenarrável admiração. Médium de exuberantes proporções bastava a imposição de suas compassivas mãos, para aliviar instantaneamente as pessoas, que a procuravam com tanta avidez, sem lhe permitir sossego ou descanso.
Certa feita ela viajou. E nós, que aos domingos aproveitávamos para dormir até bem mais tarde, sem nenhuma alegria ou boa vontade, atendemos 17 pessoas que a procuraram para tomar passes, das 8 às 12 horas. Uma ocasião, um confrade de Jacutinga -- Minas Gerais --, viajou, a pé, 26 quilômetros para presenteá-la com um saquinho de feijão verde, numa atitude de comovedora gratidão.
A mesa diretora dos trabalhos era formada. Na cabeceira principal sentava Tia Adélia, sob uma iluminada Estrela de 1âmpadas coloridas, símbolo do Centro. Na outra cabeceira, o Vice-Presidente, Zé Café. As laterais para os médiuns, Dona Ordalha, Tereza, Idalina, Dona Eugênia, e a extraordinária Dona Adélia Neto, que quando recebia o Guia Espiritual do Centro "Irmão Silviano", se colocava de pé, abria os olhos, e de uma criatura tímida e simples, embora bela, se transformava num tribuno imponente e erudito. Pudera, médium inconsciente dando passividade ao Espírito Dr. Francisco Silviano de Almeida Brandão, médico, Presidente do Estado de Minas Gerais. Na porta de entrada, controlando com vigilância e severidade a admissão dos freqüentadores, a Mariana e a Rosa Domiciano, zeladoras do grupo.
Viajando em charretes, excepcionalmente em automóveis e quase sempre a pé, lá ia Tia Adélia, à periferia Pinhalense e aos sítios vizinhos, cumprindo a predestinação de sua encarnação como lídima missionária do Cristo: atendendo aos aflitos, curando os obsediados, levantando os caídos, vestindo as viúvas, alimentando as crianças e amparando os velhos.
Que criatura extraordinária! Doce, mansa, boa. Jamais a vimos encolerizada, jamais a vimos levantar a voz. À medida que envelhecia, fruto de dois acidentes graves, se curvava, se encarquilhava, tornando- se menor. Fatos que nunca a fizeram perder a paciência. Olhos vivos, argutos, mente clara, pensamento limpo, conselheira oficial de quase toda a população pinhalense. Fato que lhe proporcionou tributo de grande admiração, respeito e afeição por seus contemporâneos.
Descrever fatos do desenvolvimento espírita de "Tia Adélia" no campo da benemerência, seria tarefa que preencheria um enorme livro.
Médium de determinação na crença do trabalho doutrinário, deixava sempre para segundo plano a necessidade de repouso físico, aproveitando todo tempo disponível no atendimento dos mais necessitados do caminho.
Por ocasião das festividades comemorativas no "Estrela da Caridade", Tia Adélia, com muito carinho e inteligência, preparava seus discursos e em pé, inflamada, erecta, impressionava os presentes ao transmitir seus inequívocos conhecimentos a respeito da Doutrina. Empolgava tanto as suas palestras, que os menos avisados, desconhecedores das virtudes mediúnicas, não conseguiam reconhecê-la na oradora.
Os freqüentadores do "Centro Espírita Estrela da Caridade", chegavam a venerar a tal ponto o Guia Espiritual do Grupo, Irmão Silviano, que narraremos um acontecimento inusitado para o conhecimento dos leitores:
Em determinada ocasião, brincávamos com um grupo de crianças, quando uma garota nos contou algo muito sério. Exigimos dela que jurasse se aquilo era verdade. E ela, jurou por Deus que tudo quanto dissera representava a expressão da verdade. Não aceitamos o juramento e retrucamos: jurar por Deus não interessa; você jura pelo "Irmão Silviano"? -- Era exigir demais dela, que não teve coragem de ratificar o juramento, pois para jurar em nome do "Irmão Silviano" só se fosse inabalável verdade.
A residência de Tia Adélia era mais freqüentada que o Centro Espírita. Era gente que entrava, era gente que saía, uns tomando passes, outros recebendo conselhos e orientações. Aos domingos verdadeiras filas se formavam, alguém querendo ser grato empunhava uma cesta de laranjas, um feixe de verduras; outro, uma braçada de flores, pacotes de cereais, frangos, ovos, lenha rachada, frutas, etc... Guardávamos tudo. Na segunda- feira, iniciávamos a caminhada inversa dos presentes. Eram necessitados de toda sorte que iam visitá-la, e após o passe reparador, a palavra conselheira e amiga, e um agradozinho representado por ovos, frutas, legumes, flores. Tudo que vinha no domingo saía na segunda-feira, numa vivência "Dai de graça o que de graça receberdes".

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Palestra: O que é a Doutrina Espírita

Nesta palestra, será explicado ao público que atualmente há uma grande confusão na sociedade sobre o que verdadeiramente é a Doutrina Espírita ou Espiritismo, que significa a mesma doutrina de tríplice aspecto: religioso, filosófico e científico. Deixe claro que as palavras "espírita" e "espiritismo" foram criadas pelo codificador da Doutrina, Allan Kardec, em 1857, e que é indevido o uso destes termos para designar cultos afro-brasileiros, que embora mereçam nosso respeito, não são espíritas, pois não seguem os postulados básicos do Espiritismo.
"E eu rogarei ao Pai, e Ele vos enviará outro Consolador, a fim de que permaneça eternamente convosco: o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber porque não o vê e não o conhece...o Pai enviará em meu nome, e esse vos ensinará todas as coisas, e vos fará lembrar de tudo quanto vos tenho dito" (João, XIV, 16 a 26).
Esta passagem da vida de Jesus mostra o plano divino sobre o envio aos homens de novas formas de conhecimento, tanto sobre a parte material, como também espiritual. Jesus vivia em um tempo onde muito do que dizia não era compreendido por aqueles que o cercavam. A ignorância material (poucos sabiam ler) e espiritual era grande. Não havia um entendimento coerente sobre a vida, a existência de algo após a morte do corpo, sobre Deus. Por isso, muitas vezes o Mestre disse: "Quem tem olhos de ver, que veja", ou seja, quem tiver condição espiritual suficiente, que compreenda o que estava sendo dito.
Mas Jesus promete que em um determinado tempo viria à Terra um Consolador, que ficaria eternamente com os homens. Esta afirmação já mostra que o Consolador não seria material, pois se o fosse não poderia ficar eternamente aqui. Portanto, deveria vir como algo espiritual, provavelmente através de ensinos, que permaneceriam através dos tempos. Lembraria-nos de tudo o que Jesus disse, numa demonstração de que o Mestre já sabia que seus postulados seriam esquecidos ou distorcidos por interesses mundanos. E mais: ensinaria novas coisas, que o povo de sua época não conseguiria entender, devido suas limitações em todos os sentidos.
*Mesas-girantes e Hippolyte Léon Denizard Rivail (Allan Kardec)
Conte aos ouvintes, resumidamente, os fenômenos mediúnicos de efeitos físicos que despertaram a curiosidade na França e em muitos países europeus a partir de 1850, conhecidos como mesas-girantes. . Mostre como o plano espiritual planejou a chegada dos ensinamentos espirituais até o professor Hippolyte Rivail. Relembre o quanto ele pesquisou antes de aceitar codificar a Doutrina Espírita e porque passou a utilizar o pseudônimo de Allan Kardec. Fale sobre a falange do Espírito de Verdade, responsável pelos conhecimentos vindos do mundo invisível, e faça a ligação com a parte já explicada do Evangelho de João, onde Jesus diz que o Consolador Prometido seria o Espírito de Verdade. Se quiser maiores detalhes para sustentar sua explicação, visite a biografia de Allan Kardec.
*A Codificação:
  • O Livro dos Espíritos (18 de abril de 1857)
  • O Livro dos Médiuns
  • O Evangelho Segundo o Espiritismo
  • A Gênese
  • O Céu e o Inferno
Após explicar como surgiu a Doutrina Espírita e a função de Allan Kardec, mostre aos assistentes os principais livros que compõem o Espiritismo. Faça um resumo, realçando o foco de cada obra, começando pelo Livro dos Espíritos. Demonstre que ele deve ser considerado a espinha dorsal da Doutrina, pois dele partem todos os outros livros. Há um resumo das obras, que pode ser consultado em resumos.
*Não há rituais; velas; roupas especiais; cobrança financeira de qualquer tipo; promessa de cura.
Explique as confusões que normalmente acontecem com relação ao Espiritismo. Lembre que a Doutrina Espírita segue a orientação de Jesus, em que Deus é Espírito, e deve ser adorado em espírito e verdade. Portanto, não temos ritual algum, muito menos cobramos pela assistência espiritual prestada, pois devemos dar de graça o que de graça recebemos, disse o Mestre Jesus. Promessa de cura não são feitas nos centros, pois o espírita sabe que quem obra são os bons Espíritos, e não os encarnados, que não sabem os desígnios de Deus. Se quiser, consulte mais sobre o assunto em O que é e o que não é Espiritismo.

*Princípios da Doutrina Espírita na Bíblia:

-Existência de Deus ( Mateus, VI, 9 a 13, "O Pai Nosso").

Mostre neste tópico que os princípios básicos da Doutrina Espírita estão contidos nas Escrituras Sagradas. Isso fará com que os que vêm pela primeira vez à casa comecem a ver o Espiritismo de forma mais simpática. Todos nós temos atavismos religiosos, e a citação da Bíblia conforta-nos e até ajuda-nos a compreender melhor os preceitos da doutrina. A oração do Pai Nosso é um dos exemplos de que Deus existe, e é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas, como afirma O Livro dos Espíritos.

-Existência da vida espiritual, do Espírito e sua comunicabilidade e a reencarnação (Mateus, 17, 1 a 13, "Transfiguração").

Esta passagem do Evangelho é bela. No episódio da transfiguração, Jesus, acompanhado dos apóstolos Pedro, Tiago e João, conversa com os Espíritos dos profetas Moisés e Elias, demonstrando a existência do Espírito, da vida espiritual, a possibilidade de comunicação entre os dois mundos. Além disso, faz alusão à reencarnação, quando diz que o profeta Elias foi João Batista, primo de Jesus. Neste momento, vale citar que Elias, em sua época, cerca de mil anos antes de Jesus, ordenou a decapitação de adoradores de deuses estranhos. E que João Batista, contemporâneo de Jesus, desencarnou decapitado por ordem do rei Herodes, demonstrando assim a existência da Lei de Causa e Efeito, a ser comentada logo mais.

-Diversas categorias de evolução dos Espíritos (Mateus, XIII, 4 a 9, "Parábola do Semeador").

A parábola do semeador demonstra a diferença de graus de evolução entre os seres, que é um dos princípios da Doutrina, que ensina o seguinte: todo Espírito é criado simples e ignorante, e de encarnação em encarnação vai adquirindo conhecimentos, e optando pelo caminho do bem ou da ignorância, segundo seu livre-arbítrio. É exatamente isso que mostra a parábola.

-A Lei de Causa e Efeito (Mateus, XXVI, 52, "Prisão de Jesus").

Na prisão de Jesus, o apóstolo Pedro, tentando defendê-lo, saca uma espada e corta a orelha de um soldado. Energicamente, Jesus o repreende, afirmando claramente a Pedro: Quem por espada ferir, por espada será ferido. É a lei de Causa e Efeito, Ação e Reação, ou Plantio e Colheita, que explica a Doutrina Espírita. Tudo o que fazemos, de bem ou mal, retornará a nós mesmos, nesta ou em outras encarnações. É a justiça de Deus, beneficiando-se com nossos bons atos e ensinando-nos com nossas atitudes impensadas, que nos farão refletir e modificar as más tendências.

quinta-feira, 20 de junho de 2013

Noções sobre as aparições

100. De todas as manifestações espíritas, as mais interessantes, sem contestação possível, são aquelas por meio das quais os Espíritos se tornam visíveis. Pela explicação deste fenômeno se verá que ele não é mais sobrenatural do que os outros. Vamos apresentar primeiramente as respostas que os Espíritos deram acerca do assunto:
1ª Podem os Espíritos tornar-se visíveis?
"Podem, sobretudo, durante o sono. Entretanto algumas pessoas os vêem quando acordadas, porém, isso é mais raro." NOTA. Enquanto o corpo repousa, o Espírito se desprende dos laços materiais; fica mais livre e pode mais facilmente ver os outros Espíritos, entrando com eles em comunicação. O sonho não é senão a recordação desse estado. Quando de nada nos lembramos, diz-se que não sonhamos, mas, nem por isso a alma deixou de ver e de gozar da sua liberdade. Aqui nos ocupamos especialmente com as aparições no estado de vigília. (Ver, para maiores particularidades sobre o estado do Espírito durante o sono, O Livro dos Espíritos, cap. "Da emancipação da alma", n. 409.0
2ª Pertencem mais a uma categoria do que a outra os Espíritos que se manifestam fazendo-se visíveis?
"Não; podem pertencer a todas as classes, assim às mais elevadas, como as mais inferiores."
3ª A todos os Espíritos é dado manifestarem-se visivelmente?
"Todos o podem; mas. nem sempre têm permissão para fazê-lo, ou o querem.
4ª Que fim objetivam os Espíritos que se manifestam visivelmente?
"Isso depende; de acordo com as suas naturezas, o fim pode ser bom, ou mau."
5ª Como lhes pode ser permitido manifestar-se, quando para mau fim?
"Nesse caso é para experimentar os a quem eles aparecem. Pode ser má a intenção do Espírito e bom o resultado."
6ª Qual pode ser o fim que tem em vista o Espírito que se torna visível com má intenção?
"Amedrontar e muitas vezes vingar-se." a) Que visam os que vêm com boa intenção? "Consolar as pessoas que deles guardam saudades, provar-lhes que existem e estão perto delas; dar conselhos e, algumas vezes, pedir para si mesmos assistência."
7ª Que inconveniente haveria em ser permanente e geral entre os homens a possibilidade de verem os Espíritos? Não seria esse um meio de tirar a dúvida aos mais incrédulos?
"Estando o homem constantemente cercado de Espíritos, o vê-los a todos os instantes o perturbaria, embaraçar-lhe-ia os atos e tirar-lhe-ia a iniciativa na maioria dos casos, ao passo que, julgando-se só, ele age mais livremente. Quanto aos incrédulos, de muitos meios dispõem para se convencerem, se desses meios quiserem aproveitar-se e não estiverem cegos pelo orgulho. Sabes multo bem existirem pessoas que hão visto e que nem por isso crêem, pois dizem que são ilusões. Com esses não te preocupes; deles se encarrega Deus."
NOTA. Tantos inconvenientes haveria em vermos constantemente os Espíritos, como em vermos o ar que nos cerca e as miríades de animais microscópicos que sobre nós e em torno de nós polulam. Donde devemos concluir que o que Deus faz é bem feito e que Ele sabe melhor do que nós o que nos convém.
8ª Uma vez que há inconveniente em vermos os Espíritos, por que, em certos casos, é isso permitido?
"Para dar ao homem uma prova de que nem tudo morre com o corpo, que a alma conserva a sua Individualidade após a morte. A visão passageira basta para essa prova e para atestar a presença de amigos ao vosso lado e não oferece os Inconvenientes da visão constante."
9ª Nos mundos mais adiantados que o nosso, os Espíritos são vistos com mais freqüência do que entre nós?
"Quanto mais o homem se aproxima da natureza espiritual, tanto mais facilmente se põe em comunicação com os Espíritos. A grosseria do vosso envoltório é que dificulta e torna rara a percepção dos seres etéreos."
10ª Será racional assustarmo-nos com a aparição de um Espírito?
"Quem refletir deverá compreender que um Espírito, qualquer que seja, é menos perigoso do que um vivo. Demais, podendo os Espíritos, como podem, ir a toda parte, não se faz preciso que uma pessoa os veja para saber que alguns estão a seu lado. O Espírito que queira causar dano pode fazê-lo, e até com mais segurança, sem se dar a ver. Ele não é perigoso pelo fato de ser Espírito, mas, sim, pela influência que pode exercer sobre o homem, desviando-o do bem e impelindo-o ao mal."
NOTA. As pessoas que, quando se acham na solidão ou na obscuridade, se enchem de medo raramente se apercebem da causa de seus pavores. Não seriam capazes de dizer de que é que têm medo. Muito mais deveriam temer o encontro com homens do que com Espíritos, porquanto um malfeitor é bem mais perigoso quando vivo, do que depois de morto. Uma senhora do nosso conhecimento teve uma noite, em seu quarto, uma aparição tão bem caracterizada, que ela julgou estar em sua presença uma pessoa e a sua primeira sensação foi de terror. Certificada de que não havia pessoa alguma, disse: "Parece que é apenas um Espírito; posso dormir tranqüila."
11ª Poderá aquele a quem um Espírito apareça travar com ele conversação?
"Perfeitamente e é mesmo o que se deve fazer em tal caso, perguntando ao Espírito quem ele é, o que deseja e em que se lhe pode ser útil. Se se tratar de um Espírito infeliz e sofredor, a comiseração que se lhe testemunhar o aliviará. Se for um Espírito bondoso, pode acontecer que traga a intenção de dar bons conselhos." a) Como pode o Espírito, nesse caso, responder? "Algumas vezes o faz por meio de sons articulados, como o faria uma pessoa viva. Na maioria dos casos, porém, pela transmissão dos pensamentos."
12ª Os Espíritos que aparecem com asas têm-nas realmente, ou essas asas são apenas uma aparência simbólica?
"Os Espíritos não têm asas, nem de tal coisa precisam, visto que podem ir a toda parte como Espíritos. Aparecem da maneira por que precisam impressionar a pessoa a quem se mostram. Assim é que uns aparecerão em trajes comuns, outros envoltos em amplas roupagens, alguns com asas, como atributo da categoria espiritual a que pertencem."
13ª As pessoas que vemos em sonho são sempre as que parecem ser pelo seu aspecto?
"Quase sempre são mesmo as que os vossos Espíritos buscam, ou que vêm ao encontro deles."
14ª Não poderiam os Espíritos zombeteiros tomar as aparências das pessoas que nos são caras, para nos induzirem em erro?
"Somente para se divertirem à vossa custa tomam eles aparências fantásticas. Há coisas, porém, com que não lhes é lícito brincar."
15ª Compreende-se que, sendo uma espécie de evocação, o pensamento faça com que se apresente o Espírito em quem se pensa. Como é, entretanto, que muitas vezes as pessoas em quem mais pensamos, que ardentemente desejamos tornar a ver, jamais se nos apresentam em sonho, ao passo que vemos outras que nos são indiferentes e nas quais nunca pensamos?
"Os Espíritos nem sempre podem manifestar-se visivelmente, mesmo em sonho e mau grado ao desejo que tenhais de vê-los. Pode dar-se que obstem a isso causas independentes da vontade deles. Freqüentemente, é também uma prova, de que não consegue triunfar o mais ardente desejo. Quanto às pessoas que vos são indiferentes, se é certo que nelas não pensais, bem pode acontecer que elas em vós pensem. Aliás, não podeis formar idéia das relações no mundo dos Espíritos. Lá tendes uma multidão de conhecimentos íntimos, antigos ou recentes, de que não suspeitais quando despertos."
NOTA. Quando nenhum meio tenhamos de verificar a realidade das visões ou aparições, podemos sem dúvida lançá-las à conta da alucinação. Quando, porém, os sucessos as confirmam, ninguém tem o direito de atribuí-las à imaginação. Tais, por exemplo, as aparições, que temos em sonho ou em estado de vigília, de pessoas em quem absolutamente não pensávamos e que, produzindo-as no momento em que morrem, vem, por meio de sinais diversos, revelar as circunstâncias totalmente ignoradas em que faleceram. Têm-se visto cavalos empinarem e recusarem caminhar para a frente, por motivo de aparições que assustam os cavaleiros que os montam. Embora se admita que a imaginação desempenhe aí algum papel, quando o fato se passa com os homens, ninguém, certamente, negará que ela nada tem que ver com o caso, quando este se dá com os animais. Acresce que, se fosse exato que as imagens que vemos em sonho são sempre efeito das nossas preocupações quando acordados, não haveria como explicar que nunca sonhemos, conforme se verifica freqüentemente, com aquilo em que mais pensamos.
16ª Por que razão certas visões ocorrem com mais freqüência quando se está doente?
"Elas ocorrem do mesmo modo quando estais de perfeita saúde. Simplesmente, no estado de doença, os laços materiais se afrouxam; a fraqueza do corpo permite maior liberdade ao Espírito, que, então, se põe mais facilmente em comunicação com os outros Espíritos."
17ª As aparições espontâneas parecem mais freqüentes em certos países. Será que alguns povos estão mais bem dotados do que outros para receberem esta espécie de manifestações?
"Dar-se-á tenhais um registro histórico de cada aparição? As aparições, como os ruídos e todas as manifestações, produzem-se igualmente em todos os pontos da Terra; apresentam, porém, caracteres distintos, de conformidade com o povo em cujo seio se verificam. Nuns, por exemplo, onde o uso da escrita está pouco espalhado, não há médiuns escreventes; noutros, abundam os médiuns desta natureza; entre outros, observam-se mais os ruídos e os movimentos do que as manifestações inteligentes, por serem estas menos apreciadas e procuradas."
18ª Por que é que as aparições se dão de preferência à noite? Não indica isso que elas são efeito do silêncio e da obscuridade sobre a imaginação?
"Pela mesma razão por que vedes, durante a noite, as estrelas e não as divisais em pleno dia. A grande claridade pode apagar uma aparição ligeira; mas, errôneo é supor-se que a noite tenha qualquer coisa com isso. Inquiri os que têm tido visões e verificareis que são em maior número os que as tiveram de dia."
NOTA. Muito mais freqüentes e gerais do que se julga são as aparições; porém, muitas pessoas deixam de torná-las conhecidas, por medo do ridículo, e outras as atribuem à ilusão. Se parecem mais numerosas entre alguns povos, é isso devido a que aí se conservam com mais cuidado as tradições verdadeiras, ou falsas, quase sempre ampliadas pelo poder de sedução do maravilhoso a que mais ou menos se preste o aspecto das localidades. A credulidade então faz que se vejam efeitos sobrenaturais nos mais vulgares fenômenos: o silêncio da solidão, o escarpamento das quebradas, o mugido da floresta, as rajadas da tempestade, o eco das montanhas, a forma fantástica das nuvens, as sombras, as miragens, tudo enfim se presta à ilusão, para imaginações simples e ingênuas, que de boa-fé narram o que viram, ou julgaram ver. Porém, ao lado da ficção, há a realidade. O estudo sério do Espiritismo leva precisamente o homem a se desembaraçar de todas as superstições ridículas.
19ª A visão dos Espíritos se produz no estado normal, ou só estando o vidente num estado extático?
"Pode produzir-se achando-se este em condições perfeitamente normais. Entretanto, as pessoas que os vêem se encontram muito amiúde num estado próximo do de êxtase, estado que lhes faculta uma espécie de dupla vista." (O Livro dos Espíritos, n. 447.)
20ª Os que vêem os Espíritos vêem-nos com os olhos?
"Assim o julgam; mas, na realidade, é a alma quem vê e o que o prova e que os podem ver com os olhos fechados."
21ª Como pode o Espírito fazer-se visível?
"O princípio é o mesmo de todas as manifestações, reside nas propriedades do perispírito, que pode sofrer diversas modificações, ao sabor do Espírito."
22ª Pode o Espírito propriamente dito fazer-se visível, ou só o pode com o auxílio do perispírito?
"No estado material em que vos achais, só com o auxílio de seus invólucros semimateriais podem os Espíritos manifestar-se. Esse invólucro é o intermediário por meio do qual eles atuam sobre os vossos sentidos. Sob esse envoltório é que aparecem, às vezes, com uma forma humana, ou com outra qualquer, seja nos sonhos, seja no estado de vigília, assim em plena luz, como na obscuridade."
23ª Poder-se-á dizer que é pela condensação do fluido do perispírito que o Espírito se torna visível?
"Condensação não é o termo. Essa palavra apenas pode ser usada para estabelecer uma comparação, que vos faculte compreender o fenômeno, porquanto não há realmente condensação. Pela combinação dos fluidos, o perispírito toma uma disposição especial, sem analogia para vós outros, disposição que o torna perceptível."
24ª Os Espíritos que aparecem são sempre inapreensíveis e imperceptíveis ao tato?
"Em seu estado normal, são inapreensíveis, como num sonho. Entretanto, podem tornar-se capazes de produzir impressão ao tato, de deixar vestígios de sua presença e até, em certos casos, de tornar-se momentaneamente tangíveis, o que prova haver matéria entre vós e eles."
25ª Toda gente tem aptidão para ver os Espíritos?
"Durante o sono, todos têm; em estado de vigília, não. Durante o sono, a alma vê sem intermediário; no estado de vigília, acha-se sempre mais ou menos influenciada pelos órgãos. Daí vem não serem totalmente idênticas as condições nos dois casos."
26ª De que depende, para o homem, a faculdade de ver os Espíritos, em estado de vigília?
"Depende da organização física. Reside na maior ou menor facilidade que tem o fluido do vidente para se combinar com o do Espírito. Assim, não basta que o Espírito queira mostrar-se, é preciso também que encontre a necessária aptidão na pessoa a quem deseje fazer-se visível."
a) Pode essa faculdade desenvolver-se pelo exercício?
"Pode, como todas as outras faculdades; mas, pertence ao número daquelas com relação às quais é melhor que se espere o desenvolvimento natural, do que provocá-lo, para não sobreexcitar a imaginação. A de ver os Espíritos, em geral e permanentemente, constitui uma faculdade excepcional e não está nas condições normais do homem."
27ª Pode-se provocar a aparição dos Espíritos?
"Isso algumas vezes é possível, porém, muito raramente. A aparição é quase sempre espontânea. Para que alguém veja os Espíritos, precisa ser dotado de uma faculdade especial."
28ª Podem os Espíritos tomar-se visíveis sob outra aparência que não a da forma humana?
"A humana é a forma normal. O Espírito pode variar-lhe a aparência, mas sempre com o tipo humano."
a) Não podem manifestar-se sob a forma de chama?
"Podem produzir chamas, clarões, como todos os outros efeitos, para atestar sua presença; mas, não são os próprios Espíritos que assim aparecem. A chama não passa muitas vezes de uma miragem, ou de uma emanação do perispírito. Em todo caso, nunca é mais do que uma parcela deste. O perispírito não se mostra integralmente nas visões."
29ª Que se deve pensar da crença que atribui os fogos-fátuos à presença de almas ou Espíritos?
"Superstição produzida pela ignorância. Bem conhecida é a causa física dos fogos-fátuos."
a) A chama azul que, segundo dizem, apareceu sobre a cabeça de Sérvius Túlius, quando menino, é uma fábula, ou foi real?
"Era real e produzida por um Espírito familiar, que desse modo dava um aviso à mãe do menino. Médium vidente, essa mãe percebeu uma irradiação do Espírito protetor de seu filho. Assim como os médiuns escreventes não escrevem todos a mesma coisa, também, nos médiuns videntes, não é em todos do mesmo grau a vidência. Ao passo que aquela mãe viu apenas uma chama, outro médium teria podido ver o próprio corpo do Espírito."
30ª Poderiam os Espíritos apresentar-se sob a forma de animais?
"Isso pode dar-se; mas somente Espíritos muito inferiores tomam essas aparências. Em caso algum, porém, será mais do que uma aparência momentânea. Fora absurdo acreditar-se que um qualquer animal verdadeiro pudesse ser a encarnação de um Espírito. Os animais são sempre animais e nada mais do que isto."
NOTA. Somente a superstição pode fazer crer que certos animais são animados por Espíritos. É preciso uma imaginação muito complacente, ou muito impressionada para ver qualquer coisa de sobrenatural nas circunstâncias um pouco extravagantes em que eles algumas vezes se apresentam. O medo faz que amiúde se veja o que não existe. Mas, não só no medo tem sua origem essa idéia. Conhecemos uma senhora, muito inteligente aliás, que consagrava desmedida afeição a um gato preto, porque acreditava ser ele de natureza sobreanimal. Entretanto, essa senhora jamais ouvira falar do Espiritismo. Se o houvesse conhecido, ele lhe teria feito compreender o ridículo da causa de sua predileção pelo animal, provando-lhe a impossibilidade de tal metamorfose.

quarta-feira, 19 de junho de 2013

MENSAGEM DE ESPERANÇA .

Mensagem psicográfica recebida do Espírito Eurípedes Barsanulfo, pela médium Suely Caldas Schubert, no Centro Espírita Ivon Costa, em Juiz de Fora-MG, no dia 14 de Setembro de 1983. Trata de um convite para se arregimentar forças em favor da esperança e diluir o clima de desânimo que se abate sobre a alma do povo, para que se construa um futuro de paz.

Dever-se-á pôr termo às provas do próximo?

27. Deve alguém por termo às provas do seu próximo quando o possa, ou deve, para respeitar os desígnios de Deus, deixar que sigam seu curso?
Já vos temos dito e repetido muitíssimas vezes que estais nessa Terra de expiação para concluirdes as vossas provas e que tudo que vos sucede é conseqüência das vossas existências anteriores, são os juros da divida que tendes de pagar. Esse pensamento, porém, provoca em certas pessoas reflexões que devem ser combatidas, devido aos funestos efeitos que poderiam determinar.
Pensam alguns que, estando-se na Terra para expiar, cumpre que as provas sigam seu curso. Outros há, mesmo, que vão até ao ponto de julgar que, não só nada devem fazer para as atenuar, mas que, ao contrário, devem contribuir para que elas sejam mais proveitosas, tornando-as mais vivas. Grande erro. E certo que as vossas provas têm de seguir o curso que lhes traçou Deus; dar-se-á, porém, conheçais esse curso? Sabeis até onde têm elas de ir e se o vosso Pai misericordioso não terá dito ao sofrimento de tal ou tal dos vossos irmãos: "Não irás mais longe?" Sabeis se a Providência não vos escolheu, não como instrumento de suplício para agravar os sofrimentos do culpado, mas como o bálsamo da consolação para fazer cicatrizar as chagas que a sua justiça abrira? Não digais, pois, quando virdes atingido um dos vossos irmãos: "E a justiça de Deus, importa que siga o seu curso. Dizei antes: "Vejamos que meios o Pai misericordioso me pôs ao alcance para suavizar o sofrimento do meu irmão. Vejamos se as minhas consolações morais, o meu amparo material ou meus conselhos poderão ajudá-lo a vencer essa prova com mais energia, paciência e resignação. Vejamos mesmo se Deus não me pôs nas mãos os meios de fazer que cesse esse sofrimento; se não me deu a mim, também como prova, como expiação talvez, deter o mal e substitui-lo pela paz."
Ajudai-vos, pois, sempre, mutuamente, nas vossas respectivas provações e nunca vos considereis instrumentos de tortura. Contra essa idéia deve revoltar-se todo homem de coração, principalmente todo espírita, porquanto este, melhor do que qualquer outro, deve compreender a extensão infinita da bondade de Deus. Deve o espírita estar compenetrado de que a sua vida toda tem de ser um ato de amor e de devotamento; que, faça ele o que fizerpara se opor às decisões do Senhor, estas se cumprirão. Pode, portanto, sem receio, empregar todos os esforços por atenuar o amargor da expiação, certo, porém, de que só a Deus cabe detê-la ou prolongá-la, conforme julgar conveniente.
Não haveria imenso orgulho, da parte do homem, em se considerar no direito de, por assim dizer, revirar a arma dentro da ferida? De aumentar a dose do veneno nas vísceras daquele que está sofrendo, sob o pretexto de que tal é a sua expiação? Oh! considerai-vos sempre como instrumento para fá-la cessar. Resumindo: todos estais na Terra para expiar; mas, todos, sem exceção, deveis esforçar-vos por abrandar a expiação dos vossos semelhantes, de acordo com a lei de amor e caridade. - Bernardino, Espírito protetor. (Bordéus, l863.)

domingo, 16 de junho de 2013

Quando Tudo da Errado

O que se faz naquele dia em que tudo parece dar errado?
Há quem diga: Levantei com o pé esquerdo.
Entende-se que quem assim fala, acredita que um pé é mais valioso do que outro.
Esquece-se de que ambos os pés são preciosos, pois que a base sobre a qual recai o peso do corpo, sustentado pelas pernas.
De toda forma, nesse dia em que tudo deve dar errado, porque começou errado, o que fazer?
Primeiro: repelir a idéia de uma perseguição de Deus aos Seus filhos.
As coisas não dão errado porque Deus quer.
Dão errado porque nós, os Seus filhos, agimos errado.
Vejamos. Você levantou pela manhã atrasado? De quem é a culpa?
Não é do despertador, que não soou o alarme, ou soou mais tarde.
A questão é sua, porque quem programa as funções do aparelho é você.
Portanto, não há porque se zangar. O que acontece, em seguida, para o melhor ou para o pior, é sua decisão.
Você pode levantar de um pulo, pôr-se em pé, sair às tontas do quarto e... se bater na porta, em um móvel.
Pensasse que nada traria de volta os minutos passados, levantaria com calma e faria tudo com mais vagar.
Quando você está com pressa e tenta fazer várias coisas ao mesmo tempo, tem muita probabilidade de algo desagradável acontecer.
O leite transborda, sujando o fogão, você se corta ao fazer a barba, o botão da camisa cai, pela violência que você usa, tentando abotoá-lo.
Enfim, a lista é quase interminável. E a culpa, com certeza, não é de Deus.
Faça tudo com calma. O carro não dá partida?
Verifique o porquê e resolva, se possível, sem se estressar.
Perdeu o horário do ônibus?
Lembre que a sua ansiedade ou a sua irritação não fará o próximo se adiantar. Espere.
Se preciso, avise seu superior, sua chefia, seu cliente, do atraso.
Se perderá uma aula, uma prova, já perdeu. De que adianta gritar, se zangar? Nada trará de volta os minutos perdidos.
A palavra já diz: perdidos.
O trânsito está congestionado? Não faça tolices, não viole as regras do bom motorista.
Tenha sempre à mão um livro, uma revista e aproveite o tempo.
A chuva o surpreendeu no caminho? Aguarde um pouco. Tudo passa. A chuva também passa.
Aguardar um pouco não lhe deve causar maior preocupação.
Enfim, em tudo seja responsável e pense que em suas mãos está permitir que tudo ande nos eixos, ou não ande.
Tudo se resolva, a pouco e pouco, ou não.
Por fim, pense: não vale a pena perder minutos preciosos da vida por estresse, irritação ou impaciência.
Deus quer a sua felicidade. Colabore com Ele nesta conquista.
* * *
Tudo no Universo traduz harmonia, precisão. Os planetas obedecem às suas trajetórias e cada qual se enquadra, na linha do dever que lhe é própria.
Os astros giram, as estrelas lançam sua luz ao espaço. Tudo obedece ao Grande Pai de todos nós.
Não sejamos diferentes. Harmonizemo-nos.
Colaboremos com nossa própria felicidade.
E pensemos a cada dia: Hoje tudo vai dar certo. Perfeitamente certo.
Eu farei o possível para tudo acontecer acertadamente.

Redação do Momento Espírita.

quarta-feira, 12 de junho de 2013

A carne é fraca

Há tendências viciosas que são evidentemente próprias do Espírito, porque se apegam mais ao moral do que ao físico; outras, parecem antes dependentes do organismo, e, por esse motivo, menos responsáveis são julgados os que as possuem: consideram-se como tais as disposições à cólera, à preguiça, à sensualidade, etc.
Hoje, está plenamente reconhecido pelos filósofos espiritualistas que os órgãos cerebrais correspondentes a diversas aptidões devem o seu desenvolvimento à atividade do Espírito. Assim, esse desenvolvimento é um efeito e não uma causa. Um homem não é músico porque tenha a bossa da música, mas possui essa tendência porque o seu Espírito é musical. Se a atividade do Espírito reage sobre o cérebro, deve também reagir sobre as outras partes do organismo.
O Espírito é, deste modo, o artista do próprio corpo, por ele talhado, por assim dizer, à feição das suas necessidades e à manifestação das suas tendências.
Desta forma a perfeição corporal das raças adiantadas deixa de ser produto de criações distintas para ser o resultado do trabalho espiritual, que aperfeiçoa o invólucro material à medida que as faculdades aumentam.
Por uma conseqüência natural deste principio, as disposições morais do Espírito devem modificar as qualidades do sangue, dar-lhe maior ou menor atividade, provocar uma secreção mais ou menos abundante de bílis ou de quaisquer outros fluidos. É assim, por exemplo, que ao glutão enche-se-lhe a boca de saliva diante dum prato apetitoso.
Certo é que a iguaria não pode excitar o órgão do paladar, uma vez que com ele não tem contacto; é, pois, o Espírito, cuja sensibilidade é despertada, que atua sobre aquele órgão pelo pensamento, enquanto que outra pessoa permanecerá indiferente à vista do mesmo acepipe. É ainda por este motivo que a pessoa sensível facilmente verte lágrimas. Não é, porém, a abundância destas que dá sensibilidade ao Espírito, mas precisamente a sensibilidade deste que provoca a secreção abundante das lágrimas. Sob o império da sensibilidade, o organismo condiciona-se (1) à disposição normal do Espírito, do mesmo modo por que se condiciona à disposição do Espírito glutão.
    (1) O autor escreveu s'est approprié (p. 93, 4ª edição, Paris, 1869), à falta, na época, de verbo mais específico à perfeita tradução da idéia. Nota da Editora (FEB), em 1973.
Seguindo esta ordem de idéias, compreende-se que um Espírito irascível deve encaminhar-se para estimular um temperamento bilioso, do que resulta não ser um homem colérico por bilioso, mas bilioso por colérico. O mesmo se dá em relação a todas as outras disposições instintivas: um Espírito indolente e fraco deixará o organismo em estado de atonia relativo ao seu caráter, ao passo que, ativo e enérgico, dará ao sangue como aos nervos qualidades perfeitamente opostas. A ação do Espírito sobre o físico é tão evidente que não raro vemos graves desordens orgânicas sobrevirem a violentas comoções morais.
A expressão vulgar: - A emoção transtornou-lhe o sangue - não é tão destituída de sentido quanto se poderia supor. Ora, que poderia transtornar o sangue senão as disposições morais do Espírito?
Pode admitir-se por conseguinte, ao menos em parte, que o temperamento é determinado pela natureza do Espírito, que é causa e não efeito.
E nós dizemos em parte, porque há casos em que o físico influi evidentemente sobre o moral, tais como quando um estado mórbido ou anormal é determinado por causa externa, acidental, independente do Espírito, como sejam a temperatura, o clima, os defeitos físicos congênitos, uma doença passageira, etc.
O moral do Espírito pode, nesses casos, ser afetado em suas manifestações pelo estado patológico, sem que a sua natureza intrínseca seja modificada. Escusar-se de seus erros por fraqueza da carne não passa de sofisma para escapar a responsabilidades.
A carne só é fraca porque o Espírito é fraco, o que inverte a questão deixando àquele a responsabilidade de todos os seus atos. A carne, destituída de pensamento e vontade, não pode prevalecer jamais sobre o Espírito, que é o ser pensante e de vontade própria.
O Espírito é quem dá à carne as qualidades correspondentes ao seu instinto, tal como o artista que imprime à obra material o cunho do seu gênio. Libertado dos instintos da bestialidade, elabora um corpo que não é mais um tirano de sua aspiração, para espiritualidade do seu ser, e é quando o homem passa a comer para viver e não mais vive para comer.
A responsabilidade moral dos atos da vida fica, portanto, intacta; mas a razão nos diz que as conseqüências dessa responsabilidade devem ser proporcionais ao desenvolvimento intelectual do Espírito. Assim, quanto mais esclarecido for este, menos desculpável se torna, uma vez que com a inteligência e o senso moral nascem as noções do bem e do mal, do justo e do injusto.
Esta lei explica o insucesso da Medicina em certos casos. Desde que o temperamento é um efeito e não uma causa, todo o esforço para modificá-lo se nulifica ante disposições morais do Espírito, opondo-lhe uma resistência inconsciente que neutraliza a ação terapêutica. Por conseguinte, sobre a causa primordial é que se deve atuar.
Dai, se puderdes, coragem ao poltrão, e vereis para logo cessados os efeitos fisiológicos do medo. Isto prova ainda uma vez a necessidade, para a arte de curar, de levar em conta a influência espiritual sobre os organismos. (Revue Spirite, março de 1869, pág. 65.)

terça-feira, 11 de junho de 2013

Eterna sucessão dos mundos

48. - Vimos que uma única lei, primordial e geral, foi outorgada ao Universo, para lhe assegurar eternamente a estabilidade, e que essa lei geral nos é perceptível aos sentidos por muitas ações particulares que nomeamos forças diretrizes da Natureza. Vamos agora mostrar que a harmonia do mundo inteiro, considerada sob o duplo aspecto da eternidade e do espaço, é garantida por essa lei suprema.
49. - Com efeito, se remontarmos à origem primária das primitivas aglomerações da substância cósmica, notaremos que já então, sob o império dessa lei, a matéria sofre as transformações necessárias, que levam do gérmen ao fruto maduro, e que, sob a impulsão das diversas forças nascidas dessa lei, ela percorre a escala das revoluções periódicas. Primeiramente, centro fluídico dos movimentos; em seguida, gerador dos mundos; mais tarde, núcleo central e atrativo das esferas que lhe nasceram do seio.
Já sabemos que essas leis presidem à história do Cosmo; o que agora importa saber é que elas presidem igualmente à destruição dos astros, porquanto a morte não é apenas uma metamorfose do ser vivo, mas também uma transformação da matéria inanimada. Se é exato dizer-se, em sentido literal, que a vida só é acessível à foice da morte, não menos exato é dizer-se que para a substância é de toda necessidade sofrer as transformações inerentes à sua constituição.
50. - Temos aqui um mundo que, desde o primitivo berço, percorreu toda a extensão dos anos que a sua organização especial lhe permitia percorrer. Extinguiu-se-lhe o foco interior da existência, seus elementos perderam a virtude inicial; os fenômenos da Natureza, que reclamavam, para se produzirem, a presença e a ação das forças outorgadas a esse mundo, já não mais podem produzir-se, porque a alavanca da atividade delas já não dispõe do ponto de apoio que lhe era indispensável.
Ora, dar-se-á que essa terra extinta e sem vida vai continuar a gravitar nos espaços celestes, sem uma finalidade, e passar como cinza inútil pelo turbilhão dos céus? Dar-se-á permaneça inscrita no livro da vida universal, quando já se tornou letra morta e vazia de sentido? Não. As mesmas leis que a elevaram acima do caos tenebroso e que a galardoaram com os esplendores da vida, as mesmas forças que a governaram durante os séculos da sua adolescência, que lhe firmaram os primeiros passos na existência e que a conduziram à idade madura e à velhice, vão também presidir à desagregação de seus elementos constitutivos, a fim de os restituir ao laboratório onde a potência criadora haure incessantemente as condições da estabilidade geral. Esses elementos vão retornar à massa comum do éter, para se assimilarem a outros corpos, ou para regenerarem outros sóis. E a morte não será um acontecimento inútil, nem para a Terra que consideramos, nem para suas irmãs. Noutras regiões, ela renovará outras criações de natureza diferente e, lá onde os sistemas de mundos se desvaneceram, em breve renascerá outro jardim de flores mais brilhantes e mais perfumadas.
51. - Desse modo, a eternidade real e efetiva do Universo se acha garantida pelas mesmas leis que dirigem as operações do tempo. Desse modo, mundos sucedem a mundos, sóis a sóis, sem que o imenso mecanismo dos vastos céus jamais seja atingido nas suas gigantescas molas.
Onde os vossos olhos admiram esplêndidas estrelas na abóbada da noite, onde o vosso espírito contempla irradiações magníficas que resplandecem nos espaços distantes, de há muito o dedo da morte extinguiu esses esplendores, de há muito o vazio sucedeu a esses deslumbramentos e já recebem mesmo novas criações ainda desconhecidas. A distância imensa a que se encontram esses astros, por efeito da qual a luz que nos enviam gasta milhares de anos a chegar até nós, faz com que somente hoje recebamos os raios que eles nos enviaram longo tempo antes da criação da Terra e com que ainda os admiremos durante milhares de anos após a sua desaparição real. (1)
Que são os seis mil anos da humanidade histórica, diante dos períodos seculares? Segundos em vossos séculos. Que são as vossas observações astronômicas, diante do estado absoluto do mundo? A sombra eclipsada pelo Sol.
    (1) Há aqui um efeito do tempo que a luz gasta para atravessar o espaço. Sendo de 70.000 léguas por segundo a sua velocidade, ela nos chega do Sol em 8 minutos e 13 segundos. Daí resulta que, se um fenômeno se passa na superfície do Sol, não o percebemos senão 8 minutos mais tarde e, pela mesma razão, ainda o veremos 8 minutos depois da sua cessação. Se, em virtude do seu afastamento, a luz de uma estrela consume mil anos para nos chegar, só mil anos depois da sua formação veremos essa estrela. (Veja-se, para explicação e descrição completa desse fenômeno, a Revue Spirite de março e maio de 1867, págs. 93 e 151, resenha de Lumen, por C. Flammarion
52. - Logo, reconheçamos, aqui como nos nossos outros estudos, que a Terra e o homem são nada em confronto com o que existe e que as mais colossais operações do nosso pensamento ainda se estendem apenas sobre um campo imperceptível, diante da imensidade e da eternidade de um universo que nunca terá fim.
E, quando esses períodos da nossa imortalidade nos houverem passado sobre as cabeças, quando a história atual da Terra nos aparecer qual sombra vaporosa no fundo da nossa lembrança; quando, durante séculos incontáveis, houvermos habitado esses diversos degraus da nossa hierarquia cosmológica; quando os mais longínquos domínios das idades futuras tiverem sido por nós perlustrados em inúmeras peregrinações, teremos diante de nós a sucessão ilimitada dos mundos e por perspectiva a eternidade imóvel.

segunda-feira, 10 de junho de 2013

A casa mental

Nossa mente é como uma casa. Pode ser grandiosa ou pequenina, suja ou cuidadosamente limpa. Depende de nós.
Você já observou como agimos com relação aos pensamentos que cultivamos?
Em geral, não temos com a mente o cuidado que costumamos dispensar aos ambientes em que vivemos ou trabalhamos.
Quem pensaria em deixar sua casa ou escritório cheio de sujeira, acumulando lixo ou tomado por ratos e insetos?
Certamente ninguém.
No entanto, com a casa mental somos menos atenciosos. É que permitimos que pensamentos infelizes e maus sentimentos encontrem morada em nosso coração.
E como fazemos isso?
Agimos assim quando permitimos que tenham livre acesso às nossas mentes os pensamentos de revolta, inveja, ciúme, ódio.
Ou quando cultivamos desejo de vingança, rancor e infelicidade.
Nesses momentos, é como se enchêssemos de sujeira a mente. Uma pesada camada de pó cobre a alegria e impede que estejamos em paz.
Além da angústia que traz, a mente atormentada influencia diretamente o corpo, acarretando doenças e sofrimentos desnecessários.
E pior: contribui para o isolamento.
Sim, porque as pessoas percebem quando não estamos bem espiritualmente.
O azedume de nossas palavras, o rosto contraído, tudo faz com que os outros desejem se afastar de nós, agravando nossa infelicidade.
E o que fazer para impedir que isso aconteça?
A resposta foi dada por Jesus: Orar e vigiar.
A vigilância é essencial para quem deseja a mente saudável.
Nossa tarefa é observar cada pensamento que se infiltra, analisar a natureza dos sentimentos que surgem.
E, principalmente, estar alerta para arrancar como erva daninha tudo o que possa nos prejudicar.
Dado esse primeiro passo que é a vigilância, é importantíssimo estar atento para a segunda recomendação de Jesus: a oração.
Quando identificamos dentro de nós os feios sentimentos, as más palavras e os pensamentos desequilibrados, sempre podemos recorrer à oração.
A prece é um pedido de socorro que dirigimos ao Divino Pai. Quando nos sentimos frágeis para combater os pensamentos infelizes, é hora de pedir auxílio a Deus.
É tempo de falar a Ele sobre a fraqueza que carregamos ou a tristeza que nos abate. É o momento de pedir força moral.
E o Pai dos Céus nos enviará o auxílio necessário.
Mas... de nossa parte, é importante não haver acomodação. É preciso trabalhar para ser merecedor da ajuda que Deus nos manda.
Como fazer isso? Contrapondo a cada mau pensamento os vários antídotos que temos à nossa disposição: as boas atitudes, o sorriso, a alegria, as boas leituras.
Em vez da maledicência, a boa palavra, as conversas saudáveis.
No lugar da crítica ácida, optar pelo elogio ou pela observação construtiva.
Se surgir um pensamento infeliz, combatê-lo com firmeza.
* * *
Não se deixe escravizar.
Se alguém o ofender ou fizer mal, procure perdoar, esquecer. E peça a Deus a oportunidade de ser útil a essa pessoa.
Não esqueça: todo dia é excelente oportunidade para iniciar a limpeza da casa mental. Comece agora mesmo.

Redação do Momento Espírita.

domingo, 9 de junho de 2013

Fenômeno de transporte

96. Este fenômeno não difere do de que vimos de falar, senão pela intenção benévola do Espírito que o produz, pela natureza dos objetos, quase sempre graciosos, de que ele se serve e pela maneira suave, delicada mesmo, por que são trazidos. Consiste no trazimento espontâneo de objetos inexistentes no lugar onde estão os observadores. São quase sempre flores, não raro frutos, confeitos, jóias, etc.
97. Digamos, antes de tudo, que este fenômeno é dos que melhor se prestam à imitação e que, por conseguinte, devemos estar de sobreaviso contra o embuste. Sabe-se até onde pode ir a arte da prestidigitação, em se tratando de experiências deste gênero. Porém, mesmo sem que tenhamos de nos haver com um verdadeiro prestidigitador, poderemos ser facilmente enganados por uma manobra hábil e interessada. A melhor de todas as garantias se encontra no caráter, na honestidade notória, no absoluto desinteresse das pessoas que obtêm tais efeitos. Vem depois, como meio de resguardo, o exame atento de todas as circunstâncias em que os fatos se produzem; e, finalmente, o conhecimento esclarecido do Espiritismo poderá descobrir o que fosse suspeito.
98. A teoria do fenômeno dos transportes e das manifestações físicas em geral se acha resumida, de maneira notável, na seguinte dissertação feita por um Espírito, cujas comunicações todas trazem o cunho incontestável de profundeza e lógica. Com muitas delas deparará o leitor no curso desta obra. Ele se dá a conhecer pelo nome de Erasto, discípulo de São Paulo, e como protetor do médium que lhe serviu de instrumento:
"Quem deseja obter fenômeno desta ordem precisa ter consigo médiuns a que chamarei - sensitivos, isto e, dotados, no mais alto grau, das faculdades mediúnicas de expansão e de penetrabilidade, porque o sistema nervoso facilmente excitável de tais médiuns lhes permite, por meio de certas vibrações, projetar abundantemente, em torno de si, o fluido animalizado que lhes é próprio.
"As naturezas impressionáveis, as pessoas cujos nervos vibram à menor impressão, à mais insignificante sensação; as que a influência moral ou física, interna ou externa, sensibiliza são muito aptas a se tornarem excelentes médiuns, para os efeitos físicos de tangibilidade e de transportes. Efetivamente, quase de todo desprovido do invólucro refratário, que, na maioria dos outros encarnados, o isola, o sistema nervoso dessas pessoas as capacita para a produção destes diversos fenômenos. Assim, com um indivíduo de tal natureza e cujas outras faculdades não sejam hostis à mediunidade, facilmente se obterão os fenômenos de tangibilidade, as pancadas nas paredes e nos móveis, os movimentos inteligentes e mesmo a suspensão, no espaço, da mais pesada matéria inerte. A fortiori, os mesmos resultados se conseguirão se, em vez de um médium, o experimentador dispuser de muitos, igualmente bem dotados.
"Mas, da produção de tais fenômenos à obtenção dos de transporte há um mundo de permeio, porquanto, neste caso, não só o trabalho do Espírito é mais complexo, mais difícil, como, sobretudo, ele não pode operar, senão por meio de um único aparelho mediúnico, isto é, muitos médiuns não podem concorrer simultaneamente para a produção do mesmo fenômeno. Sucede até que, ao contrário, a presença de algumas pessoas antipáticas ao Espírito que opera lhe obsta radicalmente à operação. A estes motivos a que, como vedes, não falta importância, acrescentemos que os transportes reclamam sempre maior concentração e, ao mesmo tempo, maior difusão de certos fluidos, que não podem ser obtidos senão com médiuns superiormente dotados, com aqueles, numa palavra, cujo aparelho eletromediúnico é o que melhores condições oferece.
"Em geral, os fatos de transporte são e continuarão a ser extremamente raros. Não preciso demonstrar porque são e serão menos freqüentes do que os outros fenômenos de tangibilidade; do que digo, vós mesmos podeis deduzi-lo. Demais, estes fenômenos são de tal natureza, que nem todos os médiuns servem para produzi-los. Com efeito, é necessário que entre o Espírito e o médium influenciado exista certa afinidade, certa analogia; em suma: certa semelhança capaz de permitir que a parte expansível do fluido perispirítico (1) do encarnado se misture, se una, se combine com o do Espírito que queira fazer um transporte. Deve ser tal esta fusão, que a força resultante dela se torne, por assim dizer, uma: do mesmo modo que, atuando sobre o carvão, uma corrente elétrica produz um só foco, uma só claridade. Por que essa união, essa fusão, perguntareis? É que, para que estes fenômenos se produzam, necessário se faz que as propriedades essenciais do Espírito motor se aumentem com algumas das do médium; é que o fluido vital, indispensável à produção de todos os fenômenos mediúnicos, é apanágio exclusivo do encarnado e que, por conseguinte, o Espírito operador fica obrigado a se impregnar dele. Só então pode, mediante certas propriedades, que desconheceis, do vosso meio ambiente, isolar, tornar invisíveis e fazer que se movam alguns objetos materiais e mesmo os encarnados.
"Não me é permitido, por enquanto, desvendar-vos as leis particulares que governam os gases e os fluidos que vos cercam; mas, antes que alguns anos tenham decorrido, antes que uma existência de homem se tenha esgotado, a explicação destas leis e destes fenômenos vos será revelada e vereis surgir e produzir-se uma variedade nova de médiuns, que agirão num estado cataléptico especial, desde que sejam mediunizados.
"Vedes, assim, quantas dificuldades cercam a produção do fenômeno dos transportes. Muito logicamente podeis concluir daí que os fenômenos desta natureza são extremamente raros, como eu disse acima, e com tanto mais razão, quanto os Espíritos muito pouco se prestam a produzi-los, porque isso dá lugar, da parte deles, a um trabalho quase material, o que lhes acarreta aborrecimento e fadiga. Por outro lado, ocorre também que, freqüentemente, não obstante a energia e a vontade que os animem, o estado do próprio médium lhes opõe intransponível barreira.
"Evidente é, pois, e o vosso raciocínio, estou certo, o sancionará, que os fatos de tangibilidade, como pancadas, suspensão e movimentos, são fenômenos simples, que se operam mediante a concentração e a dilatação de certos fluidos e que podem ser provocados e obtidos pela vontade e pelo trabalho dos médiuns aptos a isso, quando secundados por Espíritos amigos e benevolentes, ao passo que os fatos de transporte são múltiplos, complexos, exigem um concurso de circunstâncias especiais, não se podem operar senão por um único Espírito e um único médium e necessitam, além do que a tangibilidade reclama, uma combinação muito especial, para isolar e tornar invisíveis o objeto, ou os objetos destinados ao transporte.
"Todos vós espíritas compreendeis as minhas explicações e perfeitamente apreendeis o que seja essa concentração de fluidos especiais, para a locomoção e a tatilidade da matéria inerte. Acreditais nisso, como acreditais nos fenômenos da eletricidade e do magnetismo, com os quais os fatos mediúnicos têm grande analogia e de que são, por assim dizer, a confirmação e o desenvolvimento. Quanto aos incrédulos e aos sábios, piores estes do que aqueles, não me compete convencê-los e com eles não me ocupo. Convencer-se-ão um dia, por força da evidência, pois que forçoso será se curvem diante do testemunho dos fatos espíritas, como forçoso foi que o fizessem diante de outros fatos, que a princípio repeliram.
"Resumindo: os fenômenos de tangibilidade são freqüentes, mas os de transporte são muito raros, porque muito difíceis de se realizar são as condições em que se produzem. Conseguintemente, nenhum médium pode dizer: a tal hora, em tal momento, obterei um transporte, visto que muitas vezes o próprio Espírito se vê obstado na execução da sua obra. Devo acrescentar que esses fenômenos são duplamente difíceis em público, porque quase sempre, entre este, se encontram elementos energicamente refratários, que paralisam os esforços do Espírito e, com mais forte razão, a ação do médium. Tende, ao contrário, como certo que, na intimidade, os ditos fenômenos se produzem quase sempre espontaneamente, as mais das vezes à revelia dos médiuns e sem premeditação, sendo muito raros quando esses se acham prevenidos. Deveis deduzir daí que há motivo de suspeição todas as vezes que um médium se lisonjeia de os obter à vontade, ou, por outra, de dar ordens aos Espíritos, como a servos seus, o que é simplesmente absurdo. Tende ainda como regra geral que os fenômenos espíritas não se produzem para constituir espetáculo e para divertir os curiosos. Se alguns Espíritos se prestam a tais coisas, só pode ser para a produção de fenômenos simples, não para os que, como os de transporte e outros semelhantes, exigem condições excepcionais.
"Lembrai-vos, espíritas, de que, se é absurdo repelir sistematicamente todos os fenômenos de além-túmulo, também não é de bom aviso aceitá-los todos, cegamente. Quando um fenômeno de tangibilidade, de visibilidade, ou de transporte se opera espontaneamente e de modo instantâneo, aceitai-o. Porém, nunca. o repetirei demasiado, não aceiteis coisa alguma às cegas. Seja cada fato submetido a um exame minucioso, aprofundado e severo, porquanto, crede, o Espiritismo, tão rico em fenômenos sublimes e grandiosos, nada tem que ganhar com essas pequenas manifestações, que prestidigitadores hábeis podem imitar.
"Bem sei que ides dizer: é que estes são úteis para convencer os incrédulos. Mas, ficai sabendo, se não houvésseis disposto de outros meios de convicção, não contaríeis hoje a centésima parte dos espíritas que existem. Falai ao coração; por aí é que fareis maior número de conversões sérias. Se julgardes conveniente, para certas pessoas, valer-vos dos fatos materiais, ao menos apresentai-os em circunstâncias tais, que não possam permitir nenhuma interpretação falsa e, sobretudo, não vos afasteis das condições normais dos mesmos fatos, porque, apresentados em más condições, eles fornecem argumentos aos incrédulos, em vez de convencê-los. ERASTO."
(1) Vê-se que, quando se trata de exprimir uma idéia nova, para a qual faltam termos na língua, os Espíritos sabem perfeitamente criar neologismos. Estas palavras: eletromediúnico, perispirítico, não são de invenção nossa. Os que nos tem criticado por havermos criado os termos espírita, espiritismo, perispírito, que tinham análogos, poderão fazer também a mesma crítica aos Espíritos.
99. O fenômeno de transporte apresenta uma particularidade notável, e é que alguns médiuns só o obtém em estado sonambúlico, o que facilmente se explica. Há no sonâmbulo um desprendimento natural, uma espécie de isolamento do Espírito e do perispírito, que deve facilitar a combinação dos fluidos necessários. Tal o caso dos transportes de que temos sido testemunha.
As perguntas que se seguem foram dirigidas ao Espírito que os operara, mas as respostas se ressentem por vezes da deficiência dos seus conhecimentos. Submetemo-las ao Espírito Erasto, muito mais instruído do ponto de vista teórico, e ele as completou, aditando-lhes notas muito judiciosas. Um é o artista, o outro o sábio, constituindo a própria comparação dessas inteligências um estudo instrutivo, porquanto prova que não basta ser Espírito para tudo saber.
1ª Dize-nos, peço, por que os transportes que acabaste de executar só se produzem estando o médium em estado sonambúlico?
"Isto se prende à natureza do médium. Os fatos que produzo, quando o meu está adormecido, poderia produzi-los igualmente com outro médium em estado de vigília."
2ª Por que fazes demorar tanto a trazida dos objetos e por que é que avivas a cobiça do médium, excitando-lhe o desejo de obter o objeto prometido?
"O tempo me é necessário a preparar os fluidos que servem para o transporte. Quanto à excitação, essa só tem por fim, as mais das vezes, divertir as pessoas presentes e o sonâmbulo."
NOTA DE ERASTO. O Espírito que responde não sabe mais do que isso; não percebe o motivo dessa cobiça, que ele instintivamente aguça, sem lhe compreender o efeito. Julga proporcionar um divertimento, enquanto que, na realidade, provoca, sem o suspeitar, uma emissão maior de fluido. É uma conseqüência da dificuldade que o fenômeno apresenta, dificuldade sempre maior quando ele não é espontâneo, sobretudo com cestos médiuns.
3ª Depende da natureza especial do médium a produção do fenômeno e poderia produzir-se por outros médiuns com mais facilidade e presteza?
"A produção depende da natureza do médium e o fenômeno não se pode produzir, senão por meio de naturezas correspondentes. Pelo que toca à presteza, o hábito que adquirimos, comunicando-nos freqüentemente com o mesmo médium, nos é de grande vantagem."
4ª As pessoas presentes influem alguma coisa no fenômeno?
"Quando há da parte delas incredulidade, oposição, muito nos podem embaraçar. Preferimos apresentar nossas provas aos crentes e a pessoas versadas no Espiritismo. Não quero, porém, dizer com isso que a má-vontade consiga paralisar-nos inteiramente."
5ª Onde foste buscar as flores e os confeitos que trouxeste para aqui?
"As flores, tomo-as aos jardins, onde bem me parece.
6ª E os confeitos? Devem ter feito falta ao respectivo negociante.
"Tomo-os onde me apraz. O negociante nada absolutamente percebeu, porque pus outros no lugar dos que tirei."
7ª Mas, os anéis têm valor. Onde os foste buscar? Não terás com isso causado prejuízo àquele de quem os tiraste?
"Tirei-os de lugares que todos desconhecem e fi-lo por maneira que daí não resultará prejuízo para ninguém."
NOTA DE ERASTO. Creio que o fato foi explicado de modo incompleto, em virtude da deficiência da capacidade do Espírito que respondeu. Sim, de fato, pode resultar prejuízo real; mas, o Espírito não quis passar por haver desviado o que quer que fosse. Um objeto só pode ser substituído por outro objeto idêntico, da mesma forma, do mesmo valor. Conseguintemente, se um Espírito tivesse a faculdade de substituir, por outro objeto igual, um de que se apodera, já não teria razão para se apossar deste, visto que poderia dar o de que se iria servir para substituir o objeto retirado.
8ª Será possível trazer flores de outro planeta?
"Não; a mim não me é possível." - (A Erasto) Teriam outros Espíritos esse poder? "Não, isso não é possível, em virtude da diferença dos meios ambientes."
9ª Poderias trazer-nos flores de outro hemisfério; dos trópicos, por exemplo?
"Desde que seja da Terra, posso.
10ª Poderias fazer que os objetos trazidos nos desaparecessem da vista e levá-los novamente?
"Assim como os trouxe aqui, posso levá-los, à minha vontade."
11ª A produção do fenômeno dos transportes não é de alguma forma penosa, não te causa qualquer embaraço?
"Não nos é penosa em nada, quando temos permissão para operá-los. Poderia ser-nos grandemente penosa, se quiséssemos produzir efeitos para os quais não estivéssemos autorizados."
NOTA DE ERASTO. Ele não quer convir em que isso lhe é penoso, embora o seja realmente, pois que se vê forçado a executar uma operação por assim dizer material.
12ª Quais são as dificuldades que encontras?
"Nenhuma outra, além das más disposições fluídicas, que nos podem ser contrárias."
13ª Como trazes o objeto? Será segurando-o com as mãos?
"Não; envolvo-o em m im mesmo."
NOTA DE ERASTO. A resposta não explica de modo claro a operação. Ele não envolve o objeto com a sua própria personalidade; mas, como o seu fluido pessoal é dilatável, combina uma parte desse fluido com o fluido animalizado do médium e é nesta combinação que oculta e transporta o objeto que escolheu para transportar. Ele, pois, não exprime com justeza o fato, dizendo que envolve em si o objeto.
14ª Trazes com a mesma facilidade um objeto de peso considerável, de 50 quilos por exemplo?
"O peso nada é para nós. Trazemos flores, porque agrada mais do que um volume pesado."
NOTA DE ERASTO. É exato. Pode trazer objetos de cem ou duzentos quilos, por isso que a gravidade, existente para vós, é anulada para os Espíritos. Mas, ainda aqui, ele oito percebe bem o que se passa, A massa dos fluidos combinados é proporcional à dos objetos. Numa palavra, a força deve estar em proporção com a resistência; donde se segue que, se o Espírito apenas traz uma flor ou um objeto leve, é muitas vezes porque não encontra no médium, ou em si mesmo, os elementos necessários para um esforço mais considerável.
15ª Poder-se-ão imputar aos Espíritos certas desaparições de objetos, cuja causa permanece ignorada?
"Isso se dá com freqüência; com mais freqüência do que supondes; mas isso se pode remediar, pedindo ao Espírito que traga de novo o objeto desaparecido."
NOTA DE ERASTO. É certo. Mas, às vezes, o que é subtraído, muito bem subtraído fica, pois que para muito longe são levados os objetos que desaparecem de uma casa e que o dono não mais consegue achar. Entretanto, como a subtração dos objetos exige quase que as mesmas condições fluídicas que o trazimento deles reclama, ela só se pode dar com o concurso de médiuns dotados de faculdades especiais. Por isso, quando alguma coisa desapareça, é mais provável que o fato seja devido a descuido vosso, do que à ação dos Espíritos.
16ª Serão devidos à ação de certos Espíritos alguns efeitos que se consideram como fenômenos naturais?
"Nos dias que correm, abundam fatos dessa ordem, fatos que não percebeis, porque neles não pensais, mas que, com um pouco de reflexão, se vos tornariam patentes."
NOTA DE ERASTO. Não atribuais aos Espíritos o que é obra do homem; mas, crêde na influência deles, oculta, constante, a criar em torno de vós mil circunstâncias, mil incidentes necessários ao cumprimento dos vossos atos, da vossa existência.
17ª Entre os objetos que os Espíritos costumam trazer, não haverá alguns que eles próprios possam fabricar, isto é. produzidos espontaneamente pelas modificações que os Espíritos possam operar no fluido, ou no elemento universal?
"Por mim, não, que não tenho permissão para isso. Só um Espírito elevado o pode fazer."
18ª Como conseguiste outro dia introduzir aqueles objetos, estando fechado o aposento?
"Fi-los entrar comigo, envoltos, por assim dizer, na minha substância. Nada mais posso dizer, por não ser explicável o fato."
19ª Como fizeste para tornar visíveis estes objetos que, um momento antes, eram invisíveis?
"Tirei a matéria que os envolvia."
NOTA DE ERASTO. O que os envolve não é matéria propriamente dita, mas um fluido tirado, metade, do perispírito do médium e, metade, do Espírito que opera.
20ª (A Erasto) Pode um objeto ser trazido a um lugar inteiramente fechado? Numa palavra: pode o Espírito espiritualizar um objeto material, de maneira que se torne capaz de penetrar a matéria?
"É complexa esta questão. O Espírito pode tornar invisíveis, porém, não penetráveis, os objetos que ele transporte; não pode quebrar a agregação da matéria, porque seria a destruição do objeto. Tornando este invisível, o Espírito o pode transportar quando queira e não o libertar senão no momento oportuno, para fazê-lo aparecer. De modo diverso se passam as coisas, com relação aos que compomos. Como nestes só introduzimos os elementos da matéria, como esses elementos são essencialmente penetráveis e, ainda, como nós mesmos penetramos e atravessamos os corpos mais condensados, com a mesma facilidade com que os raios sol ares atravessam uma placa de vidro, podemos perfeitamente dizer que introduzimos o objeto num lugar que esteja hermeticamente fechado, mas isso somente neste caso.
NOTA. Quanto à teoria da formação espontânea dos objetos, veja-se adiante o capítulo intitulado: Laboratório do mundo invisível

sábado, 8 de junho de 2013

Teoria dos sonhos

Revista Espírita, julho de 1865

É verdadeiramente estranho que um fenômeno tão vulgar quanto o dos sonhos tenha sido objeto de tanta indiferença da parte da ciência, e que ainda se esteja a perguntar a causa dessas visões. Dizer que são produtos da imaginação não é resolver a questão; é uma dessas palavras com a auxilio da qual querem explicar o que não compreendem e que nada explicam. Em todo o caso, a imaginação é um produto do entendimento. Ora, como não se pode admitir entendimento nem imaginação na matéria bruta, é necessário crer que a alma nisto entre para alguma coisa. Se os sonhos ainda são um mistério para a ciência, é que ela se obstinou em fechar os olhos para a causa espiritual.
Procura-se a alma nas dobras do cérebro, enquanto ela se ergue a cada instante à nossa frente, livre e independente, numa porção de fenômenos inexplicáveis só pelas leis da matéria, notadamente nos sonhos, no sonambulismo natural e artificial e na dupla vista à distância. Não nos fenômenos raros, excepcionais, sutis, que exigem pacientes pesquisas do sábio e do filósofo, mas nos mais vulgares. Lá está ela, que parece dizer: Olhai e ver-me-eis; estou aos vossos olhos e não me vedes; vistes-me muitas e muitas vezes; vedes-me todos os dias; os próprios meninos me vêem; o sábio e o ignorante, o homem de gênio e o ignorante me vêem e não me reconheceis.
Mas há pessoas que parecem temer olhá-la de frente, e ter a prova de sua existência. Quanto aos que a procuram de boa-fé, até hoje lhes faltou a única chave que lhe poderia ter dado a reconhecer. Esta chave o Espiritismo acaba de dar pela lei que rege as relações do mundo corporal e do mundo espiritual. Auxiliado por esta chave é pelas observações sobre que se apoia, ele dá dos sonhos a mais lógica explicação jamais fornecida. Demonstra que o sonho, o sonambulismo, o êxtase, a dupla vista, o pressentimento, a intuição do futuro, a penetração do pensamento não passam de variantes e graus de um mesmo princípio: a emancipação da alma, mais ou menos desprendida da matéria.
A respeito dos sonhos, dá ele conta precisa de todas as variedades que apresentam? Ainda não: possuímos o princípio, o que já é muito; os que podemos explicar pôr-nos-ão na via dos outros; sem dúvida faltam-nos alguns conhecimentos, que adquiriremos mais tarde. Não há uma única ciência que, de saída, tenha desenvolvido todas as suas conseqüências e aplicações; elas não se podem completar senão por sucessivas observações. Ora, nascido ontem, o Espiritismo está como a química nas mãos dos Lavoisier e dos Berthoffet, seus primeiros criadores; estes descobriram as lei fundamentais; as primeiras balisas fincadas puseram no caminho de novas descobertas.
Entre os sonhos uns há que tem um caráter de tal modo positivo que, racionalmente, não poderiam ser atribuídos a simples jogo da imaginação. Tais são aqueles nos quais, ao despertar, adquire-se a prova da realidade do que se viu, e em que absolutamente não se pensava. Os mais difíceis de explicar são os que nos apresentam imagens incoerentes, fantásticas, sem realidade aparente. Um estudo mais aprofundado do singular fenômeno das criações fluídicas sem dúvida pôr-nos-á no caminho.
Esperando, eis uma teoria que parece permitir um passo no assunto. Não a damos como absoluta, mas como fundada na lógica e podendo ser submetida a estudo. Ela nos foi dada por um dos nossos melhores médiuns, em estado de sonambulismo muito lúcido, por ocasião do fato seguinte.
Solicitado pela mãe de uma jovem a lhe dar notícias de sua filha, que estava em Lyon, ele a viu deitada e adormecida, e descreveu com exatidão o apartamento em que se achava. Essa jovem, de dezessete anos, é médium escrevente. A mãe perguntou se ela tinha aptidão para se tornar médium vidente. Esperai, disse o sonâmbulo, é preciso que eu siga o traço de seu Espírito, que neste momento não está no corpo. Ela está aqui, na villa Ségur na sala onde estamos, atraída pelo vosso pensamento; ela vos vê e vos escuta. Para ela é um sonho, do qual não se recordará ao despertar.
Pode-se, acrescenta ele, dividir os sonhos em três categorias caracterizadas pelo grau da lembrança que fica no estado de despreendimento no qual se acha o Espírito. São:
1º - Os sonhos que são provocados pela ação da matéria e dos sentidos sobre o Espírito, isto é, aqueles em que o organismo representa um papel preponderante pela mais íntima união entre o corpo e o Espírito. A gente se lembra claramente e, por pouco desenvolvida que seja a memória, dele se conserva uma impressão durável.
2º - Os sonhos que podem ser chamados mistos. Participam, ao mesmo tempo, da matéria e do Espírito. O despreendimento é mais completo. A gente se recorda ao despertar, para o esquecer quase que instantaneamente, a menos que uma particularidade venha despertar a lembrança.
3º - Os sonhos etéreos ou puramente espirituais. São produtos só do Espírito, que está desprendido da matéria, tanto quanto o pode estar na vida do corpo. A gente não se recorda, ou resta uma vaga lembrança de que se sonhou. Nenhuma circunstância poderia trazer à memória os incidentes do sono.
O sonho atual da jovem pertence a esta terceira categoria. E1a não o recordará. Foi conduzida aqui por um Espírito muito conhecido do mundo espírita lionês e, mesmo, do mundo espírita europeu - o médium-sonambúlico descreve o Espírito Cárita. Ele trouxe com o objetivo de que ela conserve senão uma lembrança precisa, um pressentimento do bem que se pode colher de uma crença firme, pura e santa, e do bem que se pode fazer aos outros, fazendo-o a si-próprio.
Ele diz à mãe dela que se ela se lembrasse tão bem em seu estado normal quanto se lembra agora de suas encarnações precedentes, não demoraria muito no estado estacionário em que está. Porque vê claramente e pode avançar sem hesitação, ao passo que no estado ordinário temos uma venda sobre os olhos. Ela diz aos assistentes: "Obrigado por vos terdes ocupado de mim." Depois beija sua mãe. Como é feliz! acrescenta o médium, terminando, como é feliz com este sonho, do qual não se recordará, mas que, nem por isso, deixará de lhe deixar uma salutar impressão! São esses sonhos inconscientes que proporcionam estas sensações indefiníveis de contentamento e de felicidade, de que a gente não se dá conta e que são um antegozo daquilo de que desfrutam os Espíritos felizes.
Disto ressalta que o Espírito encarnado pode sofrer transformações que lhe modificam as aptidões. Um fato que talvez não tenha sido suficientemente observado vem em apoio da teoria acima. Sabe-se que o esquecimento do sonho é um dos caracteres do sonambulismo. Ora, do primeiro grau de lucidez, por vezes o Espírito passa a um grau mais elevado, que é diferente do êxtase, e no qual adquire novas idéias e percepções mais sutis. Saindo deste segundo grau para entrar na primeiro, nem se lembra do que disse, nem do que viu. Depois, passando deste grau para o de vigília, há novo esquecimento. Uma coisa a notar é que há lembrança do grau superior para o inferior, ao passo que há esquecimento do grau inferior para o superior.
É, pois, bem evidente que entre os dois estados sonambúlicos, de que acabamos de falar, passa-se algo análogo ao que ocorre no estado de vigília e o primeiro grau de lucidez; que o que se passa influi sobre as faculdades e as aptidões do Espírito. Dir-se-ia que do estado de vigília ao primeiro grau o Espírito é despojado de um véu; que do primeiro ao segundo grau é despojado de um segundo véu. Nos graus superiores, não mais existindo esses véus, o Espírito vê o que está abaixo e se lembra. Descendo a escada, os véus se formam sucessivamente e lhe ocultam o que está acima, com o que perde a sua lembrança. A vontade do magnetizador por vezes pode dissipar esse véu fluídico e dar a lembrança.
Como se vê, há uma grande analogia entre os dois estados sonambúlicos e as diversas categorias de sonhos descritos acima. Parece-nos mais que provável que, num e noutro caso, o Espírito se ache numa situação idêntica. Para cada degrau que sobe, eleva-se acima de uma camada de garoa: sua vista e suas percepções tornam-se mais claras.

quinta-feira, 6 de junho de 2013

Oração de um sofredor

Meu Deus, és soberanamente justo,
todo sofrimento, neste mundo, há pois,
de ter a sua causa e a sua utilidade.
Aceito a aflição que acabo de experimentar
como expiação de minhas faltas passadas
e como prova para o meu futuro.
Bons Espíritos que me protegeis, daí-me para
suportá-la sem lamentos.
Fazei que ela me seja um aviso salutar;
que me acresça a experiência que abata em
mim o orgulho, a ambição, a tola vaidade
e o egoísmo, e que contribua assim para o meu adiantamento. Ó meu Deus, dá-me forças
para suportar as provações que te aprouve
destinar-me. Submeto-me resignado,
ó meu Deus, mas a criatura é tão fraca,
que temo sucumbir, se me não amparares.
Não me abandones, Senhor,
que sem ti nada posso.
Deus onipotente, que vês as nossas misérias,
digna-te de escutar, benevolente, a súplica
que nesse momento te dirijo.
Se é desarrazoado o meu pedido, perdoa-me;
se é justo e conveniente segundo as tuas vistas,
que os bons espíritos, executores das tuas
vontades, venham em meu auxílio para
que ele seja satisfeito. Como quer que seja,
meu Deus, faça-se a tua vontade.
Se os meus desejos não forem atendidos,
é que está nos teus desígnios experimentar-me
e eu me submeto . sem me queixar.
Faze que por isso nenhum desânimo me
assalte e que nem a minha fé nem a minha
regninação sofram qualquer abalo.

terça-feira, 4 de junho de 2013

Provas voluntárias. O verdadeiro cilício

26. Perguntais se é licito ao homem abrandar suas próprias provas. Essa questão eqüivale a esta outra: É lícito, àquele que se afoga, cuidar de salvar-se? Aquele em quem um espinho entrou, retirá-lo? Ao que está doente, chamar o médico? As provas têm por fim exercitar a inteligência, tanto quanto a paciência e a resignação. Pode dar-se que um homem nasça em posição penosa e difícil, precisamente para se ver obrigado a procurar meios de vencer as dificuldades. O mérito consiste em sofrer, sem murmurar, as conseqüências dos males que lhe não seja possível evitar, em perseverar na luta, em se não desesperar, se não é bem-sucedido; nunca, porém, numa negligência que seria mais preguiça do que virtude.
Essa questão dá lugar naturalmente a outra. Pois, se Jesus disse: "Bem-aventurados os aflitos", haverá mérito em procurar, alguém, aflições que lhe agravem as provas, por meio de sofrimentos voluntários? A isso responderei muito positivamente: sim, há grande mérito quando os sofrimentos e as privações objetivam o bem do próximo, porquanto é a caridade pelo sacrifício; não, quando os sofrimentos e as privações somente objetivam o bem daquele que a si mesmo as inflige, porque aí só há egoísmo por fanatismo.
Grande distinção cumpre aqui se faça: pelo que vos respeita pessoalmente, contentai-vos com as provas que Deus vos manda e não lhes aumenteis o volume, já de si por vezes tão pesado; aceitá-las sem queixumes e com fé, eis tudo o que de vós exige ele. Não enfraqueçais o vosso corpo com privações inúteis e macerações sem objetivo, pois que necessitais de todas as vossas forças para cumprirdes a vossa missão de trabalhar na Terra. Torturar e martirizar voluntariamente o vosso corpo é coutravir a lei de Deus, que vos dá meios de o sustentar e fortalecer. Enfraquece-lo sem necessidade é um verdadeiro suicídio. Usai, mas não abuseis, tal a lei. O abuso das melhores coisas tem a sua punição nas inevitáveis conseqüências que acarreta
Muito diverso é o quê ocorre, quando o homem impõe a si próprio sofrimentos para o alívio do seu próximo. Se suportardes o frio e a fome para aquecer e alimentar alguém que precise ser aquecido e alimentado e se o vosso corpo disso se ressente, fazeis um sacrifício que Deus abençoa. Vós que deixais os vossos aposentos perfumados para irdes à mansarda infecta levar a consolação; vós que sujais as mãos delicadas pensando chagas; vós que vos privais do sono para velar à cabeceira de um doente que apenas é vosso irmão em Deus; vós, enfim, que despendeis a vossa saúde na prática das boas obras, tendes em tudo isso o vosso cilício, verdadeiro e abençoado cilício, visto que os gozos do mundo não vos secaram o coração, que não adormecestes no seio das volúpias enervantes da riqueza, antes vos constituístes anjos consoladores dos pobres deserdados.
Vós, porém, que vos retirais do mundo, para lhe evitar as seduções e viver no insulamento, que utilidade tendes na Terra? Onde a vossa coragem nas provações, uma vez que fugis à luta e desertais do combate? Se quereis um cilício, aplicai-o às vossas almas e não aos vossos corpos; mortificai o vosso Espírito e não a vossa carne; fustigai o vosso orgulho, recebei sem murmurar as humilhações; flagiciai o vosso amor-próprio; enrijai-vos contra a dor da injúria e da calúnia, mais pungente do que a dor física. Aí tendes o verdadeiro cilício cujas feridas vos serão contadas, porque atestarão a vossa coragem e a vossa submissão à vontade de Deus. Um anjo guardião. (Paris, 1863.)

 

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Escolha das provas

258 Na espiritualidade, antes de começar uma nova existência corporal, o Espírito tem consciência e previsão das coisas que acontecerão durante sua vida?
– Ele mesmo escolhe o gênero de provas que quer passar. Nisso consiste seu livre-arbítrio.
258 a Então não é Deus que impõe os sofrimentos da vida como castigo?
– Nada acontece sem a permissão de Deus, que estabeleceu todas as leis que regem o universo. Perguntareis, então, por que Ele fez esta lei em vez daquela. Ao dar ao Espírito a liberdade de escolha, deixa-lhe toda a responsabilidade de seus atos e de suas conseqüências, nada impede seu futuro; o caminho do bem está à frente dele, assim como o do mal. Mas, se fracassa, resta-lhe uma consolação: nem tudo está acabado para ele. Deus, em sua bondade, deixa-o livre para recomeçar, reparando o que fez de mal. É preciso, aliás, distinguir o que é obra da vontade de Deus e o que é obra do homem. Se um perigo vos ameaça, não fostes vós que o criastes, foi Deus; mas tendes a liberdade de vos expor a ele, por terdes visto aí um meio de adiantamento, e Deus o permitiu.
259 Se o Espírito tem a escolha do gênero de prova que deve passar, todas as dificuldades que experimentamos na vida foram previstas e escolhidas por nós?
– Todas não é a palavra, porque não se pode dizer que escolhestes e previstes tudo que vos acontece neste mundo, até nas menores coisas. Vós escolhestes os gêneros das provas; os detalhes são conseqüência da situação em que viveis e, freqüentemente, de vossas próprias ações. Se o Espírito quis nascer entre criminosos, por exemplo, sabia dos riscos a que se exporia, mas não tinha conhecimento dos atos que viria a praticar; esses atos são efeito de sua vontade ou de seu livre-arbítrio. O Espírito sabe que, ao escolher um caminho, terá uma luta a suportar; sabe a natureza e a diversidade das coisas que enfrentará, mas não sabe quais os acontecimentos que o aguardam. Os detalhes dos acontecimentos nascem das circunstâncias e da força das coisas. Somente os grandes acontecimentos que influem na vida estão previstos. Se seguis um caminho cheio de sulcos profundos, sabeis que deveis tomar grandes precauções, porque tendes a probabilidade de cair, mas não sabeis em qual deles caireis; pode ser que a queda não aconteça, se fordes prudente o bastante. Se, ao passar na rua, uma telha cai na vossa cabeça, não acrediteis que estava escrito, como se diz vulgarmente.
260 Como o Espírito pode querer nascer entre pessoas de má conduta?
– É preciso que seja enviado para um meio em que possa se defrontar com a prova que pediu. Pois bem! É preciso que haja identidade de relações e semelhanças, que os semelhantes se atraiam: para lutar contra o instinto do roubo, é preciso que se encontre entre pessoas que roubam.
260 a Se não houvesse pessoas de má conduta na Terra, o Espírito não encontraria nela o meio necessário para passar por determinadas provas?
– E seria o caso de lastimar se isso acontecesse? É o que ocorre nos mundos superiores, onde o mal não tem acesso porque há somente Espíritos bons. Fazei que o mesmo aconteça na vossa Terra.
261 O Espírito, nas provas que deve passar para atingir a perfeição, deve experimentar todas as tentações? Deve passar por todas as circunstâncias que podem incitar o orgulho, a inveja, a avareza, a sensualidade, etc.?
– Certamente que não, uma vez que sabeis que há Espíritos que, desde o começo, tomam um caminho que os livra de muitas provas; mas, aquele que se deixa levar pelo mau caminho corre todos os perigos desse caminho. Um Espírito, por exemplo, pode pedir a riqueza e esta ser concedida; então, de acordo com seu caráter, poderá tornar-se avarento ou pródigo, egoísta ou generoso, ou se entregar a todos os prazeres da sensualidade; mas isso não quer dizer que tenha que passar forçosamente por todas essas tendências.
262 Como pode o Espírito em sua origem, simples, ignorante e sem experiência, escolher uma existência com conhecimento de causa e ser responsável por essa escolha?
– Deus supre sua inexperiência ao traçar-lhe o caminho que deve seguir, como o fazeis com uma criança desde o berço. Deixa-o, porém, livre para escolher, à medida que seu livre-arbítrio se desenvolve. É então que muitas vezes se extravia ao seguir o mau caminho, se não escuta os conselhos dos bons Espíritos; é o que se pode chamara queda do homem.
262 a Quando o Espírito usa seu livre-arbítrio, a escolha da existência corporal depende sempre de sua vontade, ou essa existência pode ser imposta pela vontade de Deus como expiação?
– Deus sabe esperar: não apressa a expiação. No entanto, perante a Lei, um Espírito pode ter uma encarnação compulsória quando, por sua inferioridade, ou má vontade, não está apto a compreender o que lhe poderia ser mais útil e quando essa encarnação pode servir à sua purificação e adiantamento, ao mesmo tempo que lhe sirva de expiação.
263 O Espírito faz sua escolha imediatamente após a morte?
– Não, muitos acreditam na eternidade das penas e, como já foi dito, pensar assim representa para eles um castigo. (Veja a questão 101).
264 Como o Espírito escolhe as provas que quer suportar?
– Ele escolhe as que podem ser para ele uma expiação, pela natureza de seus erros, e lhe permitam avançar mais rapidamente. Uns podem, ao escolher, se impor uma vida de misérias e privações para tentar suportá-la com coragem; outros querem se experimentar nas tentações da riqueza e do poder, muito perigosas, pelo abuso e o mau uso que delas se possa fazer e pelas paixões inferiores que desenvolvem; outros, enfim, preferem se experimentar nas lutas que têm que sustentar em contato com o vício.
265 Se alguns Espíritos escolhem o contato com o vício como prova, há aqueles que o escolhem por simpatia e desejo de viver num meio conforme seu gosto, ou para se entregar completamente às tendência materiais?
– Há, sem dúvida. Mas só fazem essa escolha os que têm o senso moral ainda pouco desenvolvido; a provação está em viver a escolha que fizeram e a sofrem por longo tempo. Cedo ou tarde, compreenderão que a satisfação das paixões brutais traz conseqüências deploráveis, e o sofrimento lhes parecerá eterno. Poderão permanecer nesse estado até que se tornem conscientes da falta em que incorreram, e então eles mesmos pedem a Deus para resgatá-las em provas libertadoras.
266 Não parece natural escolher as provas menos dolorosas?
– Para vós, sim; para o Espírito, não. Quando se está liberto da matéria, a ilusão cessa e a forma de pensar é outra.
O homem na Terra, sob a influência das idéias terrenas, vê nas suas provas apenas o lado doloroso. Por isso lhe pareceria natural escolher as que, em seu ponto de vista, pudessem se conciliar com os prazeres materiais. Porém, na vida espiritual, compara esses prazeres ilusórios e grosseiros com a felicidade inalterável que percebe, e, então, nenhuma importância dá aos sofrimentos passageiros da Terra. O Espírito pode, em vista disso, escolher a prova mais rude e, conseqüentemente, a mais angustiosa existência, na esperança de atingir mais depressa um estado melhor, como o doente escolhe muitas vezes o remédio mais desagradável para se curar mais depressa. Aquele que deseja ver seu nome ligado à descoberta de um país desconhecido não escolhe um caminho florido; sabe dos perigos que corre, mas também sabe da glória que o espera se for bem-sucedido.
A doutrina da liberdade na escolha de nossas existências e das provas que devemos suportar deixa de causar espanto ou surpresa, se considerarmos que os Espíritos livres da matéria apreciam as coisas de maneira diferente da nossa. Percebem que há um objetivo, bem mais sério do que os prazeres ilusórios do mundo e, após cada existência, vêem o passo que deram e compreendem o que ainda lhes falta de pureza para atingi-lo. Eis por que se submetem voluntariamente a todas as alternâncias e às dificuldades da vida corporal, pedindo, eles mesmos, aquelas que lhes permitam alcançar mais prontamente o objetivo a que almejam. Não há, portanto, motivo de estranheza no fato de o Espírito não escolher uma existência mais suave. No estado de imperfeição em que se acha, o Espírito não pode querer uma existência feliz, sem amargura; ele a pressente e antevê, e é para atingi-la que procura melhorar-se.
Não temos, aliás, todos os dias, perante os olhos, exemplos de experiências parecidas? O que faz o homem que trabalha uma parte de sua vida, sem trégua nem descanso, para reunir posses que lhe garantam o bem-estar, senão uma tarefa que se impôs tendo em vista um futuro melhor? O militar que se arrisca numa missão perigosa, o viajante que enfrenta os maiores perigos no interesse da ciência ou de sua fortuna; o que isso representa, senão provas voluntárias que lhes devem proporcionar honra e proveito, se forem bem-sucedidos? A que não se submete e não se expõe o homem por seu interesse ou glória? Os concursos não são também provas voluntárias às quais se submete, para se elevar na carreira que escolheu? Não se chega a uma posição importante, qualquer que seja, nas ciências, nas artes, na indústria, senão passando por posições inferiores que são também provas. A vida humana é uma cópia da vida espiritual, na qual encontramos, em escala pequena, todas as mesmas peripécias. Se, na vida terrestre, escolhemos freqüentemente as provas mais rudes, visando a um objetivo mais elevado, por que o Espírito, que vê mais longe e para quem a vida terrestre é apenas um incidente passageiro, não escolheria uma existência laboriosa e de renúncia, sabendo que ela deve conduzi-lo a uma felicidade eterna? Aqueles que dizem que, se o homem tem o direito de escolha de sua existência, pediriam para ser príncipes ou milionários são como míopes, que vêem apenas o que tocam, ou como crianças gulosas, às quais, quando se pergunta que profissão pretendem, respondem: pasteleiros ou confeiteiros.
Como um viajante que, no fundo do vale embaçado pelo nevoeiro, não vê a distância, nem os pontos extremos de seu caminho; mas, uma vez chegado ao cume da montanha, divisa o caminho que percorreu e o que lhe resta percorrer; vê seu objetivo, os obstáculos que ainda tem a transpor e pode, então, planejar com mais segurança os meios para atingi-lo. O Espírito encarnado é semelhante ao viajante no fundo do vale. Liberto dos laços terrestres, sua visão tem o completo domínio da sua destinação, como aquele que está no cume da montanha. Para o viajante, o objetivo é o repouso após o cansaço; para o Espírito, é a felicidade suprema após as dificuldades e as provas.
Todos os Espíritos dizem que, na espiritualidade, pesquisam, estudam e observam para fazer sua escolha. Não temos um exemplo desse fato na vida corporal? Não procuramos freqüentemente, durante anos, a carreira em que fixamos livremente nossa escolha, por acreditarmos ser a mais apropriada para fazermos nosso caminho? Se fracassamos numa, escolhemos outra. Cada carreira que abraçamos é uma fase, um período da vida. Cada dia não é empregado para planejar o que faremos no dia seguinte? Portanto, o que são as diferentes existências corporais para o Espírito senão etapas, períodos, dias de sua vida espírita, que é, como sabemos, sua vida normal, uma vez que a corpórea é apenas transitória e passageira?
267 O Espírito pode escolher suas provas, quando já encarnado?
– Seu desejo pode ter influência, dependendo da intenção com que as deseja; mas, como Espírito, vê freqüentemente as coisas muito diferentes. É apenas o Espírito que faz a escolha; mas, afirmamos mais uma vez, é possível. Ele pode fazê-la na vida material, porque para o Espírito há sempre momentos em que fica independente da matéria que habita.
267 a Muitas pessoas desejam poder e riqueza; não é, certamente, como expiação ou como prova?
– Sem dúvida, é o instinto material que as deseja para delas desfrutar; já o Espírito as deseja para conhecer todas as alternativas que elas oferecem.
268 Até que atinja o estado de pureza perfeita, o Espírito tem que passar constantemente por provas?
– Sim, mas não são como as entendeis, visto que chamais de provas às adversidades materiais. Porém, o Espírito que atingiu um certo grau, sem ser ainda perfeito, nada mais tem a suportar; embora sempre tenha deveres que o ajudam a se aperfeiçoar, e que nada têm para ele de constrangedor ou angustiante, ainda que seja para ajudar os outros a se aperfeiçoar.
269 O Espírito pode se enganar sobre a eficácia da prova que escolheu?
– Ele pode escolher uma que esteja acima de suas forças e, então, fracassar. Pode também escolher alguma que não lhe dê nenhum proveito, que resulte numa vida ociosa e inútil; mas, então, uma vez de volta ao mundo dos Espíritos, percebe que nada ganhou e pede para reparar o tempo perdido, numa outra encarnação.
270 A que se devem as vocações de certas pessoas e seu desejo de seguir uma carreira em vez de outra?
– Parece-me que vós mesmos podeis responder a essa questão.Não é a conseqüência de tudo o que dissemos sobre a escolha das provas e o progresso realizado nas existências anteriores?
271 Ainda na espiritualidade, o Espírito, ao estudar as diversas condições em que poderá progredir, como pensa poder fazê-lo ao nascer, por exemplo, entre os povos canibais?
– Espíritos já avançados não nascem entre canibais. Entre eles nascem Espíritos com a natureza dos canibais, ou que lhe são até inferiores.
Sabemos que os antropófagos3 não estão no último grau da escala evolutiva e que há mundos onde o embrutecimento e a ferocidade ultrapassam em tudo o que conhecemos na Terra. Esses Espíritos que lá habitam são ainda inferiores aos mais inferiores de nosso mundo, e nascer entre os nossos selvagens é para eles um progresso, como seria um progresso para os antropófagos do nosso globo exercer entre nós uma profissão que os obrigasse a derramar sangue4. Se não alcançam o mais alto é porque sua inferioridade moral não lhes permite compreender um progresso mais completo. O Espírito não pode avançar senão gradualmente; não pode transpor de um salto a distância que separa a barbárie da civilização, e é aí que vemos uma das necessidades da reencarnação, que está verdadeiramente de acordo com a justiça de Deus. De outro modo, em que se tornariam esses milhões de seres que morrem a cada dia no último estado de degradação, se não possuíssem os meios de atingir a superioridade? Por que Deus os deserdaria dos favores concedidos aos outros homens?
272 Espíritos vindos de um mundo inferior à Terra ou de um povo muito atrasado, como os canibais, por exemplo, poderiam nascer entre os povos civilizados?
– Sim, há os que se desencaminham ao querer subir muito alto. Ficam desajustados entre vós, porque possuem costumes e instintos que não se afinam com os vossos.
Esses seres nos dão o triste espetáculo da ferocidade em meio à civilização. Ao retornar renascendo entre os canibais, não sofrem uma queda, uma degradação, apenas voltam aos seus lugares e com isso talvez até ganhem.
273 Um homem que pertence a uma raça civilizada poderia, por expiação, reencarnar em uma raça selvagem?
– Sim, mas isso depende do gênero da expiação. Um senhor que tenha sido cruel com seus escravos poderá tornar-se escravo por sua vez e sofrer os maus-tratos que fez os outros suportar. Aquele que um dia comandou poderá, em uma nova existência, obedecer até mesmo àqueles que se curvaram à sua vontade. É uma expiação que lhe pode ser imposta, se abusou de seu poder. Um bom Espírito também pode escolher uma existência em que exerça uma ação influente e encarnar dentre povos atrasados, para fazer com que progridam, o que, neste caso, é para ele uma missão.