SANTO AGOSTINHO
Paris, 1863
Paris, 1863
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– Vossa terra é por acaso um lugar de alegrias, um paraíso de delicias?
A voz do profeta não soa ainda aos vossos ouvidos? Não clamou ele que
haveria choro e ranger de dentes para os que nascessem neste vale de
dores? Vós que nele viestes viver, esperai portanto lágrimas ardentes e
penas amargas, e quanto mais agudas e profundas forem as vossas dores,
voltai os olhos ao céu e bendizei ao Senhor, por vos ter querido provar!
Oh, homens! Não reconhecereis o poder de vosso Senhor, senão quando ele
curar as chagas de vosso corpo e encher os vossos dias de beatitude e
de alegria? Não reconhecereis o seu amor, senão quando ele adornar vosso
corpo com todas as glórias, e lhe der o seu brilho e o seu alvor?
Imitai aquele que vos foi dado para exemplo. Chegado ao último degrau da
abjeção e da miséria, estendido sobre um monturo, ele clamou a Deus:
“Senhor! Conheci todas as alegrias da opulência, e vós me reduzistes a
mais profunda miséria! Graças, graças, meu Deus, por tendes querido
provar o vosso servo”! Até quando os vossos olhos só alcançarão os
horizontes marcados pela morte? Quando, enfim, vossa alma quererá
lançar-se além dos limites do túmulo? Mas ainda que tivésseis de sofrer
uma vida inteira, que seria isso, ao lado da eternidade de glória
reservada àquele que houver suportado a prova com fé, amor e resignação?
Procurai, pois, a consolação para os vossos males no futuro que Deus
vos prepara, e vós, os que mais sofreis, julgar-vos-eis os
bem-aventurados da Terra.
Com
desencarnados, quando vagáveis no espaço, escolhestes as vossas prova,
porque vos consideráveis bastantes fortes para suportá-la. Por que
murmurais agora? Vós que pedistes a fortuna e a glória, o fizestes para
sustentar a luta com a tentação e vencê-la. Vós, que pedistes para lutar
de alma e corpo contra o mal moral e físico; sabíeis que quanto mais
forte fosse a prova, mais gloriosa seria a vitória, e que, se saísseis
triunfantes, mesmo que vossa carne fosse lançada sobre um monturo, na
ocasião da morte, ela deixaria escapar uma alma esplendente de alvura,
purificada pelo batismo da expiação e do sofrimento.
Que
remédios, pois, poderíamos dar aos que foram atingidos por obsessões
cruéis e males pungentes? Um só é infalível: a fé, voltar os olhos para o
céu. Se, no auge de vossos mais cruéis sofrimentos, cantardes em louvor
ao Senhor, o anjo de vossa guarda vos mostrará o símbolo da salvação e o
lugar que devereis ocupar um dia. A fé é o remédio certo para o
sofrimento. Ela aponta sempre os horizontes do infinito, ante os quais
se esvaem os poucos dias de sombras do presente. Não mais nos
pergunteis, portanto, qual o remédio que curará tal úlcera ou tal chaga,
esta tentação ou aquela prova. Lembrai-vos de que aquele que crê se
fortalece com o remédio da fé, e aquele que duvida um segundo da sua
eficácia é punido, na mesma hora, porque sente imediatamente as
angústias pungentes da aflição.
O
Senhor pôs o seu selo em todos os que crêem nele. Cristo vos disse que a
fé transporta montanhas. Eu vos digo que aquele que sofre e que tiver a
fé como apoio, será colocado sob a sua proteção e não sofrerá mais. Os
momentos mais dolorosos serão para ele como as primeiras notas de
alegria da eternidade. Sua alma se desprenderá de tal maneira de seu
corpo, que, enquanto este se torcer em convulsões, ela pairará nas
regiões celestes, cantando com os anjos os hinos de reconhecimento e de
glória ao Senhor.
Felizes os que sofrem e choram! Que suas almas se alegrem, porque serão atendidas por Deus.
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