As histórias que chegam até nós a respeito do Umbral mostram um local de
sofrimento como dificilmente podemos imaginar. Para falar mais sobre o assunto e
esclarecer alguns pontos, conversamos com o médium e escritor Alceu Costa Filho,
que vem publicando seus livros pela Petit Editora.
Natural de Bicas, Minas Gerais, o médium Alceu Costa Filho não apenas tem
psicografado vários livros, mas também é capaz de realizar efeitos mediúnicos de
natureza física, entre eles a materializaçào de espíritos. Foi por orientação de
seus mentores espirituais que passou a se dedicar com exclusividade ao seu lado
intelectual.
A mediunidade já foi percebida na adolescência e, segundo ele explica, não
lhe faltou apoio da família. Foi nessa época que Alceu viajou com um amigo até
Pedro Leopoldo, com o objetivo de conhecer Chico Xavier. Também teve a
oportunidade de entrar em contato com José Pedro de Freitas, mais conhecido como
Zé Arigó, que já chegou a ser conhecido como o médium de cura mais famoso do
Brasil. Incorporando o dr. Fritz, Arigó dirigiu-se a Alceu, incentivando-o a
prosseguir em seu caminho espiritual e dizendo-lhe para estudar. Os estudos e o
trabalho espiritual resultaram, em 1983, na fundação do Cenáculo Espírita
Fraternidade, em Belo Horizonte.
Alceu diz que os espíritos preparam-no para o trabalho de psicografia.
"Sempre trabalhei com a psicofonia, emprestando minha voz aos espíritos, e
recebendo, pela vidência e audiência, instruções e orientações, das quais sempre
me considerei apenas e tão-somente um simples mensageiro". A tarefa da
psicografia é seu objetivo fundamental, hoje. Já foi médium de efeitos físicos,
atividade permitida, segundo explica, pelas entidades misericordiosas. Mas a
mesma espiritualidade orientou-o no sentido de se afastar dessa linha de
atuação, concentrando-se na obra literária. "Eu sou aposentado", ele explica, "e
disponho, portanto, de tempo para me dedicar a essa tarefa, que realizo com
muito carinho e respeito pelos espíritos, todos os dias, a partir das seis e
quinze da manhã".
Ele diz que, no início, recebeu muitas mensagens, procurando orientação nas
pessoas que sempre considerou médiuns exemplares. No entanto, foi a própria
espiritualidade que se encarregou de motivá-lo e ampará-lo. "Eu vejo e ouço os
amigos do outro lado, e não posso deixar de registrar minha gratidão pelas
lições de vida que deles recebi. Os espíritos Filipe, Xisto Vinheiros, Cornélio
Pires e Nina Arueira são aqueles aos quais estou servindo de intermediário, no
momento".
O médium mineiro participou ativamente do movimento espírita mineiro e, hoje
em dia, realiza seu trabalho de mediunidade no grupo que ajudou a fundar,
realizando também tarefas de assistência social.
Várias linhas espirituais falam sobre um lugar de trevas, para onde
criaturas que desencarnam em situação de muita dor, ódio, suicídio, etc. acabam
indo. Como e quando surgiu a palavra Umbral no espiritismo?
Amplamente usada por André Luiz através da psicografia de Chico Xavier, hoje
faz parte da linguagem espírita para definir zonas de dor e sofrimento. Definida
nos dicionários (Aurélio) como: “Limiar da Entrada”, este sempre existiu como
conseqüência natural da mente humana. Na obra Nosso Lar encontramos, nas
palavras de Lísias: “O Umbral começa na crosta terrestre. É a zona obscura de
quantos no mundo não se resolveram atravessar as portas dos deveres sagrados a
fim de cumpri-los, demorando-se no vale da indecisão ou no pântano de erros
numerosos”.
Via de regra, até quanto tempo uma alma pode passar no Umbral? Em que
circunstâncias a alma pode ser resgatada e ir para uma dimensão mais elevada?
A) O tempo que sua consciência determinar.
B) A partir de seu despertar para as verdades eternas. Um espelho sujo não
pode refletir a luz.
O Umbral também possui vários planos de existência?
No Livro dos Espíritos, as questões 101 a 106 e seguintes, tratam bem
do assunto, explicando-nos as diferentes categorias de espíritos. Portanto, os
agrupamentos são determinados pelas afinidades vibratórias formando núcleos pela
concentração de tendências e desejos gerais. Compreendemos que cada criatura
vive daquilo que cultiva em qualquer dos planos da vida.
No livro Memórias de um Suicida nós temos um relato no mínimo
tétrico dessa região e dos espíritos que ali habitam. Alguns videntes dizem que
quem ali se encontra, muitas vezes não consegue enxergar espíritos consoladores,
de tão densos que são os seus corpos etéricos. O senhor poderia nos falar um
pouco sobre isso?
Allan Kardec, no Livro dos Espíritos, capítulo Ensino Teórico das
Sensações dos Espíritos, questão 257, cita: “Não possuindo órgãos
sensitivos, eles podem, livremente, tornar ativas ou nulas suas percepções". Uma
só coisa são obrigados a ouvir: os conselhos dos Espíritos bons. A vista, essa é
sempre ativa; mas eles podem fazer-se invisíveis uns aos outros. Conforme a
categoria que ocupem podem ocultar-se dos que lhes são inferiores, porém não dos
que lhes são superiores.
Muitos dizem que o Umbral é o pensamento global dos sofredores plasmado no
éter próximo à crosta da Terra. Isso é verdade?
Manoel Philomeno de Miranda, através da mediunidade de Divaldo, em Nas
Fronteiras da Loucura, assim o descreve: “Composta de elementos que me
escapavam, eram e são, no entanto, vitalizadas pelas sucessivas ondas mentais
dos habitantes do planeta, que de alguma forma sofrem-lhe a condensação
perniciosa”.
Existem espíritos além de qualquer possibilidade de resgate? É possível um
espírito, de tão maligno, ter sua centelha divina extinta para sempre ou então
reencarnar no corpo de um animal?
Seria negar a justiça divina. Todos nós, por momentos ou séculos,
atravessamos estas regiões. Todos fomos criados com o objetivo de evolução, e
sermos condenados a penas eternas ou retroagirmos por castigo, é negar os
princípios de amor e perdão pregados pelo Cristo. Na questão 194 do Livro dos
Espíritos encontramos: “A alma não pode regredir, afirmar ao contrário seria
negar a lei de progresso.”
Como se dá a reencarnação de espíritos que não conseguem sair do Umbral?
A questão 330 do Livro dos Espíritos nos responde: “A reencarnação é
então uma necessidade, assim como a morte é uma necessidade da vida corporal".
Ainda no Livro dos Espíritos, questão 1006, encontramos o ensinamento de
São Luís de que “ninguém é totalmente mau”. E em João, cap. 1 a 12: “Em verdade
vos digo, ninguém poderá ver o reino de Deus se não nascer de novo”. Cedo ou
tarde todos despertamos para a luz. Deus oferece a todos oportunidades iguais,
facultando a cada um o que melhor lhe aprouver, enquanto assim o deseja, dentro
do céus ou do inferno que construiu para si. Somos escravos de nossas culpas,
mas também construtores de nosso amanhã.
Qual dos seus livros trata mais de perto da existência do Umbral?
À Sombra da Luz.
Existe uma hierarquia entre os habitantes desse plano?
Sim, dentro das conquistas de cada um, de conformidade com os ideais que
alimentam.
Qual é o elo de ligação entre essas entidades?
Através da psicografia de Chico Xavier, em Ação e Reação, André Luiz
nos relata, no capítulo 19: “...situado entre dolorosa região de sombra
cultivada pelas mentes, em geral, rebelde e ociosa, desvairada e enfermiça.” Em
Nosso Lar, capítulo 12: “Lá vivem e agrupam-se os revoltados de toda
espécie, formam igualmente, núcleos invisíveis de notável poder, pela
concentração de afinidades comuns.”
É verdadeira a informação de que o plano umbralino envolve o nosso
planeta, num verdadeiro “cinturão” vibratório?
Em nossa busca pelo aprendizado, encontramos a palavra esclarecedora de
Manoel Philomeno de Miranda, em sua obra Nas Fronteiras da Loucura,
psicografado por Divaldo. No capítulo 19 lemos: “...percebi haver em torno da
Terra, faixas vibratórias concêntricas, que a envolviam, desde as mais
condensadas, próximas à esfera física, até as mais sutis, distanciadas do
movimento humano da crosta”.
É possível mencionar algumas das fraternidades que se dedicam a amparar e
a resgatar os espíritos que, se encontrando no Umbral, arrependem-se dos seus
erros, rogando a misericórdia de Deus?
Nossos amigos espirituais nos orientam que estes postos de socorro, núcleos
de atendimento e apoio são criados e sustentados por aqueles voltados ao bem que
já de há muito dispõem de condições para trabalho em esferas mais elevadas, no
entanto preferem servir na prática do amor onde a dor é mais aguda. Note-se que
nos referimos às equipes existentes no plano espiritual. Como são inúmeras e
evitando incorrer em erro, pois naturalmente omitiríamos, por esquecimento e por
desconhecê-las, muitas, preferimos não citar aquelas que são de nosso
conhecimento.
É recomendável vibrar ou fazer preces pelos espíritos que se encontram no
Umbral?
Jesus nos afirma através de Mateus, no capítulo 9, vers. 10 a 12 do
Evangelho Segundo o Espiritismo: “Não são os que gozam de saúde que precisam
de médico”. Veja-se ainda, no capítulo 27, questão 18 (prece pelos mortos e
espíritos sofredores): “... a prece tem sobre eles uma ação mais direta,
reanima-os, incute-lhes o desejo de se elevar pelo arrependimento e pela
reparação...”. Como espíritas, compreendemos ser a prece uma sublime
oportunidade de praticar a caridade.
Os espíritos em condição mais elevada transitam – se assim o desejarem –
pelas regiões umbralinas?
Na obra Ação e Reação, de André Luiz, encontramos no capítulo 15 a
descrição de uma destas muitas incursões feitas por aqueles que ali vão na
prática do serviço fraterno em nome de Jesus, o que nos faz compreender que em
parte alguma é escasso o amparo do Mais Alto.
Aqueles que lá se encontram conseguem influenciar os encarnados? Descreva,
se possível, como acontece essa influenciação.
Manoel Philomeno de Miranda descreve, através da psicografia de Divaldo, em
Nas Fronteiras da Loucura: “Em muitos desses sítios programam-se
atentados sórdidos contra os homens e elaboram-se atividades que objetivam a
extinção do bem, assim como a instalação do primado da força bruta no mundo.
Pelo processo de sintonia, desencarnados imantam-se àqueles que lhe são afins,
sempre conjugando os valores morais que os caracteriza”.
Os encarnados – em sonhos ou em desdobramentos – conseguem penetrar nessas
regiões sofredoras?
Buscamos no Livro dos Espíritos, capítulo 8, a questão 402, que
ilustramos a seguir: “... os espíritos dedicados ao bem, ao se libertar da
vestimenta carnal vão reunir-se a outros espíritos com os quais se instruem e
trabalham. Todavia, a massa de homens vai seja para regiões ou mundos inferiores
onde velhas afeições os evocam”.
O Vale dos Suicidas – citado por muitos espíritas – existe realmente?
Acreditamos que sim, pois a sintonia atrai as vibrações similares que
aproximam e vinculam as almas. Vive-se, portanto, em comunhão constante com
aqueles aos quais nos afinamos psiquicamente.
Existem trabalhos de desobsessão no Cenáculo Espírita Fraternidade para
auxiliar os espíritos que se encontram nas regiões umbralinas?
As reuniões de ajuda e esclarecimento a irmãos sofredores fazem parte da
rotina de atividades de nossa casa. As de desobsessão são realizadas atendendo
às orientações de nossos mentores, quando as julgam necessárias e se estivermos
aptos para tal.
O Umbral corresponderia ao Hades grego ou ao purgatório da Igreja
Católica?
A descrição de nossos mentores e irmãos espirituais, nas muitas obras que
tratam do assunto, nos levam a crer que sim. Citaremos para referência as obras
de André Luiz, através da psicografia de Chico Xavier, e ilustraremos com as
palavras de Manoel Philomeno de Miranda através de Divaldo, em Nas Fronteiras
da Loucura: “...colônias específicas por sua maldade construídas, nas quais
fazem supor tratar-se de purgatórios e infernos governados por verdadeiros
gênios do mal...”.
Fale sobre o seu último livro, que está sendo lançado pela Petit Editora.
Filipe nos relata com detalhes a formação de um posto de socorro junto às
sombras, descrevendo com riqueza de detalhes essas regiões de dor e sofrimento,
quando nos é dada ainda a oportunidade de conhecer um de seus lideres, à frente
de inúmeros seguidores. Todo o relato feito por nosso irmão se passa nestas
regiões de dor e sofrimento.
Finalize, Alceu, com uma mensagem para os leitores da revista Espiritismo
& Ciência.
Se nos fosse possível conhecer a extensão do nosso hoje, certamente
saberíamos melhor aproveitar as oportunidades que nos são ofertadas por Deus. O
Consolador prometido por Jesus veio em tempo certo, encontrando muitos já
prontos para assimilar seus princípios, enquanto outros ainda à margem da
estrada, insistem em manter-se ausentes dos compromissos que lhes cabem em sua
oportunidade de evolução. Outros ainda, ao se aproximarem da doutrina
consoladora, o fazem moldando-a a seu critério, esquecendo-se de que esta é a
única que pode encarar a razão face a face, em qualquer época da humanidade.
Portanto, como espíritas, cumpre-nos o dever de execução das palavras de Jesus,
que nos determina “Amar a Deus sobre todas a coisas e ao próximo como a nós
mesmos”, e o Espírito de Verdade nos fornece o direcionamento que é a luz, o
caminho correto para nos beneficiarmos da oportunidade de sermos espíritas
cristãos. “Espíritas, amai-vos, espíritas instrui-vos”; estes princípios são
imprescindíveis a qualquer ação que nos leve à conquista de nossa evolução.
Tornemo-nos, portanto, a ponte entre a dor e a esperança, a sombra e a luz do
esclarecimento, o pão e a fome, o ódio e o amor, encurtando as distâncias entre
nós e Jesus.
chttp://www.espirito.org.br/portal/publicacoes/esp-ciencia/003/umbral.html)
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